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23 Abril 2019 | Renata Vomero

Diretor da Netflix revela maior desafio em se produzir conteúdo hoje

Ted Sarandos esteve em palestra na Faap nesta segunda-feira

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(Foto: Portal Exibidor)

Nesta terça-feira (22), Ted Sarandos, diretor executivo de conteúdo da Netflix, participou de uma conversa na Faap, Fundação Armando Alvares Penteado em São Paulo, com a presença de Chris Sanagustin, diretora de conteúdos internacionais originais do Brasil. Com o teatro lotado de jovens estudantes da universidade, Sarandos direcionou seu discurso para o hábito de consumo dos brasileiros na plataforma.

Sendo o país um dos maiores públicos da empresa, Sarandos ressaltou o quanto a audiência brasileira é apaixonada e responsável por ter levado a empresa primeiramente para a América Latina do que para outros continentes como a Europa. O escritório da Netflix em São Paulo foi aberto em 2014 e desde então diversas produções nacionais vem ganhando o investimento da companhia, caso de 3%, Samantha, O Mecanismo e a recém-lançada Coisa Mais Linda. “O Brasil é um mercado grande, um país enorme. O público aqui é muito jovem, então, temos uma grande audiência.”

“O brasileiro gosta muito desse mercado de entretenimento e tem um gosto muito interessante. Algumas produções não fazem tanto sucesso fora, como aqui. É o caso de Orange Is The New Black. Outra questão é que normalmente as pessoas querem ver conteúdo local, mas no Brasil é diferente, aqui as pessoas querem ver conteúdo do mundo todo. La Casa de Papel faz mais sucesso aqui do que em países de língua espanhola, por exemplo” revelou o executivo. No entanto, apesar de querer investir mais em produções nacionais, promete inclusive bons anúncios agora na Rio2C, Sarandos enfatizou as dificuldades burocráticas para conseguir tais filmagens. “Almocei com José Padilha para ele tentar me explicar o processo de produção no Brasil: o almoço durou cinco horas (risos)”.

A questão do conteúdo foi bastante abordada na conversa, já que Sarandos é o nome por trás do grande sucesso do streaming. Ele dá um pouco do segredo de sua curadoria: “Uma história bem contada, é isso o que basta. Se tiver uma história humana, independente do gênero e localização, as pessoas vão amar”. Enfatizando a ideia de ter produções locais, com mais diversidade, mas que abranjam temáticas que sejam de identificações de todos.   

O maior desafio, para o executivo, para se produzir conteúdo hoje em dia é a questão da diversidade e da inclusão. Já que a Netflix, por ser uma empresa tão grande, acaba por ter grandes responsabilidades quanto a isso. “O público quer se ver, quer representatividade”. Ele garante ainda que a empresa conta com diversidade também fora das telas e das produções. “Minha equipe de programação, programa conteúdo para o mundo todo. Se você programa para o mundo, você quer uma equipe que se pareça com ele”.

Sobre as transformações que a Netflix fez na forma de se consumir conteúdo, para Sarandos, a maior delas foi possibilitar o público de fazer as famigeradas maratonas e não precisar mais esperar uma semana para o lançamento de um episódio. “Isso foi quase que um acidente, começou com House of Cards. Percebemos que se gastava muito tempo recapitulando o episódio anterior e com propagandas, isso tem custos e faz perder o público. Ao eliminarmos isso, ganhamos ao menos 20 minutos de narrativa, que enriquece muito a história. Aí as pessoas começam a maratonar. Acontece como nós brincamos: just one more!”.

A Netflix é alvo de muitas críticas acerca de sua abundância de conteúdo e o quanto isso faz ter uma certa perda na qualidade das produções. “As pessoas precisam entender que nem tudo o que está ali é para elas. Pessoas do mundo todo assistem às nossas produções, pessoas com os gostos mais diversos. Se eu não consigo chegar a um consenso quanto ao que assistir com a minha esposa em casa, imagine entre as pessoas do mundo inteiro”, ele brincou. Ainda assim, o executo garantiu que o uso de dados da empresa não é feito para direcionar as narrativas, apenas para pensar em estratégias para se alcançar os públicos. “Nossa forma de pensar conteúdo é na qualidade e apenas isso. Não mudamos roteiros, não influenciamos em escalações de elenco”, ele finaliza.

CinemaCon

Durante a edição do evento neste ano, um painel abordou a importância da diversidade e regionalidade de conteúdos nas salas de cinema. Não demorou muito para a questão do streaming ser colocada à mesa, já que a Netflix, por exemplo, é precursora neste quesito. "Acho que o streaming está trabalhando melhor essa questão do conteúdo local. Um exemplo é a série Narcos, que ficou muito famosa nos EUA. Com a Netflix, a audiência pode ficar mais acostumada a assistir a outros conteúdos", afirmou Paul Presburger, CEO da produtora Pantelion Films.

Apesar de o streaming não ser bem recebido entre os profissionais tradicionais do mercado, todos concordaram que ele pode ajudar nesta questão de abrir as portas para produções de outros lugares. “Os competidores estão abrindo a fronteira, assim como os eventos locais”, acrescentou Ray Strache, vice-presidente executivo de aquisições globais e co-produções da 20th Century Fox/Fox Searchlight.

Parece que esse momento de diversidade tanto nas telas, quanto fora delas, com filmes vindo de lugares que antes não contavam com essa visibilidade, é visto pelos profissionais como uma oportunidade e uma prova de que essas narrativas funcionam. “Como exibidor, o que está acontecendo é que os estrangeiros estão provando que há talentos locais que devemos procurar e apoiar, e a Netflix tem feito isso. Também temos que pensar nas nossas estrelas locais”, complementou Miguel Mier, COO da Cinépolis. “O mercado é muito grande, temos que olhar além dos que estão liderando”, finalizou.

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