Exibidor

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Artigo / Futuro

30 Novembro 2018

Limitação em 30% do número de salas é o caminho?

A IN 117 é apenas uma máscara de uma política errônea de expansão do parque exibidor

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Em matéria do Portal Exibidor nesta semana, foi confirmado que o Tribunal Regional da 3ª Região anunciou a suspensão do atual modelo da cota suplementar (IN 117 - Ancine) que limita em 30% o número de salas de cinema de um mesmo complexo que podem exibir o mesmo filme.



Desde que a digitalização começou – tanto na produção quanto na exibição – tem-se visto uma escalada astronômica de números de títulos lançados semanalmente. São tantos títulos que em muitas vezes até mesmo agentes do mercado se perdem com datas e estratégias de programação.

É fato de que há uma limitação gigantesca entre quantidade de conteúdo e oferta de telas. Mas no caso do Brasil, o problema é bem mais embaixo. Enquanto que nos EUA um grande lançamento ocupa no máximo 15% de todas as salas do país, aqui, um grande lançamento tomaria conta de mais de 50% das salas facilmente. Eis que aparece a mão de ferro da Ancine.

A IN 117 é apenas uma máscara de uma política, na minha opinião, errônea de expansão do parque exibidor que já dura quase 20 anos.

Desde que a Ancine tomou forma no fim do governo FHC (17 anos atrás), a missão na área de exibição cinematográfica sempre foi a mesma: “quanto mais cinema melhor, não importa onde”. Para eles, se tivéssemos hoje 10 mil salas em 10 mil localidades diferentes seria missão cumprida. Enquanto continuarem promovendo esta política, só estarão contribuindo para aumentar o desentendimento entre produtores, distribuidores e exibidores. 

A diversidade de programação não depende exclusivamente do exibidor. Ele apenas toma as decisões de acordo com as necessidades de seu fluxo de caixa - algo muito escasso nos dias atuais. Como é que alguém pode exigir que um supermercado não venda um produto em excesso?

Para um mercado mais saudável, o mais racional é "quanto mais sala POR COMPLEXO melhor". Se não mudarmos esta política, iremos chegar a 7 mil salas em um futuro próximo e continuar lançando blockbusters que ocupam mais de 50% do parque exibidor. E o pior, grandes conteúdos de qualidade comercial média perderão interesse da janela de cinema e entregarão de mão beijada para os canais de streaming. Conteúdos estes que sustentam o cinema em época de vacas magras.

Para mudar isso a médio ou longo prazo, a Ancine precisa agir rápido e sair da política de incentivar a criação de mais salas de cinema sem qualquer critério. Políticas de incentivo para complexos com 5 ou mais salas, expansão de número de salas em complexos já existentes e acabar com a dependência de shoppings centers deveriam ser pautas prioritárias da agência.

Até filmes grandes sofrem com isso. É de chorar em ver e ouvir pequenos exibidores obrigados a retirar filmes com renda boa em detrimento de outro maior chegando. Meses depois, ele não tem qualquer filme com potencial de venda de ingressos e fica com suas salas vazias.

Próximo ano, somente em janeiro, os cinemas recebem Wifi Ralph (Disney), Homem-Aranha: Aranhaverso (Sony), Máquinas Mortais (Universal), Vidro (Disney), Como Treinar Seu Dragão 3 (Universal) e Creed II (Warner).  Como um complexo de 1, 2 ou 3 salas de cinema – caso de 47% do parque exibidor nacional – conseguirá exibir todos estes potenciais produtos de sucesso e ainda ter que dar espaço a conteúdos nacionais?

Enfim, exibidores deixam de exibir mais, distribuidores deixam de lançar mais, produtores cada vez mais refém do Netflix e o mercado como um todo deixa de gerar mais negócios, conteúdos e diversidade cultural para a tela grande.

Marcelo Lima
Marcelo Lima | marcelo.lima@tonks.com.br

Marcelo J. L. Lima é fundador e CEO da Tonks, empresa responsável pela Expocine, Portal Exibidor e Cine Marquise. Analista na indústria de cinema, Marcelo Lima também presta serviços de consultoria no setor.

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