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04 Junho 2025 | Gabryella Garcia

Distribuidora Filmes do Estação comemora retorno ao mercado no Rio2C: "Contribuir no mercado brasileiro de cinema independente"

Braço do Grupo Estação, distribuidora projeta maiores investimentos a partir do próximo ano

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(Foto: Divulgação)

A distribuidora Filmes do Estação, braço do Grupo Estação, voltou ao mercado em 2024 após um hiato de aproximadamente 10 anos e agora mira se tornar referência no mercado brasileiro de filmes independentes. Na última semana a distribuidora participou pela primeira vez como player no Rio2C e, em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor, a diretora-executiva Adriana Rattes fez uma avaliação sobre os primeiros meses da retomada, e vislumbrou se consolidar como um importante elo na cadeia do audiovisual nacional. "Espero que a Filmes do Estação seja o mais relevante possível e contribua da melhor forma possível no mercado brasileiro de cinema independente", disse.



Originalmente a distribuidora foi fundada em 1990 e foi responsável pelo lançamento de cerca de 300 títulos no Brasil, entre produções brasileiras e internacionais, incluindo grandes clássicos do nosso cinema como Cheiro do Ralo, Juízo, Todo Mundo Tem Problemas Sexuais, e Fabricando Tom Zé. Embora tenha sido responsável por grandes lançamentos brasileiros no passado, o foco era no cinema internacional, e nessa retomada, Rattes destacou uma mudança de direcionamento, mas sem deixar obras estrangeiras de fora.

"Hoje resolvemos que vamos inteirar os dois setores na distribuidora e que nosso papel no cinema brasileiro é muito importante e temos muito a contribuir para melhorar a visibilidade e o conhecimento do público o cinema independente brasileiro que, afinal de contas, está produzindo muita coisa boa, mas as obras dos últimos anos têm encontrado pouca resposta do público porque tem pouca visibilidade", destacou a executiva.

Prova dessa nova mentalidade de impulsionar o cinema independente brasileiro na nova fase da distribuidora, foi sua participação no Rio2C 2025. No evento, foram priorizadas produções de jovens profissionais, que tragam uma nova ideia ao mercado, embora projetos de profissionais mais consolidados e experientes também não tenham sido deixados de lado.

"O Rio2C é um evento importante para o mercado audiovisual desde que ainda era Rio Content Market e esse ano a experiência no mercado foi muito interessante e pudemos conhecer vários projetos novos, porque focamos e privilegiamos esse tipo de projeto. Queríamos saber o que está na cabeça dos jovens produtores e jovens realizados. Descobrimos coisas muito interessantes, e ver os projetos ainda na fase de desenvolvimento é muito importante para a distribuição. A boa distribuição é aquela que começa junto com o desenvolvimento do filme e ajuda no desenvolvimento para preparar desde aquele momento a comunicação que será feita, até quando o filme for lançado", destacou Rattes.

Desde a retomada, a Filmes do Estação foi responsável por 12 lançamentos no Brasil, sendo cinco deles no ano de 2025, e a projeção é para até 10 novos lançamentos até o final do ano. Na curta trajetória, de menos de dois anos, duas produções se destacam: Orlando, Minha Biografia Política, e o nacional Malu, que fez uma bela carreira em festivais internacionais.

Orlando, Minha Biografia Política é uma produção francesa que conquistou o Teddy Award para Melhor Documentário, oferecido a filmes de temática LGBT na 73ª edição do Festival de Berlim, e o Prêmio Especial do Júri da mostra Encounters. Na visão da diretora-executiva da Filmes do Estação, a produção representa bem a pretensão da distribuidora ao retornar ao mercado por fazer uma temática importante na sociedade atual, mas ainda nichada, romper a barreira do público-alvo e ecoar no público como um todo.

"Foi um lançamento muito importante e foi bem aclamado no mundo inteiro. Conseguimos fazer um trabalho muito interessante em mobilizar a cena transgênera, intelectuais brasileiros e ativistas desta área em torno do filme, mas também conseguimos falar com uma plateia além desse público, que era nossa intenção. O filme tinha um papel didático de apresentar ao público, de uma forma muito artística e ao mesmo tempo gostosa de assistir, as questões que estavam envolvidas ali. Acho que conseguimos avançar na visibilidade dessa questão com uma obra de muito impacto e qualidade", celebrou.

O outro destaque foi o brasileiro Malu, de Pedro Freire, que fez sua première mundial no Festival de Sundance 2024, foi selecionado para mais de 10 festivais internacionais, e conquistou os prêmios de Melhor Longa-Metragem de Ficção, Melhor Roteiro, Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante na 26ª edição do Festival do Rio.

Apesar de ser produzido por uma produtora considerada pequena e ser um filme independente feito com poucos recursos, Malu foi contemplado em dois editais que ajudaram em uma distribuição mais robusta. Mesmo apostando na qualidade e força da produção, o resultado superou as expectativas.

"É um filme independente feito com quase nenhum recurso e com uma temática bem difícil, que são as questões de uma mulher artista de meia idade em crise na vida, na profissão e com a família. Não é comum falar dessas histórias no cinema brasileiro independente e 'Malu' foi um filme muito corajoso. O Pedro tem um talento enorme e os produtores bancaram isso com muita coragem e muita fé. O filme foi feito em condições adversas de orçamento, mas foi muito original e provocativo. Ele encontrou uma resposta do público que foi além das nossas expectativas, mesmo achando desde o primeiro momento que 'Malu' era um filme importantíssimo, de muita qualidade e que ia causar barulho. Foi um fenômeno porque é um filme que fala com todo mundo, sejam plateias mais cinéfilas ou menos cinéfilas. Fala com o público jovem, com o público mais adulto, com público feminino, mas também com o público em geral porque todo mundo saia do cinema se sentindo mobilizado, impactado e emocionado", disse Rattes.

E falando em sucesso, a distribuidora também tem sua aposta para 2025, que é o longa Vitrines, de Flávia Castro. O longa ainda não tem data de lançamento, mas deverá ser no final de dezembro, uma vez que ainda fará sua carreira em festivais internacionais e aguarda resultados de Veneza, Toronto e San Sebastían, por exemplo. O planejamento da Filmes do Estação é fazer o lançamento em outubro, no Festival do Rio, e começar a distribuição em dezembro.

"É um filme que apostamos muito e estamos trabalhando com muito carinho a ideia de lançamento. É um filme importantíssimo e temos que abrir espaços, é disso que se trata a produção e distribuição de filmes independentes. Acho que 'Malu' vai ser nosso filme mais forte e vai ter um acolhimento muito bacana do público e da crítica. É um filme que considero muito especial e bom de assistir", revelou a executiva.

Mas, se a projeção para o futuro é otimista, é pelo trabalho que foi feito no ano passado e também em 2025. Rattes explicou que após o retorno ao mercado a distribuidora focou em entender o mercado atual de distribuição independente no Brasil, que opera com poucos recursos, e "esquentar os motores" para em 2026 começar a se tornar uma referência.

"O principal no ano passado foi a gente reaprender e entender como está o mercado atualmente. Foi um momento de entendermos como o mercado de distribuição para filmes independentes está no Brasil hoje, e digo entender na prática, não apenas em conversas, impressões e números. Nós entendemos na prática onde estão as oportunidades, onde estão os problemas e onde estão os desafios. Os filmes independentes são lançados com poucos recursos e isso tem sido a pauta dos distribuidores independentes em geral junto aos produtores, à Ancine e ao poder público. Há pouco recurso para a distribuição em comparação aos recursos para exibição e produção e, com o número de filmes que são produzidos anualmente e precisam ser lançados, é um absurdo que tenhamos poucos recursos", destacou.

Essa falta de recursos, aliás, passa pela constante mudança de políticas públicas para o audiovisual brasileiro conforme novos governos tomam o poder. O primeiro edital da Ancine para distribuição de filmes, da SVA, por exemplo, depois de mais de três anos só deverá ser lançado no próximo bimestre.

"É um problema que não é particular da distribuição e nem dos filmes independentes, é um problema do país que acaba reverberando muito forte na produção cultural brasileira. Não há segurança e as coisas mudam muito rápido. Muda o governo e o audiovisual deixa de ser importante, mas nosso setor é importantíssimo e fundamental para a hegemonia do país e fortalecer nossa imagem internamente e internacionalmente", disse a diretora da Filmes do Estação.

Mas, mesmo diante das incertezas e dificuldades, Rattes afirmou que a distribuidora está contratando muitos projetos brasileiros que ficarão prontos a partir de 2026, além de produções internacionais. Agora, depois de voltar a se consolidar no mercado, a expectativa é que investimentos mais robustos possam começar a ser feitos a partir do próximo ano, e a Filmes do Estação se torne referência no setor.

"Basicamente 2024 foi um ano de aprendizado e amadurecimento, olhando para os detalhes. Este ano também está sendo um pouco assim para conseguirmos entrar no mercado com tudo nos próximos anos e acho que 2026 já vai ser bem diferente. Nos próximos anos vamos lançar muitos filmes, fazer muitos trabalhos e conquistar a confiança dos produtores e do mercado internacional da venda de filmes, Precisamos de um chão financeiro em 2024 e 2025 para fazer voos mais ousados e chegar como uma distribuidora consolidada no futuro. Assim poderemos investir tanto em filmes independente de maior peso, quanto o mercado internacional aportar maior investimento para filmes brasileiros. Espero que a Filmes do Estação seja o mais relevante possível e contribua da melhor forma possível no mercado brasileiro de cinema independente", concluiu a executiva.

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