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06 Julho 2016 | Vanessa Vieira

Brexit pode fortalecer cinema irlandês e reduzir lucro de mídias no Reino Unido

Analista afirma que o gasto com propagandas e anúncios nos meios britânicos podem cair US$ 1,3 bilhão em dois anos

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"O Quarto de Jack" foi um dos destaques do cinema irlandês neste ano (Foto: Universal Pictures)

Após o resultado do referendo que marcou a saída do Reino Unido da União Europeia - UE, em 23 de junho, grande parte do mercado cinematográfico se manifestou contra a decisão, apelidada de Brexit. Porém, novas possíveis consequências da saída do país do bloco econômico ainda são debatidas pelo setor – e nem todas são negativas.

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Se há um mercado de cinema que pode ser beneficiado pela decisão britânica é a Irlanda, cujo setor audiovisual passa por período de crescimento e os últimos anos têm sido de sucessos para o território com direito a filmes premiados como Brooklin e O Quarto de Jack – este último, por exemplo, ganhou uma estatueta no Oscar 2016 e foi destaque no Canadian Screen Awards. A Irlanda ainda faz parte da UE e não tem intenção de sair do bloco, o que manterá seu acesso aos subsídios destinados às coproduções entre países signatários por meio de projetos como o Media. A diferença é que agora a “concorrência” para esses recursos tem um forte participante – o Reino Unido – a menos. Além disso, os subsídios oferecidos pelo governo irlandês para produções filmadas no país são considerados atrativos para o mercado, com uma taxa de desconto de 32%.

A redução de coproduções é, inclusive um dos maiores receios para os estúdios e distribuidores britânicos já que grandes títulos do cinema têm saído desse modelo de filmagem – Brooklin, por exemplo, é uma coprodução entre Irlanda e Reino Unido. Novos investimentos como o do European Investment Fund (Fundo de Investimento Europeu, em tradução livre), que cederá US$ 135 milhões à pequenas e médias produtoras da indústria audiovisual da UE em 2016, podem não mais incluir empresas britânicas.

A saída do país da UE ainda pode prejudicar a chegada dos filmes britânicos às mídias europeias, já que agora eles não farão mais parte da cota destinada aos lançamentos de territórios do bloco econômico. O inverso – espaço para longas da UE no Reino Unido – também é verdadeiro. Afinal, esses títulos não mais receberão incentivos do Media para serem distribuídos na região. Entre 2014 e 2015, cerca de US$ 1,3 milhão foi investido em estreias de longas europeus no país.

Quem pode se beneficiar também com a possibilidade de menos filmes europeus em cartaz no Reino Unido é o próprio país, que pode aumentar o market share do cinema nacional, e Hollywood, que deve ter menos competição pelas telonas.

Já do lado das celebridades, atores continuam a se manifestar contra a saída do Reino Unido da UE como é o caso de Christoph Waltz (Bastardos Inglórios) e Ewan McGregor (Anjos e Demônios e o lançamento de 2017 A Bela e a Fera).

Apesar do posicionamento geral da indústria contra o Brexit, alguns agentes do mercado têm apresentado opiniões positivas sobre a mudança como é o caso do diretor britânico Paul Duddridge (Mothers and Daughters, sem título em português). O cineasta afirmou, em artigo para o portal The Hollywood Reporter, que acredita ser benéfica a decisão do país. Duddridge se considera pró-Europa, porém afirma que a saída da UE pode fazer com que o cinema britânico pare de restringir suas opções de financiamento às existentes na Europa e passe a lidar diretamente com os mercados internacionais e dos EUA. O que, para ele, modernizaria o modelo de produção cinematográfica vigente no Reino Unido e promoveria uma maior internacionalização de seu conteúdo.

A entidade Creative Industries Council, que reúne representantes de empresas da indústria criativa do Reino Unido, anunciou a criação de um grupo de trabalho que avaliará o real impacto que o Brexit deve ter na indústria criativa da Inglaterra e de todos os territórios do Reino Unido. O grupo avaliará tanto os resultados negativos quanto as oportunidades que a mudança pode trazer ao mercado local. O primeiro relatório da força-tarefa deve ser publicado em agosto próximo. [Atualizado em 07/07/2016, às 13h35]

Impacto financeiro

Os reflexos do Brexit também têm aparecido nas ações das mídias voltadas ao entretenimento na Europa, que registraram quedas e estagnação à espera do real impacto da mudança, ainda não aparente.

No âmbito da publicidade, as mídias britânicas podem sofrer com a queda dos investimentos e anúncios europeus. De acordo com a consultoria Ender Analysis, os valores destinados às propagandas devem cair cerca de US$ 1,3 bilhão em dois anos.

Financeiramente, ainda podem existir outras consequências negativas da saída do Reino Unido da UE como a redução dos lucros obtidos em bilheterias por conta da desvalorização da moeda local, a Libra Esterlina. No entanto, isso pode ter um lado positivo que é tornar o território mais atrativo para locações de filmagens.

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