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Artigo / Tecnologia

22 Dezembro 2017

A sala ao lado está sendo bombardeada

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A introdução do som digital, ainda no tempo da película, permitiu a sua expansão em vários sentidos, entres eles o número de canais, a resposta em frequência e o nível de potência disponível. Inclusive, foi inventado o “ponto um”, o qual já foi incorporado na nossa linguagem diária, quando ouvimos falar de formatos 5.1 ou 7.1, mesmo sem saber direito de que trata.    



Na natureza, os sons de baixa frequência, ou seja, graves, e de grande intensidade têm um forte efeito alarmante sobre humanos e animais, pois geralmente estão associados a eventos perigosos, tais como trovões ou com deslocamento de grandes massas de material como acontece durante terremotos, desabamentos, trombas d’água, explosões etc. O que resulta muito interessante se utilizados com fins dramáticos. Por esse motivo, a indústria cinematográfica aproveitou a nossa parte atávica e animal e incorporou um canal especial ao conteúdo do som que reproduz estas frequências, especificamente até 120 Hz.  Este canal dedicado tem uma grande capacidade de potência, em torno de dez vezes a energia presente em qualquer um dos outros cinco ou sete canais disponíveis, suficiente para chacoalhar poltronas, saias e calças.

Como em princípio quando jovens temos capacidade de ouvir frequências de até 20.000 Hz, este limite de 120 Hz entrou na descrição dos formatos como “ponto um”, para abreviar. E assim temos 5.1 e 7.1 Tecnicamente este canal é chamado de LFE, em inglês “Low Frequency Effects”.

Mas tudo tem seu preço e coisas novas geram problemas novos. Antigamente as salas de cinema estavam sozinhas na rua. O modelo de negócio mudou e hoje todo cinema é um complexo de múltiplas salas. A maximização do aproveitamento do espaço, obriga a colar uma sala a outra. E sempre há transmissão de som entre elas.

Quando o som exterior a uma sala se torna perceptível dentro dela, esta perturbação é um incômodo para o espectador, especialmente nos trechos em que o filme tem um som mais sutil. O auditório é uma fábrica de mundos imaginários e precisa ser um santuário, livre de interferências. As altas potências do som utilizadas hoje tornam este um problema sério, especialmente nas baixas frequências, que se atenuam menos que as altas. E ainda por cima, como mencionei antes, o LFE tem dez vezes mais potência que os outros canais. O espectador pode pagar para ver um filme, mas escuta três ou quatro. 

Este é um problema muito frequente nos cinemas. A capacidade de uma sala de isolar sons interferentes provindos de fora é chamado de “isolamento acústico”. Existem soluções muito eficientes para este problema, mas é recomendável que sejam aplicadas na fase de projeto e construção do complexo, onde têm um impacto financeiro menor.

Resolver depois é possível, mas dispendioso e demorado, já que envolve aspectos que vão desde modificar os muros, a vedação do teto, o projeto do ar-condicionado etc., tudo a ver com a própria infraestrutura do complexo. Por isso, quando considerado durante a construção, o impacto é mínimo. O interessante é que o isolamento acústico funciona em ambos os sentidos. Ao isolar o auditório das interferências externas, também o tornamos menos interferente para as salas contíguas. O isolamento dificultará que a energia acústica vaze para o exterior. 

Como conclusão, devemos reconhecer que há dois fatores antagônicos: a tecnologia atual do som e o conteúdo exibido incluem altos níveis de potência acústica, já que o próprio exibidor e o produtor têm interesse em maximizar a experiência do espectador. E por outra parte, é comum que as construções dos cinemas não considerem apropriadamente o necessário isolamento acústico, que atenta contra a própria experiência de ir ao cinema.  Mas a boa notícia é que existe solução para esse problema.

Carlos Klachquin
Carlos Klachquin | CBK@dolby.com

Carlos Klachquin é gerente da DBM Cinema Ltda, empresa de serviços, projetos e consultoria na área de produção e exibição cinematográfica. Formado como engenheiro eletrônico fornece suporte de engenharia em tecnologias de áudio, entre outras empresas, para Dolby Laboratories Inc, sendo responsável também pela administração de operações vinculadas à produção Dolby de cinema e ao licenciamento das mesmas na América Latina. Desde 2013, trabalha na implementação do programa Dolby Atmos na América Latina, incluindo a supervisão da instalação e a regulagem dos sistemas em cinemas e estúdios e da produção de som Atmos no Brasil.

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