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06 Março 2024 | Yuri Codogno

Especialistas e influenciadores de cinema comentam suas expectativas para o Oscar 2024

O Portal Exibidor conversou com Aline Diniz, Barbara Demerov, Carol Moreira e Marcio Sallem

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(Foto: Divulgação)

No próximo domingo (10), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas realizará a 96ª cerimônia do Oscar, premiando os filmes lançados nos cinemas estadunidenses durante os doze meses do ano passado. No total, 19 estatuetas serão distribuídas para diferentes longas-metragens de ficção - além de outras quatros voltadas para documentários e curta-metragens. 

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Apesar de termos um franco-favorito, visto que Oppenheimer (Universal) está vencendo em diferentes premiações, como BAFTA, Globo de Ouro e até nos prêmios dos sindicatos, a atual edição do Oscar está repleta de filmes de altíssima qualidade, de modo que muitos deles podem sair vencedores nas mais variadas categorias. 

No Brasil, o período entre as indicações e algumas semanas após a cerimônia é importantíssimo para a indústria cinematográfica, com diversos filmes programados para serem lançados nesse espaço de tempo, aproveitando que os nomeados e vencedores do Oscar costumam levar bons públicos aos cinemas. Os indicados você pode conferir aqui.

E pensando nisso, o Portal Exibidor conversou com influencers de cinema, que usaram seu conhecimento e experiência para dar um parecer sobre o Oscar 2024. Os entrevistados para a reportagem foram: Aline Diniz, jornalista, produtora de conteúdo e apresentadora do Entre Migas e que apresentará o Oscar deste ano pelo canal TNT; Barbara Demerov, jornalista, crítica de cinema e votante internacional no Globo de Ouro; Carol Moreira, criadora de conteúdo e influencer de cinema; e Marcio Sallem, professor, crítico no Cinema com Crítica e membro da Critics Choice Association.

1) Baseado no posicionamento da Academia e nos filmes indicados, qual o grande diferencial do Oscar 2024? 

ALINE DINIZ: Honestamente, não acho que tem muita diferença com relação aos anos anteriores, acho que os filmes ainda são muito focados numa bolha, filmes que tem uma pauta. A gente vê poucas coisas furando essa pré-determinação do drama, da história complexa, sabe? Muito raramente vai ver comédia ou terror indicado ao Oscar. Esse ano a gente até tem comédia com “Ficção Americana”, com “Barbie”, mas a maioria dos outros têm uma pegada muito mais dramática. O Oscar ainda tem bastante para caminhar, para chegar num ponto em que vai conseguir realmente atingir um nível de popularidade. E quando digo popularidade, não é de pessoas assistindo ao evento, é de pessoas que preferem blockbusters, de filmes que as pessoas compareceram ao cinemas e realmente assistiram, não apenas da temporada de premiações, de filmes que são lançados com esse propósito de serem indicados ao Oscar.

Mas uma coisa que é muito legal de ver nos Óscares dos últimos anos, são os filmes internacionais concorrendo a Melhor Filme. Esse ano a gente tem o “Anatomia de uma Queda”, que é muito bacana, apesar de ele ter uma boa parte falado em inglês. Mas a gente verá isso cada vez mais, principalmente por causa da globalização e do fato dos streamings estrearem tudo simultaneamente. É muito raro um filme estrear em algum polo e não chegar aqui de maneira quase que imediata.

BARBARA DEMEROV: Diria que é a presença de dez filmes indicados na categoria principal e todos são bons, todos têm qualidade técnica e narrativas difíceis de negar. Algumas vezes, tem aquele filme que parece que está lá só porque ficou com uma certa moda, com todo mundo falando, então tem que entrar. Nesse caso, a gente tem “Anatomia de uma Queda”, que estava bem cotado desde que ganhou Cannes. A gente tem “Barbie”, que dialoga com outros públicos. Tem “Vidas Passadas” e, fora isso, diria que, junto com esse diferencial de ter apenas filmes com muita qualidade técnica e narrativa, a gente tem também três filmes que são produzidos ou dirigidos por mulheres concorrendo na categoria principal. Esse é um feito que nunca aconteceu antes, então diria que esses são os dois grandes motivos pelo qual o Oscar está tão bom esse ano. É inquestionável falar que a qualidade está boa. 

CAROL MOREIRA: Nos últimos anos, a Academia tem expandido sua ala de votantes internacionais, então agora conseguimos ter uma presença maior de filmes de diferentes países. “Anatomia de uma Queda” é francês, “Zona de Interesse” é britânico (falado em alemão) e “Vidas Passadas”, por mais que seja um filme norte-americano, traz muito da cultura e vivências da Coreia do Sul como foco. 

Existe também uma vontade de se reaproximar do público geral, porque a audiência da premiação vem caindo ano após ano. As indicações de “Barbie” e “Oppenheimer” são uma oportunidade para trazer uma legião apaixonada de fãs para a cerimônia.

MARCIO SALLEM: Eu não acredito que haja um diferencial no Oscar deste ano em comparação com os anos anteriores. É verdade que tivemos dois filmes em língua não inglesa indicados (“Anatomia de uma Queda” e “Zona de Interesse”), mas não vejo nenhum avanço nem em termos de representatividade (poderia ter tido, de novo, duas mulheres indicadas em Melhor Direção, mas isto não ocorreu), nem em termos de, digamos, comportamento dos votantes. Ainda há uma celebração de dramas biográficos ou factuais, em detrimento de filmes de gênero, um reconhecimento até natural, mas previsível, de sucessos de bilheteria ou de diretores já tarimbados.

2) Quais filmes você aponta como favoritos? E por quê?

ALINE DINIZ: Esse ano, a gente tem menos filmes que entregaram quantidade de público tanto quanto foi no ano passado. Existe também a grande questão de que, no Brasil, os lançamentos sempre são adiados para chegarem exatamente nessa temporada de premiações, depois do anúncio dos indicados ao Oscar, porque aí usa isso como plataforma. Por exemplo: “Zona de Interesse”, que é um filme belíssimo, quantas pessoas iriam ver aquele filme se ele não fosse indicado ao Oscar? 

A gente tem filmes um pouco menos divulgados quanto a gente tinha no ano passado, mas, para mim, o principal do Oscar 2024 é o fenômeno Barbenheimer, que acabou fazendo com que tenha menos competição dentro do Oscar do que a gente gostaria, mas é uma é uma uma situação muito interessante. Sinto que a Academia vai se apoiar muito ainda em “Barbie” para promover a cerimônia deste ano. A gente já teve uma peça que a Academia lançou do Jimmy Kimmel com a América Ferreira, Ryan Gosling e a Kate McKinnon, que se apoia muito em “Barbie”. A competição, entre aspas, de “Barbie” e “Oppenheimer” foi o que gerou um baita boom na indústria, com double feature que a gente não via há muito tempo, de pessoas fazendo uma sessão e depois a outra.

Mas tem filmes muito interessantes esse ano. O próprio “Zona de Interesse”, que estou absolutamente apaixonada, é um baita de um filme. Até o “Sociedade da Neve” é maravilhoso, o próprio “Anatomia de uma Queda” também é muito bom. O “Ficção Americana” sendo uma das poucas comédias, mas que também é muito sério, eu gosto dele estar presente no Oscar desse ano, porque mostra uma vontade de você querer olhar para o lado e não focar só no drama, nas dores, nas dificuldades. 

BARBARA DEMEROV: Sobre os favoritos, vou dizer três em diferentes categorias que acho que vão ganhar. O primeiro é “Oppenheimer”, que deve levar Melhor Filme e Melhor Direção. O Nolan tem uma carreira bem estruturada, nunca ganhou o Oscar e vai ser muito merecido se ganhar. Ele realmente tem toda pompa, “Oppenheimer" é um grande filme. E o Nolan já trabalhou com tantos gêneros, acho que é a hora dele. É uma pena porque todos os filmes são muito bons, então é difícil dar o prêmio só para um. Eu, pessoalmente, daria Melhor Filme para “Assassinos da Lua das Flores” e direção pro Nolan, mas acho que esse ano vão os dois prêmios principais, direção e filme, para Christopher Nolan e “Oppenheimer”. 

Outro filme que tenho quase certeza que vai levar na categoria de Melhor Roteiro Original é “Anatomia de uma Queda”, da Justine Triet, que vem fazendo uma carreira muito bonita desde Cannes e só cresceu no boca a boca do público e também das premiações. Acho muito legal e importante o que está acontecendo com o filme, ainda mais sendo de autoria de uma mulher. E é um ótimo filme, um dos melhores de tribunal que já vi na vida. Tem também o da Celine Song, o “Vidas Passadas”, mas acho que nessa categoria vai para “Anatomia”, está tudo se encaminhando para isso. 

E outro filme que acho que vai levar, no caso em Melhor Filme Internacional, é “Zona de Interesse”. Ele é o melhor filme dos indicados nessa categoria, é o mais forte, e tem a sorte de não estar indicado junto a “Anatomia de uma Queda”, que não foi selecionado pela França e a França acabou ficando de fora desta categoria, então isso dá um gás para “Zona de Interesse” vencer. 

CAROL MOREIRA: “Oppenheimer” é o franco favorito desse ano, tanto para Melhor Filme quanto para Direção. Christopher Nolan é um cineasta com carreira consolidada, mas nunca ganhou um Oscar, então esse favoritismo vem também como um momento para coroar sua filmografia. Sem falar que “Oppenheimer” foi muito aclamado pela crítica e fez quase US$ 1 bilhão em bilheteria global, então mostrou para indústria que o público pode sim se interessar por um filme preto e branco de três horas se a história for bem contada… não precisa ser sempre as mesmas franquias blockbusters que fazem sucesso. 

MARCIO SALLEM: “Oppenheimer” é o favorito na maioria das categorias que disputa, tanto pela excelência dos elementos artísticos-técnicos, quanto pelo referendo havido em premiações anteriores. Há espaço para eventuais surpresas, por exemplo, na categoria de Melhor Ator entre Cillian Murphy e Paul Giamatti, ou Melhor Atriz, entre Emma Stone e Lily Gladstone, ou a dúvida se a Academia premiará a animação japonesa “O Menino e a Garça”, de Hayao Miyazaki, ou manterá o prêmio nos Estados Unidos com “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”.

3) A atual edição reservou algumas surpresas que não agradaram parte do público, como a ausência de “Barbie” em Melhor Direção e Melhor Atriz, assim como o Scorsese não estar disputando o roteiro. Concorda com essa visão? E, na sua opinião, quais outros filmes foram esnobados pela Academia?

ALINE DINIZ: Fico muito triste em relação a isso. Acho meio palhaçada também a “Barbie” ter sido indicada a Melhor Roteiro Adaptado e não a Melhor Roteiro Original, porque foi adaptado de que exatamente? Está passando um pano ridículo para poder colocar em outra categoria, porque foi original. Não consigo entender como “Maestro”, que é baseado na vida de um cara… o que aconteceu de verdade? Eles pegaram isso e adaptaram para o filme. “Maestro” está em roteiro original e “Barbie” em adaptado. Não faz sentido na minha cabeça. 

Acho que “Vidas Passadas” acabou sendo bem esnobado, “Super Mario” deveria ter sido indicado a Melhor Animação. Particularmente, não gosto muito de “Elementos”, acho que ele sobrou ali, mas ao mesmo tempo não sei se tiraria ele para colocar o “Super Mario”. E a gente sempre tem o clássico, que é o caso de “Nyad”, que é um filme que é indicado só pelas mulheres, que foi mais ou menos o que aconteceu com Ryan Gosling dessa vez, que ele foi indicado como a cota masculina de “Barbie”. Isso acontece já há muitos anos… sempre que você vai olhar na categoria de atriz e atriz coadjuvante, sempre tem uma mulher que tá indicada ali e as únicas indicações daquele filme são para a atuação feminina. Eles não estão indicados a mais nada e a minha sensação sempre é “pera… esse filme não é bom o suficiente para ter sido indicado para as outras coisas ou as mulheres que estão nos outros filmes não mereceram uma indicação nessa categoria?”. Isso é muito complexo. E aí quando aconteceu a indicação do Ryan Gosling, fiquei assim: “Será que a gente tem um caso invertido aqui nessa situação? O Ryan Gosling é o homem indicado no filme”. Achei curioso. 

BARBARA DEMEROV: Sobre os esnobados, como todo ano acontece, concordo muito que “Barbie” foi esnobada, especialmente na categoria de Melhor Atriz, porque Ryan Gosling foi indicado a Melhor Ator Coadjuvante e America Ferrera foi indicada a Melhor Atriz Coadjuvante, mas a Margot Robbie não. Ao meu ver, a vaga da Annette Bening estava concorrendo com a da Margot, mas a Academia é mais conservadora e a Annette Benning está na ativa por muito mais tempo e acho que isso tenha pesado. Mas é difícil tirar alguém para colocá-la, assim como é difícil tirar alguém de diretores indicados… a gente tem o Jonathan Glazer, que fez um trabalho excelente no “Zona de Interesse” e está muito bem indicado ali. O Scorsese, o Nolan, A Justine Triet também. Tento pensar por esse lado: “Barbie”, Greta Gerwig e Margot Robbie foram sim indicadas, mas na categoria de Melhor Filme, porque ambas são produtoras. Então nesse ano que a gente está tendo muita força no Oscar, eu diria que é a primeira edição desde a pandemia que o Oscar veio com os dois pés na porta, com muita qualidade. Não diria que é um prêmio de consolação, mas as duas estão sim indicadas. A própria Greta deu uma declaração em que falou “eu estou indicada, fui indicada a Melhor Filme”, e ela também foi indicada a Melhor Roteiro Adaptado, junto ao marido dela (Noah Baumbach).

Mas sobre os esnobados, cito dois filmes. Não na parte de atuação, mas queria que “Saltburn” fosse indicado nas categorias de Melhor Direção de Arte e de Melhor Figurino, porque achei um trabalho muito bem feito ali, além de ter sido uma história diferente e original que gostei bastante. E outro filme que acho que foi super esnobado foi o “Garra de Ferro”, com o Zac Efron. As atuações desse filme são fantásticas. Indicaria o Zac Efron ou o ator que faz o pai dele, o Holt McCallany. Mas diria que esses dois filmes foram esnobados. 

No mais, acho que é isso! O Oscar realmente está com uma edição fortíssima desde a pandemia. Todos os filmes são indiscutivelmente bons, todos têm suas qualidades e, mais importante, estamos com uma gama de cineastas e narrativas super diversificada. Temos dramas amorosos ou mais introspectivos como “Vidas Passadas” e “Os Rejeitados”, filmes históricos sobre a bomba atômica ou II Guerra Mundial, comédias ácidas como “Barbie” e “Ficção Americana”. É um ano em que nós, espectadores, saímos ganhando.

CAROL MOREIRA: “Barbie” foi o filme que marcou 2023 e está indicado em várias categorias, mas a ausência da Greta e da Margot é estranha sim, elas são a alma do filme. O mesmo vale para Scorsese, afinal, um dos destaques de “Assassinos da Lua das Flores” é justamente o roteiro, que pegou um livro sob o viés dos agentes policiais e transformou em uma história com foco na Nação Osage. 

Dentre os esnobados, “Segredos de um Escândalo” merecia muito mais do que só a indicação em roteiro original. Natalie Portman, Julianne Moore e Charles Melton todos têm atuações excelentes e mereciam estar presentes. “Ferrari” também é um filme incrível que nadou e morreu na praia, ficou sem nenhuma indicação.

MARCIO SALLEM: Você citou três categorias-chave: a direção de Greta Gerwig que transformou o mundo artificial da “Barbie” em um lócus para uma reflexão feminista, ou a atuação de Margot Robbie, que se colocou no papel de ouvinte para compreender a própria razão de ser da personagem, e o Roteiro Adaptado de “Assassinos da Lua das “Flores, que transformou o livro sobre a origem do FBI para uma obra que retrata, vividamente, o crime cometido contra o povo Osage em razão da ganância de uns. São os maiores esnobes, além do apagamento praticamente integral de “Segredos de um Escândalo” da premiação.

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