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15 Outubro 2018 | Roberto Sadovski

Hollywood sente pressão para se distanciar da Arábia Saudita após sumiço de jornalista

Players globais investindo no gigante do Oriente Médio tem seu relacionamento com o país questionado por ativistas

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Pessoa segura cartaz em protesto ao desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi (Foto: IstoÉ)

A boa relação entre o mercado de cinema e a Arábia Saudita parece estar estremecida. O motivo foi o desaparecimento – e possível assassinato – do jornalista Jamal Ahmad Khashoggi, visto pela última vez entrando no consulado saudita em Istambul, na Turquia, em 2 de outubro. Autoridades turcas acusam a Arábia Saudita de ter orquestrado a morte do jornalista, que era colunista do jornal Washington Post e crítico da monarquia.

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A investigação fez alguns dos parceiros comerciais com o reinado reverem sua posição ou simplesmente se retirarem de qualquer negócio com autoridades ou empresas sauditas. O sumiço de Khashoggi acontece meses depois de uma turnê do príncipe Mohammed bin Salman aos Estados Unidos, onde ele se encontrou com diversos altos executivos de empresas como Disney, AMC, Endeavor e Imax. O objetivo era azeitar as relações comerciais com o país, que experimenta nas mãos de Salman uma abertura sem precedentes, como a permissão de mulheres para dirigir e assistir as partidas de futebol, além do fim de um boicote ao cinema ocidental que já durava 35 anos.

Os gigantes da mídia passaram a cortejar o príncipe MBS, como ele é chamado, mirando na abertura de mais um mercado cinematográfico bilionário. Pantera Negra foi o primeiro filme exibido no país depois de mais de três décadas, num evento de gala que inaugurou um cinema de luxo com a marca AMC. Analistas de mercado apontavam que o novo mercado poderia render US$ 1 bilhão, com a dominância de produções de Hollywood, em uma rede de cinemas multimilionária a ser erguida na Arábia Saudita em parceria com uma dúzia de empresas de alto padrão.

Agora isso está em jogo, com ativistas apontando a responsabilidade das empresas em se envolver com um regime que não só pode ter assassinado um jornalista, como continua em guerra com o Iêmen, que já causou milhares de mortes civis. “Nessas circunstâncias, todo mundo que tem uma relação com a Arábia Saudita precisa fazer uma reavaliação radical”, diz Joel Simon, diretor executivo da ONG Comitê para Proteção de Jornalistas. “Todos que investiram no país sabiam de seu histórico de abusos dos direitos humanos, e se a morte de Khashoggi for confirmada, tudo precisa mudar, não importa se você representa o Vale do Silício, o Governo Americano ou Hollywood.”

As consequências já estão sendo sentidas no bolso. Diversos players, representando conglomerados de entretenimento e economia, cancelaram os planos para participar do Future Investment Initiative, conferência para mostrar as vantagens de investir na Arábia Saudita, a se realizar entre 23 e 25 de outubro em Riade. O The New York Times foi o primeiro a retirar seu patrocínio de mídia, seguido pelo Financial Times, CNN, CNBC e Bloomberg. As produtoras de Hollywood STX e Viacom, proprietária da Paramount, também se desligaram do evento. O bilionário e investidor Richard Branson, que tocava um projeto de US$ 1 bilhão na Arábia Saudita, colocou um freio nas negociações. “Se o que aconteceu na Turquia com o jornalista Jamal Khashoggi for verdade”, disse. “Vai minar a habilidade do Ocidente em fazer qualquer negócio com o governo saudita.”

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