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Artigo / Exibição

13 Outubro 2017

Coisas e histórias escondidas na sua sala de cinema

Com justiça podemos dizer que o som é a metade do espetáculo

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A tela é o elemento que, por fornecer o visual do espetáculo, captura a atenção do espectador durante toda a exibição. Mas, ironicamente, por trás dela existem equipamentos imprescindíveis para a realização do show que permanecem ocultos. O cinema é uma arte audiovisual e justamente estes equipamentos ocultos fornecem a parte do áudio, sem o qual não teríamos o que entendemos por cinema. Ao longo dos últimos 90 anos da nossa indústria, o som tem crescido em importância e qualidade sem parar. Com justiça podemos dizer que ele é a metade do espetáculo.

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O sistema de som em uma sala de cinema é composto de vários elementos, dos quais hoje iremos tratar de um deles: as caixas que reproduzem o áudio dos canais da tela. Claro que existem outras caixas de som na sala, responsáveis por reproduzir o cada vez mais importante conteúdo surround e os sons de baixas frequências, mas nos ocuparemos delas em outra oportunidade.

As caixas por trás da tela não estão aí por acaso. Nos primórdios do cinema falado, só precisávamos de uma caixa que reproduzia todo o conteúdo do som. Fundamentalmente a voz dos atores, já que existe um vínculo entre o que vemos e ouvimos. Sendo “cinema falado”, a caixa tinha que estar no centro da tela. Paredes de gesso branco onde se formavam as imagens no cinema mudo precisaram ser substituídas por telas para colocar um alto-falante por trás. De aí seu nome em português: tela. Os avanços nos sistemas trouxeram mais caixas: outras duas para os canais estéreos esquerdos e direito, formando assim um trio. Os sistemas de tela larga lançados a partir de 1950 passaram a utilizar até cinco caixas na tela para que o campo sonoro correspondesse com a imagem. Ainda hoje em sistemas especiais se utilizam até cinco caixas, dos quais nos ocuparemos em colunas futuras.

Estas caixas de som têm uma tarefa difícil. Precisam reproduzir uma grande faixa de frequências, das graves até as agudas com potência suficiente e sem distorção. E tem ainda outro desafio: garantir que a maior parte da plateia, larga e funda, seja “iluminada” pelo som em todas as frequências audíveis. Diferente do que acontece com as caixas que utilizamos em casa ou no carro porque estas tocam para um recinto pequeno.

Atender todas estas exigências simultâneas não foi nada fácil para a indústria do cinema falado. Por sorte, dois engenheiros muito talentosos, C.R. Hanna e J. Slepian em 1924 já tinham inventado um sistema que resolveu grande parte do desafio, incorporado aos cinemas na década dos 30 e largamente utilizados até hoje, já aperfeiçoado: o assim chamado “driver de compressão” que funciona em conjunto com uma corneta, cujo projeto é muito difícil e ainda hoje em desenvolvimento. Outros melhoraram o sistema nas décadas dos 30 e dos 50.  Mas as cornetas sozinhas não resolvem o problema, já que, para reproduzir as frequências mais graves, seria necessário que tivessem tamanhos monstruosos, inviáveis. A solução é dividir a tarefa, os sons mais graves se enviam para vários alto-falantes adicionais, entre um e três, que com tamanhos razoáveis, dão conta do recado. E isto é necessário para cada canal da tela. Existem atualmente outras técnicas para resolver o problema, mas a ideia original da corneta é de longe a mais utilizada.

Então, quando iniciar a próxima sessão, pense que há muita tecnologia e uma longa história escondida na sua sala de cinema.

Carlos Klachquin
Carlos Klachquin | CBK@dolby.com

Carlos Klachquin é gerente da DBM Cinema Ltda, empresa de serviços, projetos e consultoria na área de produção e exibição cinematográfica. Formado como engenheiro eletrônico fornece suporte de engenharia em tecnologias de áudio, entre outras empresas, para Dolby Laboratories Inc, sendo responsável também pela administração de operações vinculadas à produção Dolby de cinema e ao licenciamento das mesmas na América Latina. Desde 2013, trabalha na implementação do programa Dolby Atmos na América Latina, incluindo a supervisão da instalação e a regulagem dos sistemas em cinemas e estúdios e da produção de som Atmos no Brasil.

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