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Artigo / Exibição

14 Setembro 2018

Histórias do cinema e de cinemas - Niterói

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Niterói foi, até 1975, capital do Estado do Rio de Janeiro, enquanto a “cidade maravilhosa” era capital federal e, posteriormente, capital da Guanabara. A proximidade com a cidade do Rio de Janeiro foi uma característica marcante de Niterói, que se desenvolveu a sua sombra e, em certa medida, acompanhando suas mudanças ou sofrendo o efeito de suas transformações – inclusive no que diz respeito à história de suas salas de cinema.

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Enquanto o Rio de Janeiro possuía a Avenida Central, construída no início do século XX nos moldes dos bulevares parisienses, Niterói tinha sua Avenida Visconde de Rio Branco. Foi nessa grande e movimentada via na parte central da cidade que surgiram as primeiras e mais importantes salas fixas para a exibição de filmes em Niterói, como o Cine Royal (1910) ou o Cine Éden (1912).

Antiga Rua da Praia, a Av. Visconde de Rio Branco ficava de frente para a Baía de Guanabara e para o Rio de Janeiro, sendo o ponto de partida e chegada para a Capital Federal pelo transporte marítimo. A inauguração da nova estação das barcas, em 1908, foi parte do processo de melhoria e embelezamento urbano pelo qual passou Niterói. Essa remodelação prosseguiu, por exemplo, com a construção do luxuoso Hotel Imperial, que tinha em seu térreo o Cine-Theatro Imperial (1928), o primeiro “palácio de cinema” da cidade.

A proximidade com o Rio e um grande público de classe-média garantiram que Niterói assumisse alguns pioneirismos. Foi a terceira cidade do país a conhecer o cinema sonoro, por exemplo, com a inauguração de aparelhagem RCA em 3 de setembro de 1929 no já citado Cine Imperial, da Empresa Paschoal Segreto.

Nos anos seguintes, o circuito de Niterói cresceu para as regiões residenciais, sobretudo Icaraí, bairro praiano que se desenvolveu nos moldes de Copacabana. O Hotel Cassino Icaraí, situado num belo prédio art déco de 1939, passou a ter dois cinemas após a proibição do jogo. Hoje o prédio é sede da Universidade Federal Fluminense, que mantém o Cine Arte UFF, sala de perfil cinéfilo que completa cinquenta anos em 2018.

No mesmo bairro, foi inaugurado o Cine Icaraí (1945), posteriormente cinema lançador do circuito Severiano Ribeiro na cidade. O cinema está fechado desde 2006, mas foi comprado pelo poder público, aguardando restauração.

Além das salas de rua, Icaraí conheceu, a partir dos anos 1970, cinemas em galerias comerciais, precursoras dos cinemas de shopping, como o Cine Center (1975), o Cinema 1 (1975) e o Cine Windsor (1984). Na Região Oceânica de Niterói, chegou a existir o Itaipu Cine Drive-in. Entre os anos 1980 e 2000, devido à crise no mercado ou à valorização imobiliária, muitas salas de cinema de Niterói foram fechando. Vale mencionar o Cine São Jorge e o Cine Alameda, no bairro do Fonseca, ambos com mais de 2 mil lugares e construídos na década de 1950 e fechados na década de 1980.

Os cinemas de shopping chegaram à cidade já em 1987, primeiro no Niterói Shopping e, cinco anos depois, no Plaza Shopping. Hoje, além do Cine Arte UFF, Niterói conta com complexos das redes Kinoplex, Cinemark e Planet Cinema nos três principais shoppings da cidade, além do recente conjunto de salas da Reserva Cultural, que se instalou em prédio público projetado por Oscar Niemeyer. Desse modo, a cidade hoje tem o maior número de telas de sua história, embora o número de assentos tenha se reduzido em relação ao auge nos anos 1950.

Rafael de Luna
Rafael de Luna | ufflupa@gmail.com

Professor e pesquisador de história do cinema brasileiro da Universidade Federal Fluminense

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