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03 Junho 2016 | Vanessa e Verônica

Momento da América Latina pode ser de mudança do ciclo político

Seminário aborda política latino-americana e produtora da região fala ao Portal Exibidor sobre sua área de cinema

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(Foto: Guia Local)

De maneira geral, observa-se uma tendência de aproximação entre esses países, em todas as esferas. No campo do cinema, isso é perceptível pelos editais de coprodução que têm surgido. A ANCINE, por exemplo, acabou de divulgar um resultado. Além disso, no fim de maio, o Cineramabc – Festival Internacional de Cinema em Balneário Camboriú, anunciou que dedicará a próxima edição do seu encontro às coproduções latino-americanas.



Nesse cenário, outros países também estão interessados nos filmes produzidos no território. Este ano, o documentário Cinema Novo, de Eryk Rocha, ganhou o Olho de Ouro no Festival de Cannes. Recentemente, a Suíça também demonstrou interesse em investir na América Latina. Esta semana, também foi divulgado que o projeto boliviano Loba foi selecionado para o Ikusmira Berriak, um programa de incentivo basco.

Para entender essa fase complexa, o Portal Exibidor entrevistou a fundadora da produtora SALADO Cine, sediada no Uruguai, e acompanhou o debate “América Latina em Transição: Desafios para a Democracia”, organizado pelo curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina (FASM).

O resultado da última eleição presidencial na Argentina pode ser o maior indicativo de uma mudança no ciclo político da América Latina. Segundo Matheus Oliveira, doutorando de Relações Internacionais do Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas, de maneira geral, todos os países da região estão enfrentando crises de governabilidade. As lideranças das nações sul-americanas, por exemplo, enfrentam forte resistência da população.

Enquanto no Brasil a presidente Dilma Rousseff está em meio a um processo de impeachment, na Bolívia, Evo Morales perdeu o referendo que garantiria seu quarto mandato. Existem instabilidades também nos governos do Equador, Chile, Venezuela e Uruguai.

Assim, a conjuntura política argentina se tornou o maior símbolo da possível mudança ideológica no continente. Isso porque os 50% de aprovação popular ao governo não impediram a vitória do candidato da oposição, Mauricio Macri. “Cristina Kirchner deixou o poder como a segunda presidente mais bem-avaliada da história, atrás apenas de Juan Domingo Perón”, afirma Matheus Oliveira.

Em cinco meses à frente da Argentina, Mauricio Macri já investe em transformações na política externa, considerada antes isolada economicamente. Oliveira também acredita em uma aproximação com as nações da Aliança do Pacífico (México, Peru, Chile e Colômbia), segundo maior bloco econômico da América Latina.

A crise na Venezuela

Desde a morte de Hugo Chávez, em 2013, a Venezuela enfrenta uma grave crise econômica que resvala na política. “Algumas empresas estocam produtos de primeira necessidade como remédios e alimentos, só para gerar o desabastecimento. Além disso, o governo resolveu tomar conta de algo que não tinha a capacidade de gerir – e perdeu sua pouca capacidade produtiva”, conta Carolina Pedroso, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação (ESAMC) de São Paulo.

Embora Nicolás Maduro seja sucessor de Chávez, ele não apresenta os mesmos níveis de popularidade. Em relação à política externa, os dois governos seguem a mesma linha: diversificar as parcerias comerciais. Por isso, fazem negociações com os países da América Central, do Caribe e da América do Sul, além dos Estados Unidos.

Cuba e o embargo comercial

Cuba é um dos importantes aliados da Venezuela, especialmente exportando médicos e açúcar. Com a revolução de 1959, o país caribenho adotou um regime comunista e, com a polarização decorrente da Guerra Fria, os Estados Unidos instituíram um embargo comercial à Cuba desde 1961.

Nos amos 1990, sob o governo de Bill Clinton, enquanto Cuba enfrentava uma série de transformações, os EUA fizeram o embargo se tornar uma lei. As relações entre os países permaneceram distantes até 2014, quando Barack Obama decide se reaproximar.

O contexto político está diferente. “Os Estados Unidos perceberam que deveriam parar de tratar Cuba como um inimigo”, defende Alfredo Martinez, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas.

Décadas de produção latino-americana - Entrevista com a SALADO Cine

 A SALADO, uma das maiores produtoras da América Latina, foi fundada em 1994 por Mariana Secco, que atua em cinema por meio do nome SALADO Cine desde 2004 e possui sede no Uruguai, além de filiais na Argentina, em Porto Rico e no Chile. Inicialmente a empresa atuava principalmente na área publicitária, na qual está até hoje, e em 2008 ganhou o prêmio de melhor exportadora de serviços audiovisuais uruguaios concedido pela Cámara Nacional de Comercio y Servicios del Uruguay (Câmara Nacional de Comércio e Serviços do Uruguai, em tradução livre).

A fundadora da SALADO, inclusive, participou da sexta edição do CdB Talks, organizada pelo Programa Cinema do Brasil, falando sobre coprodução internacional, relacionamento com agentes de vendas estrangeiros e outras parcerias internacionais. O encontro foi realizado no País em duas datas no mês de abril, sendo uma no Rio de Janeiro (RJ) e outra em São Paulo (SP).

Confira agora a entrevista da produtora Mariana Secco ao Portal Exibidor:

Por que foi criado o departamento de cinema da SALADO em 2004?

A SALADO foi fundada há 20 anos no Uruguai e até hoje ela continua como uma referência entre as produtoras audiovisuais da região. Em paralelo à sua trajetória publicitária e de serviços de produção, em 2004 criamos a área de cinema com a intenção de criar um cruzamento de talentos nos diferentes ramos do audiovisual. A ideia é trabalhar fortemente nessa simbiose, sendo que na área de cinema buscamos principalmente produzir obras de qualidade com forte projeção internacional.

Como o mercado latino-americano recebeu a produtora? E o mercado internacional?

Já trabalhamos com a maioria dos países latino-americanos, conhecemos muito bem a região e nos sentimos confortáveis trabalhando assim. Estamos também em uma relação fluida com o mercado internacional graças aos nossos altos padrões de qualidade.

Tanto que hoje estamos conectados com o mercado mundial, não há outra maneira de se trabalhar nestes tempos. A globalização é real e a experimentamos todos os dias. Sócios coprodutores, diretores estrangeiros, agentes de vendas, distribuidores, produtoras para quem prestamos serviços e outros clientes, todos “andam” pelo mundo.

Quais foram os principais longas-metragens produzidos pela SALADO

Todos têm sua importância e são parte da nossa história. Os dois últimos longas foram Sr. Kaplan, de Alvaro Brechner, e o brasileiro A Floresta que Se Move, de Vinicius Coimbra.

Como foi a participação no evento do Programa Cinema do Brasil em São Paulo e no Rio de Janeiro?

Maravilhosa, adoro o Brasil e seu povo. A possibilidade de compartilhar ideias com produtores irmãos é sempre inspiradora e eventos assim são indispensáveis para a América Latina. É dessa maneira que devemos nos manter atualizados com as últimas tendências. Se observarmos a Europa, esses países têm muitos programas que promovem os mercados de coprodução, laboratórios de roteiro e formação para produtores.

Como você definiria o atual estado do mercado audiovisual da América Latina?

A América Latina é uma região que não perde validade e importância em nenhum sentido. Tecnicamente não “devemos” nada e os conteúdos que são criados aqui são cada vez mais procurados. Falta agora que nossos governos entendam a verdadeira importância do nosso setor e nos apoiem para continuarmos a crescer.

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