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(Foto:Andreia Naomi)
Especial

CEO do British Film Institute acredita em um futuro otimista para as mulheres no audiovisual

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Amanda Nevill espera que mudanças surjam por meio das próprias profissionais

03 Julho 2019 | Renata Vomero

O Seminário Internacional Mulheres no Audiovisual, que aconteceu em junho em São Paulo, contou com a ilustre presença de Amanda Nevill, CEO do British Film Institute (BFI). No evento, a executiva trouxe um panorama britânico acerca da questão da inclusão de mulheres no audiovisual. O BFI, que atua como um órgão regulador do mercado cinematográfico no Reino Unido, elaborou diversas medidas que visam a igualdade de gênero no setor. A mais importante delas foi a criação do BFI Diversity Standards, com quatro critérios, ou standards, como eles chamam, cujas produções devem seguir para ganharem apoio financeiro, estes requisitos são todos voltados para representatividade, seja nas telas, nos bastidores ou, até mesmo, nas histórias. Os filmes precisam seguir pelo menos dois deles para conseguirem o financiamento.

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Além disso, o BFI tem também seu foco voltado para a capacitação de jovens para a entrada no mercado com a BFI British Academy, que estimula a formação de mulheres e o encorajamento para que essas sigam no setor. Amanda Nevill assumiu como CEO do BFI em 2003, sendo a primeira mulher a assumir o cargo no instituto. Desde, então, ela vem focando seus trabalhos para aumentar o equilíbrio entre homens e mulheres no mercado cinematográfico, pois acredita que tem uma grande responsabilidade quanto a isso, ocupando um cargo respeitado e de poder. Nevill, no entanto, deve deixar o cargo em 2020, mas deixa seu legado como uma das principais agentes transformadoras do segmento no Reino Unido, transformações essas, que ela acredita que não devem nunca mais parar.

A entrevista faz parte de uma série especial com mulheres que fazem parte do mercado audiovisual. O leitor já pode conferir a conversa com a diretora da Ancine, Debora Ivanov e com a presidente da Comissão de Gênero, Raça e Diversidade da Ancine

 

Ser mulher no audiovisual é...

Muito excitante, mas que ainda precisa de muitas transformações. É um momento de, como uma mulher, pegar a responsabilidade de fazer essas mudanças acontecerem.

Quais são as dificuldades que as mulheres encontram no mercado?

São muitas! Nós começamos em uma posição muito atrasada, então, estamos ainda melhorando nesse sentido. Nós temos alguns obstáculos práticos, por exemplo, como a estrutura do negócio torna complicado que se tenha uma família, estamos trabalhando nisso. Existem obstáculos que estão em um nível psicológico, porque ainda é uma arena muito dominada pelos homens, principalmente na linha final executiva, então, você precisa realmente lutar para conseguir um espaço em meio a isso. Obviamente, em termos de representação, com todo o escândalo de Weinstein, as mulheres conseguindo falar e o movimento #MeToo, para que isso mude e mude para sempre. Acho que nós mulheres temos que ser corajosas o suficiente para assegurarmos que isso não aconteça novamente e proteger as atrizes, temos que certificar que esses casos sempre sejam denunciados e que essas mulheres não sejam punidas quando falarem abertamente sobre o que sofreram.

Isso é algo que temos visto pela primeira vez em Hollywood e agora virou uma referência no que se trata a essas situações...

Nós nos focamos muito nessa questão do bullying e do assédio, porque sabemos que muitas das mulheres sofriam com isso. Por isso criamos um guia contra isso, que são parte dos nossos standards para as produções. Esse guia estipula que se você está fazendo um filme, precisa seguir esses códigos, então, basicamente, fizemos a exigência de que se deve ter duas pessoas no set para que a vítima possa recorrer, são duas pessoas treinadas para lidar com essas situações, que devem ser de confiança. Estamos financiando uma linha telefônica de ajuda, isso serve para todos, para que saibam que se você passar por uma situação desconfortável, você tem um lugar para ligar e conversar sobre e ter um suporte legal. Tem uma outra coisa que fizemos que é muito interessante, que são conferências com os alunos nas escolas de teatro do Reino Unido, compartilhando com eles diversas histórias e comportamentos em que explicamos o que fazer nessas situações, como procurar ajuda legal, como reagir, como cada lado deve reagir. Isso ajuda muito, porque faz com que as mulheres desses grupos entrem para o mercado de trabalho já muito empoderadas. Porque esse conhecimento faz muita diferença.

Como você enxerga o mercado brasileiro com relação à inclusão de mulheres?

Estou muito impressionada com o evento que está acontecendo aqui [Seminário internacional Mulheres no Audiovisual], e isso mostra que existe um real e muito forte desejo de pegar o controle dessa situação. É uma sociedade lindamente diversa, não é? Vocês têm a maior população nigeriana fora da Nigéria, maior população japonesa fora do Japão... e estão querendo trabalhar em cima disso. Estou conhecendo aqui muitas mulheres empoderadas.

Como é essa questão no Reino Unido?

Mudou muito. Acho que nós começamos esse movimento de uma vez por todas e não vamos mais parar. Tudo se transformou drasticamente. Não acho que tivemos grandes problemas como o que houve em Hollywood e imagino que no Brasil também não aconteceu, o que é até reconfortante porque o nosso mercado é muito grande. No entanto, claro que temos nossos problemas. Acho que o mais importante é que agora os homens sabem que eles precisam ter muito cuidado com o comportamento deles, pois agora serão punidos e sofrerão consequências.

De que maneira ter mulheres por trás das câmeras se reflete na diversidade que vemos nas telas?

Eu acho que não muda totalmente, não é algo 100%. Não acredito que ter mulheres na direção de repente vai fazer com que todos os filmes sejam sobre mulheres, acho que isso pode afetar na diversidade, sim. Porque mulheres podem fazer filmes de ação tão bem quanto contar histórias sobre mulheres. Mas com certeza terão mais histórias sobre mulheres agora!

Qual seu filme favorito dirigido por uma mulher?

Eu realmente gosto de Belle, de Amma Asante, realmente gosto deste longa. Eu posso dizer aqui muitos filmes! Amo as produções da Joanna Hogg, a última dela foi The Souvenir, que realmente é fantástico. Eu estava pensando sobre isso no avião, vindo para cá, que todo o renascimento deste movimento, nos últimos três ou quatro anos, me fez perceber que eu sempre fui levada a assistir filmes sobre mulheres. Então, é muito animador saber que teremos mais histórias assim.

Como você vê o mercado daqui a 10 anos?

Acho que será muito diferente de como é agora. Penso que vamos olhar para trás e ficar horrorizados com algumas coisas que aconteceram, não só sobre as situações, mas sobre as atitudes. Realmente acredito que teremos muito mais equilíbrio. Olha só onde estamos agora, sentadas aqui no Brasil falando sobre esse assunto e muita coisa já mudou em tão pouco tempo, nem poderíamos imaginar isso há poucos anos. Sou otimista!

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