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15 Julho 2025 | Gabryella Garcia

Produtora brasileira Vulcana celebra "melhor ano da história" após passagens pelos festivais de Cannes e Berlim

Jéssica Luz e Paola Wink, sócias da Vulcana, apostam em coproduções internacionais para alcançar um público maior

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(Foto: Divulgação)

O ano de 2025 certamente representará um divisor de águas na trajetória da Vulcana Cinema, uma produtora brasileira sediada em Porto Alegre e fundada em 2018 por Jéssica Luz e Paola Wink. No primeiro semestre deste ano a Vulcana emplacou o filme A Cobra Negra, no Festival de Cannes, e Ato Noturno, no Festival de Berlim, e agora, visando conquistar um público ainda maior e se destacar também no circuito comercial, a produtora celebra seu melhor ano marcando presença também no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary.



O primeiro grande ato neste ano veio com Ato Noturno, longa da dupla Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, que teve sua première na seção Panorama, na Seleção Oficial da última edição da Berlinale, em fevereiro deste ano. Pouco depois, A Cobra Negra, do francês Aurélien Vernhes-Lermusiaux, fez sua estreia mundial no ACID, mostra paralela dedicada a longas independentes do Festival de Cannes. O filme é resultado de uma coprodução entre a empresa gaúcha, França e Colômbia e coroa uma fase de destaque da produtora em eventos internacionais.

"É o nosso melhor ano e é impressionante que isso esteja acontecendo em um momento que está super difícil para o mercado e para as seleções internacionais dos filmes. Começamos com Berlim no início do ano com ‘Ato Noturno’, que foi muito bem na Panorama, e tivemos uma grande visibilidade em uma sessão com mais de mil pessoas. Depois veio Cannes com ‘A Cobra Negra’, que é um filme colombiano e francês, e foi incrível", destacou Jéssica.

O "tour europeu", entretanto, ainda não estava completo e a Vulcana marcou presença no tradicional Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, na República Tcheca, que historicamente tem pouca presença de filmes brasileiro e aconteceu entre 4 e 12 de julho. Paola, uma das sócias da produtora, relembrou que o projeto nasceu pouco antes da pandemia e a pausa forçada em gravações e andamento de projetos foi crucial para que os frutos do sucesso estejam sendo colhidos hoje.

"Foram muitos anos de trabalho depois que surgimos em 2018. Fizemos nosso primeiro longa juntas em 2019 e em seguida veio a pandemia, então ficamos dois anos sem filmar, mas trabalhando muito. Desenvolvemos muitos projetos e trabalhamos no roteiro e desenvolvimento. Naquele momento tivemos sorte de ter recursos captados para alguns projetos, então tivemos esse tempo de qualidade para desenvolver os projetos. Passamos dois anos realmente sentadas escrevendo, planejando e olhando para os próximos passos da empresa. Apesar de toda insegurança e incerteza, nos mantivemos unidas para seguir e produzir esses projetos. Quando o mercado voltou depois da pandemia, a gente começou a produzir e já filmamos quatro longas na sequência e começamos a ter uns três longas por ano, uma produção absurda para uma produtora tão pequena", relembrou.

Hoje a Vulcana já conta com 12 longas produzidos em seu currículo, e uma das premissas da empresa sempre foi fazer uma curadoria muito criteriosa para escolher seus projetos, além de buscar a parceria de diretores e diretoras admirados por Jéssica e Paola. Esse trabalho criterioso, aliás, também conversa com um dos pilares visto como primordial para o sucesso da produtora: a internacionalização. Soma-se a visão o período de incertezas vivido pelo mercado audiovisual depois da pandemia, e a Vulcana começou a estreitar suas relações com produtoras de outros países.

"Fomos pegando uma cancha de gravação e no pós-pandemia, tendo desenvolvido muito bem os projetos, começamos a internacionalizar muito eles. Começamos a abrir muitos contatos fora do Brasil com medo do que poderia acontecer aqui. Pensamos que poderíamos só fazer nossos projetos aqui e ficar presas por causa de Bolsonaro e Ancine, ou poderíamos abrir para fora e conseguir dinheiro fazendo parcerias internacionais. Acho que essa foi uma das mudanças da empresa e foi quando percebemos que a gente tinha que fazer parcerias com empresas de fora para garantir que iríamos continuar produzindo com frequência e seguir com esse ritmo de três longas por ano ou três grandes projetos. É um trabalho de muita curadoria e entramos em projetos internacionais que víamos potencial e nos conectamos com as histórias, então é importante escolher os projetos que entramos pensando no alcance internacional que podem ter e ver se dialogam com a gente. Esse sucesso é resultado de um trabalho muito cuidados de desenvolvimento, mas também de uma curadoria em escolher esses projetos", resume Paola.

Apesar do sucesso, é impossível não pensar que a produtora está localizada no Rio Grande do Sul, fora do eixo Rio-São Paulo. Mas para as sócias, o que poderia ser uma barreira, na verdade é um diferencial com um custo menor para filmagens e também muitas oportunidades. Jéssica destaca que a receptividade de diretores de outros estados ou países com Porto Alegre é ótima e esse intercâmbio cultural traz um ganho artístico também para os projetos.

"Isso também funciona para coproduções internacionais e nosso objetivo - e o objetivo da Vulcana - é fomentar a indústria gaúcha. Sempre tentamos trazer os projetos para cá e filmar aqui porque queremos dar emprego para pessoas daqui e que nosso elenco tenha oportunidade de trabalhar. Não queremos apenas que a empresa dê certo, mas que isso aconteça para que as pessoas não vão embora daqui pela falta de oportunidades. Queremos que os profissionais possam ficar, que tenha uma indústria e um volume de gravações", completou.

Agora, vivendo um "momento mágico", o trabalho da Vulcana não para. Além de A Cobra Negra, que fez sua estreia em Cannes, a produtora já tem Futuro Futuro, de Davi Pretto; Madre Pájaro, de Sofia Quirós Úbeda; e Noviembre, de Tomás Corredor em fase de pós-produção, além de Talismã, de Thaís Fujinaga, que começou suas filmagens no mês de maio. Diante de um ótimo momento, a expectativa para o futuro é alcançar um público ainda maior e expandir as parcerias em coproduções internacionais.

"Queremos fazer mais coproduções internacionais e fazer filmes que circulem mais, esse é um grande objetivo nosso. Queremos alcançar um público maior com um espaço de visibilidade um pouco mais comercial para os filmes, que não fique restrito aos festivais. Estamos tentando fazer novas parcerias para abrir o leque de audiência dos filmes", finalizou Jéssica.

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