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11 Abril 2025 | Renata Vomero

I Seminário de Exibição reúne setor, amplia caminhos para o mercado e encerra com carta às autoridades

Evento aconteceu entre 2 e 9 de abril e integrou a programação do Panorama Coisa de Cinema, em Salvador

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(Foto: Divulgação)

Entre 2 e 9 de abril foi realizado o I Seminário de Exibição no Cine Glauber Rocha, em Salvador. O evento foi parte da programação do XX Panorama Coisa de Cinema e foi feito com apoio da AEXIB (Associação dos Pequenos e Médios Exibidores do Brasil). O Portal Exibidor teve oportunidade de cobrir os últimos dias do evento, incluindo seu encerramento, ao final do dia 9 de abril.



A semana contou com quase 20 painéis e discussões, que tinham como objetivo principal esmiuçar os caminhos para conectar o público brasileiro ao cinema e o que é preciso para que os exibidores, em especial os pequenos e médios, tenham segurança e sustentabilidade para trabalhar com conteúdos brasileiros variados.

Com isso em mente, o evento foi encerrado em uma mesa da AEXIB, liderada por Jack Silva, presidente da Associação e responsável pela rede MovieLand, e Guilherme Alves da Silva, responsável pela CineLand. O encontro, como muitos outros, foi moderado por Cláudio Marques, do Cine Glauber Rocha e organizador do evento. 

“Nos últimos dois anos, os cinemas foram salvos no primeiro trimestre pelo cinema nacional, com filmes que performaram muito bem e movimentaram as salas. Precisamos fortalecer a indústria, promover o cinema nacional para termos eles cumprindo essas lacunas deixadas pelos blockbusters, e se forem melhores que eles, melhor ainda!”, destacou Jack Silva, que ainda lembrou das dificuldades dos exibidores com recursos da Lei Paulo Gustavo, que, em algumas localidades, não puderam dar suporte aos pequenos e médios exibidores.

Fica evidente, então, o quanto os cinemas precisam de apoio para conseguir abrir espaço para a produção brasileira. A indústria é formada por toda uma cadeia e a sua ponta, a exibição, é fundamental para que as produções sejam vistas, tenham seu espaço, então, ela precisa ser incentivada e lembrada quando forem construídas iniciativas de suporte ao setor.

Desta forma, a AEXIB encerrou o encontro anunciando uma carta com os temas debatidos no evento e as principais demandas do setor, para que as autoridades tenham esse documento em mente nas tomadas de decisões. A carta, que poderá ser lida na íntegra no fim da matéria, ainda é um documento em construção e estão, entre as necessidades do setor: 

  • - linhas específicas de crédito para a exibição;
  • - a retomada do PAR (Prêmio Adicional de Renda) para aqueles que cumprem a cota de tela;
  • - incentivos específicos para salas que progragem filmes nacionais independentes;
  • - projetos de formação de público para os jovens;
  • - descentralização dos planos de lançamento das distribuidoras;
  • - a retirada da obrigatoriedade da exibição de filmes por sete dias seguidos;
  • - incluir plano de exibição para os projetos; 
  • - edital contínuo de programação e manutenção de salas de cinemas;
  • - garantir salas de pequeno e médio porte em operação;
  • - enfrentamento da pirataria;
  • - e campanhas contínuas do governo em promoção ao cinema nacional. 

Também se somarão aos itens da carta: a necessidade da ampliação e cumprimento da janela de exibição e a revisão do impacto da reforma tributária no setor.

A AEXIB também anunciou os atuais nomes que integram o corpo diretivo da associação, sendo eles: Jack Silva, Marco Alexandre, Paulo Menelau, Milton Durski, Cláudio Marques, Adriana Rigon, Guilherme Alves, Alessandro Cintra, Maurílio Moriyama e Samuel Marotta. 

Painéis

Os painéis de discussão tiveram grande abrangência e variedade de temas, foram reunidos autoridades do setor, exibidores de diferentes localidades, com destaque para o Norte e Nordeste, líderes de associações e entidades do mercado, profissionais internacionais, líderes de empresas de tecnologia e analistas da indústria.

Entre os temas abordados, estiveram as novidades tecnológicas para o setor, políticas públicas para os pequenos e médios exibidores, análise do mercado francês, formação de público para o cinema, distribuidoras independentes e a conexão com os exibidores, preservação de memória, descentralização, entre muitos outros.

Um dos painéis acompanhados pelo Portal Exibidor foi “Como e quando o cinema brasileiro vai reconquistar o seu próprio mercado?”, que contou com Rodrigo Saturnino, diretor do Filme B, e Marcelo Lima, consultor e CEO do Grupo Tonks. O painel foi mediado por Cláudio Marques.

Marques, inclusive, abriu a conversa destacando a motivação para a criação do seminário, ressaltando a necessidade de criar uma rede para o cinema nacional, “mas não uma rede que só a gente pague a conta, que haja uma política efetiva nesse sentido”.

O tema é complexo e há a necessidade de uma união entre iniciativas privadas e públicas e todos os elos da indústria. E um dos problemas das políticas públicas de apoio à exibição está em focar na ampliação do parque exibidor em número de salas, quando, na verdade, deveria aumentar o número de salas por complexo, como afirmou Marcelo Lima.

“Um complexo com mais salas tira uma pressão sobre os filmes, que podem ter mais semanas em cartaz. Ainda mais para os cinemas de arte e para os filmes nacionais, que precisam de carreira. Toda semana há uma enxurrada de filmes sendo lançados e o exibidor precisa escolher um ou dois para compor sua programação. Aumentando essa quantidade, há mais espaço e, por consequência, mais espaço para o cinema nacional”, destacou o executivo, que trouxe dados mostrando o crescimento da indústria brasileiro em meio à crise dos últimos anos, nadando contra a maré em um mercado global que viu seus indicativos decaindo.

Outra questão levantada por ele foram os incentivos à produção, muitos deles focados nos produtores menores, que precisam desse apoio, mas que “precisa haver investimentos em produções maiores, que sejam mais comerciais, seja com apoio privado ou público”.

Já Rodrigo Saturnino apresentou dados desde os anos 1970, mostrando a montanha russa que o cinema brasileiro enfrentou e se consolidou a partir da criação do FSA e a Lei do Audiovisual, no início dos anos 2000. A partir disso, o cinema nacional vem crescendo em público, mas não se estabilizando em presença de mercado, o chamado market share, que é um indicativo de força diante da concorrência.

“O que nós precisamos para manter um market share, como no início deste ano, que ficou em 28%, é de planejamento e execução, algo que não temos. É preciso que exista ao menos três ou quatro filmes nacionais no top 20, porque isso vai se refletir na participação do mercado. E é possível criar isso com os editais já criados, mas que devem ser usados de forma melhor”, destacou o executivo.

E se há a necessidade de ter um cuidado com o setor de exibição, fundamental no contato do público com os filmes, sem dúvida deve-se pensar no que vem depois, na preservação destes materiais e descentralização dos recursos para este fim.

Essa foi a discussão do painel “Preservação da memória e a necessidade de descentralização dos recursos”, que reuniu Gabriela Souza de Queiroz (Diretora Técnica Cinemateca Brasileira), Laura Bezerra (Professora do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da Universidade Federal do Recôncavo Baiano UFRB), Lídia Costa (Arquivo Histórico Municipal de Salvador), Daiane Silva (Diretoria de Audiovisual – DIMAS) e Samuel Marotta, do Centro Cultural Unimed-BH Minas (MG).

A discussão foi extremamente produtiva e, entre os pontos destacados, sobressaiu-se a necessidade de olhar para a preservação e restauração como um elo da indústria e não só como uma subatividade. Inclusive, pensando economicamente, já que filmes são ativos econômicos dos players brasileiros.

“Isso que acontece na produção, de ter mais investimentos e apoios, e com isso conseguir crescer, precisa acontecer na preservação. Esse investimento todo pode se perder, se não tiver investimento na preservação e no acesso. Se um filme se perde, se perde um ativo econômico”, ressaltou Laura Bezerra.

Também foi discutida a necessidade da preservação da produção feita por negros, indígenas, mulheres e pessoas de comunidades periféricas, para se entender o todo da produção brasileira e formar um panorama mais rico de nossa memória. Vem aí também a necessidade da descentralização dos recursos também na produção, para que essa memória seja mais real ao país. 

“Que imagens são essas que o Brasil está produzindo? E quais delas são dignas de preservar? Não preservamos para guardar, preservamos para difundir. Pensar nisso é pensar no futuro. A preservação precisa ser vista como um elo estruturante, o filme não acaba na exibição”, complementou Daiane Silva. 

Festival de Exibição

Em paralelo às mesas de discussões, também foi realizado o Festival Prêmio AEXIB, em que foram apresentadas aos exibidores produções independentes brasileiras acompanhadas de sessões de debate com os realizadores e responsáveis para discutir os longas apresentados. 

No encerramento, dois filmes foram premiados, um deles com o Prêmio de Distribuição com apoio do Projeto Paradiso, oferecendo R$10 mil, e o Prêmio Festival AEXIB com a garantia de ao menos 40 salas para o circuito do filme. Os longas ganhadores respectivamente foram O Silêncio das Ostras, de Marcos Pimentel e distribuição da Olhar Filmes, e O Último Azul, de Gabriel Mascaro e distribuído pela Vitrine Filmes

Confira a carta da AEXIB na íntegra, ainda sem os itens sobre janela de exibição e reforma tributária, que em breve serão inseridos:

 CARTA DO I SEMINÁRIO DE EXIBIÇÃO - AEXIB

Destinatários: Agência Nacional do Cinema – ANCINE; Secretaria do Audiovisual – SAV; Ministério da Cultura – MINC

Assunto: Propostas para Fortalecimento da Exibição Cinematográfica no Brasil Salvador, 09 de abril de 2025

Entre os dias 02 a 09 de abril de 2025, o Cine Glauber Rocha, em Salvador, foi palco do I Seminário de Exibição - AEXIB, realizado no contexto do XX Panorama Internacional Coisa de Cinema. O encontro reuniu 40 pequenos e médios exibidores independentes de todas as regiões do Brasil, além de gestores públicos, pesquisadores, jornalistas e representantes de entidades nacionais e internacionais.

Foram dias de debates intensos, escuta atenta e articulação de ideias. A partir das experiências compartilhadas e dos desafios comuns identificados, definimos um conjunto de 11 diretrizes prioritárias, que aqui apresentamos aos órgãos competentes como base para a construção de uma política pública sólida, duradoura e inovadora para a exibição cinematográfica brasileira.

  1. Propomos a criação de linhas específicas de apoio à exibição cinematográfica, estruturadas nos moldes das linhas de produção já existentes. É importante destacar que, atualmente, grande parte das linhas de crédito disponibilizadas pelo Fundo Setorial do Audiovisual concentra-se majoritariamente na produção de conteúdos, enquanto a exibição, um elo fundamental da cadeia produtiva do audiovisual, recebe pouca atenção.

    As salas de cinema desempenham um papel crucial na indústria audiovisual brasileira, não apenas como ponto de encontro entre as obras e o público, mas também como um motor essencial para o fortalecimento da economia do setor. A exibição garante que as produções alcancem seu propósito final: serem vistas e apreciadas. Além disso, o estímulo à exibição fomenta a circulação da cultura nacional, amplia o alcance dos filmes brasileiros e cria experiências culturais significativas para a população.

    Esse investimento direcionado à exibição é imprescindível para equilibrar a cadeia produtiva, fortalecer os pequenos e médios exibidores, e consolidar a presença dos filmes nacionais no mercado.

  2. Reivindicamos o imediato retorno do PAR - Prêmio Adicional de Renda, com especial atenção aos pequenos e médios exibidores que atendem à cota de tela para filmes brasileiros. Além disso, destacamos a importância de uma revisão criteriosa dos valores anteriormente disponibilizados, visando garantir que os recursos atendam adequadamente às necessidades dos exibidores de pequeno e médio porte de todas as regiões do país.
  3. Propomos a criação de incentivos específicos para salas que programem regularmente filmes autorais nacionais, especialmente aqueles premiados em festivais e com reconhecido valor estético e artístico, ainda que com menor apelo comercial.  Esses filmes, fundamentais para a diversidade cultural, precisam de mediação e incentivo estruturado para alcançar o público.

  4. É urgente a implementação de um projeto nacional que conecte o cinema à educação, promovendo o acesso de crianças e jovens de escolas públicas às salas de cinema. Esta iniciativa deve ser concebida como uma política contínua, profundamente articulada às redes municipais e estaduais de ensino, com o objetivo de enriquecer a formação cultural e fortalecer a cidadania. Nesse contexto, é igualmente indispensável que a aplicação da Lei Federal 13.006/14 seja efetivamente realizada dentro dos espaços cinematográficos, especialmente nas cidades que contam com complexos de salas de cinema. Dessa forma, os estudantes poderão vivenciar o cinema como uma poderosa ferramenta de aprendizado, inspiração e transformação social.

  5. A exibição e promoção das obras cinematográficas não podem estar concentradas apenas nos grandes centros urbanos. Propomos a obrigatoriedade da descentralização geográfica nos planos de distribuição de filmes incentivados, garantindo estreias e sessões em salas localizadas nas cinco regiões do país, com contrapartidas sociais.

  6. Sugerimos a revisão da obrigatoriedade de exibição contínua por sete dias (cine-semana) para filmes de menor orçamento e perfil artístico. Em muitos casos, sessões pontuais e bem trabalhadas têm mais impacto real de público do que uma permanência obrigatória e vazia. A política de exibição precisa considerar a natureza e o porte do filme.

  7. Propomos que todo projeto audiovisual financiado com recursos públicos apresente, no momento da inscrição, um plano concreto de exibição e ações territoriais. Essa conexão desde a origem do projeto cria uma lógica integrada: o filme passa a ser compreendido como um bem público em todas as suas etapas, inclusive no momento de chegar às telas.

  8. Propomos a criação de um edital contínuo de programação e manutenção de salas de cinema, com recursos oriundos do Fundo Setorial do Audiovisual. As salas que apresentarem projetos culturais serão avaliadas por uma comissão de seleção especializada, considerando a relevância, o impacto local, a diversidade de público e a capacidade de execução. Essa linha transformará as salas em polos culturais ativos, acessíveis e permanentes na difusão do cinema brasileiro.

  9. É fundamental garantir o funcionamento das salas de pequeno e médio porte que já existem no Brasil, especialmente aquelas que operam de forma independente ou em regiões com pouca infraestrutura cultural. Propomos uma política de apoio permanente à manutenção dessas salas, contemplando recursos para infraestrutura, pessoal, comunicação, curadoria, ações formativas e programação continuada. Este apoio promoverá também a geração de empregos diretos em toda a indústria audiovisual brasileira, fortalecendo a economia da cultura em nível local e nacional.

  10. É necessário enfrentar com firmeza o impacto nocivo da pirataria no setor audiovisual. A proliferação de streamings ilegais e de “boxes” clandestinos espalhados pelo Brasil prejudica diretamente a atividade das salas de cinema, especialmente as de pequeno e médio porte. Defendemos uma política pública que una campanhas de conscientização da população, mostrando os efeitos econômicos e culturais do consumo de conteúdo pirata, com mecanismos de fiscalização eficazes e ações punitivas consistentes. A pirataria mina o ecossistema do cinema brasileiro e enfraquece a sustentabilidade da cadeia como um todo.

  11. Propomos a criação de uma campanha institucional contínua de valorização do cinema brasileiro nas salas de cinema. Essa campanha, conduzida pelos órgãos públicos responsáveis, deve promover a presença constante do cinema nacional no imaginário do público. Sugerimos a veiculação regular de anúncios pagos em salas de cinema, inclusive antecedendo a exibição de conteúdos estrangeiros. A comunicação institucional precisa estar a serviço da formação de público, da autoestima cultural e da visibilidade das nossas produções.

O I Seminário AEXIB nasce da escuta coletiva e da urgência de ação. O futuro do cinema brasileiro não pode prescindir das salas de exibição. Somos o elo que conecta o público à obra. Nosso circuito é resiliente, criativo e capilarizado. Com políticas adequadas, ele pode ser também transformador.

Colocamo-nos à disposição para diálogo contínuo com a ANCINE, SAV e MINC, e reforçamos que a construção de um novo pacto para a exibição é essencial para a sobrevivência e o fortalecimento do cinema brasileiro.

Com respeito e esperança,

Coordenação do I Seminário de Exibição – AEXIB XX Panorama Internacional Coisa de Cinema Salvador – Abril de 2025

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