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Debora Ivanov durante o Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual 2019
Debora Ivanov durante o Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual 2019 (Foto:Andreia Naomi)
Especial

Debora Ivanov explica os caminhos da Ancine para impulsionar inclusão no mercado

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Em entrevista ao Portal Exibidor, a diretora comemora os feitos da agência

19 Junho 2019 | Renata Vomero

Debora Ivanov é um dos nomes mais importantes da atualidade com relação ao trabalho de desenvolvimento do cinema nacional, principalmente, no que se trata de um olhar sobre a diversidade nos cinemas, tanto nas telas, quanto por trás delas. À frente da Ancine, fazendo parte da diretoria colegiada, desde 2015, a executiva empenhou-se em trazer a pauta para dentro da agência e também para o debate público, impulsionando, assim, um início de transformação no mercado.

Foram inúmeras as iniciativas voltadas para a inclusão de mulheres, negros e cineastas de fora do eixo Rio-SP estimuladas pela Ancine sob o comando de Debora: paridade de gênero nas comissões de seleção, cotas no Fundo Setorial do Audiovisual, eventos voltados para o tema e investimento em pesquisas e coleta de dados foram apenas algumas dessas movimentações. Agora, já em seu último ano na agência, Debora começa a mirar para o futuro, enquanto celebra a trajetória traçada nestes últimos anos. Para o Portal Exibidor, a executiva revelou os detalhes deste caminho e as expectativas para as próximas gerações no cinema.

A entrevista faz parte de uma série especial com mulheres que fazem parte do mercado audiovisual. Nas próximas semanas, o leitor poderá conferir o bate-papo com Carolina Costa, presidente da Comissão de Gênero, Raça e Diversidade da Ancine, e Amanda Nevill, CEO do British Film Institute (BFI). 

Confira a conversa:

Ser mulher no audiovisual é...

É ser muito forte, porque os espaços são limitados e a gente tem que ser muito confiante e forte para abrir caminhos, não só para nós mesmas, mas para as outras mulheres também.

Quais são as dificuldades que as mulheres encontram no mercado?

É um mercado que se formou muito calcado no talento, na administração e na organização masculina, então, em média 80% desse mercado conta com diretores e roteiristas homens. Se a gente representa mais da metade da população brasileira, tem alguma coisa que não está encaixando. A gente precisa ter mais diversidade, se não a gente tem 80% das obras e das narrativas construídas para a sociedade e para as futuras gerações com uma visão masculina. Nada contra, mas nós queremos que a visão feminina também ajude na construção dessa sociedade.

Quais medidas ainda são necessárias para que esse cenário se transforme?

Muitas são as medidas, é um conjunto. Do lado da política pública é estimular por meio dos seus instrumentos, que são de fomento e regulação, para que haja maior diversidade. Alguns estímulos são paridade de gênero nas comissões de seleção e indutores, como pontuação a mais para ter equilíbrio quando forem mulheres, negros, indígenas. Esse é o papel da política pública, também de articular com a sociedade organizada em um movimento para sensibilizar as produtoras e a indústria para que abram mais espaço para as mulheres. Do lado da sociedade civil, uma conscientização de que é muito bom ter mais diversidade, ela traz lucro também. As mulheres são extremamente competentes e capazes para assumirem qualquer posto de liderança, então, também sensibilizá-los para que contratem mais mulheres.

A Ancine fez uma pesquisa em 2016 em que divulgava o número escasso de mulheres na direção. A partir destes dados, quais medidas foram tomadas pela agência?

Nós formamos uma comissão de diversidade para fortalecer a pauta dentro da própria agência, que é constituída por servidores. Também conseguimos colocar a paridade de gênero nas comissões que selecionam os projetos, que antes eram mais masculinas. Então, é natural que esses homens se identifiquem com histórias mais masculinas. Tendo mais mulheres, mais histórias femininas começam a ser contempladas. No comitê de investimento, que dá a decisão final sobre o investimento nas produções, a gente pela primeira vez atentou para uma composição com diversidade. Em 2018, pela primeira vez estabelecemos cotas para diversidade em uma pequena parte do Fundo Setorial do Audiovisual, são 10% só. Mas já é um passo importante para começar a mudar.

De que maneira ter mulheres, negros e cineastas fora do eixo Rio-SP dirigindo e produzindo filmes se reflete na diversidade que vemos nas telas?

Diversidade é um tema que na Ancine começou a ter maior foco com a aprovação da Lei 12.485 de 2011. Conseguimos aprovar no congresso que 30% dos recursos deveriam ser destinados para o norte, nordeste e centro-oeste e 10% para o Sul, Minas Gerais e Espírito Santo, então, 40% dos recursos do fundo são destinados para regiões de fora do eixo Rio-SP. Agora que estão chegando essas obras, porque é algo que demora, mas agora você tem produções do norte ao sul do país. Portanto, a gente não tem só o olhar de São Paulo e do Rio de Janeiro sobre esses lugares, mas sim o olhar de dentro de cada uma dessas regiões para cada obra. Vamos ter aos poucos a diversidade do país nas telas, principalmente, nas de televisão.

Qual filme dirigido por mulher é seu favorito?

Meu favorito é o Que horas ela volta? (Pandora Filmes) porque acho que foi um marco na nossa cinematografia, nesse debate sobre a liderança feminina, a Anna Muylaert, naquele período, se tornou uma referência para todo o movimento. Foi algo que alcançou todo mundo, ele foi exibido até em aldeias indígenas e em grandes mercados internacionais e ela sempre fez questão de pontuar a pauta da mulher na liderança na construção das histórias.

Como você enxerga o mercado daqui a 10 anos em termos de inclusão?

Sou otimista! Porque o que estamos fazendo é de longo prazo mesmo, quando você faz edital, o filme só vai chegar nas telas depois de quatro ou cinco anos. É sempre já pensando no futuro. Não consigo pensar em curto prazo esse mercado estando meio a meio, como a gente visualiza, mas acho que vamos aumentar bastante. Até porque quando a gente dá luz a essa pauta, as mulheres se sentem mais empoderadas, menos acuadas e mais fortalecidas para lutar pelo seu espaço, porque no geral as mulheres se colocam sempre nesse lugar de coadjuvante em todas as áreas, isso faz parte da nossa criação e nossa cultura. Elas estão se colocando mais! Nas faculdades você vê na grade curricular, as referencias são sempre masculinas, então, quando você forma as equipes, os homens já se colocam, mesmo sem experiência. Isso está mudando, porque as referências já estão mudando.

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