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15 Abril 2021 | Renata Vomero

Oscar a conta gotas: Premiação em cenário de crise acarreta temporada nebulosa para o mercado brasileiro

Cerimônia se aproxima com poucos indicados em cartaz nos cinemas

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(Foto: Diamond)

Estamos a dez dias do Oscar e se estivéssemos vivendo em um mundo normal, nossos cinemas estariam transbordando em indicados à maior premiação da indústria. No entanto, o atual cenário nos permite lançamentos a conta gotas nos cinemas, com datas descoordenadas, e uma aposta nas plataformas digitais para garantir que os cinéfilos estejam em dia com os favoritos às estatuetas no dia 25 de abril.

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Toda distribuidora quando analisa o mercado internacional fica de olho nos filmes que podem despontar no Oscar do ano seguinte, sabendo a força que o título ganha no mercado quando recebe uma indicação. Não foi diferente neste ano, quando os players brasileiros imaginavam que nesta altura a pandemia já estaria para trás e os cinemas estariam em plena atividade.

Com poucas praças abertas, os títulos fazem pequenas estreias de acordo com as aberturas descoordenadas dos cinemas. Com isso, o VOD ganha força, quando não o próprio streaming. Foi o que aconteceu com Druk – Mais Uma Rodada (Vitrine/Synapse), por exemplo. O favorito ao Oscar de Melhor Filme Internacional entrou em cartaz nos poucos cinemas abertos em 25 de março, expandindo o circuito à medida que reaberto, no entanto, foi no digital que sua estreia ficou concentrada, com grande campanha de marketing voltada justamente a isso.

“Nossa expectativa era de conseguir um grande público no cinema e que compareça com segurança quando for abrindo, há uma expectativa grande no streaming e depois o retorno, na retomada. Consegui ver o filme na sala de cinema e é uma experiência incrível, única. Espero que as pessoas consigam assisti-lo assim quando puderem”, comentou Felipe Lopes, diretor da Vitrine Filmes, que distribui o filme em parceria com a Synapse. Desta forma, o longa dinamarquês fez até o momento bilheteria de R$3 mil, segundo a Comscore.

O caso de Meu Pai (Califórnia) é um pouco parecido. Poucas semanas antes da estreia do filme, em 8 de abril, a Califórnia decidiu lançar o filme diretamente nas plataformas digitais. No entanto, nas vésperas da data, com a reabertura dos cinemas do Rio de Janeiro, o filme foi lançado em formato híbrido. A decisão foi um acerto, pois o longa, que conta com seis indicações ao Oscar nas categorias principais e é protagonizado por Anthony Hopkins, abriu no quinto lugar no ranking da bilheteria brasileira, com 890 ingressos vendidos e arrecadação de R$12,4mil, e ficou em primeiro lugar no ranking de aluguel digital do iTunes no Brasil. Ainda assim, não deixa de ser uma estreia diluída e que parece, assim como a maior parte delas, se enfraquecer em meio a um cenário caótico e difuso.

Na semana de sua estreia, que seria hoje (15), Nomadland foi adiado para o dia 29 de abril. Apontado como o grande favorito da temporada, no entanto, pouco se sabe se haverá alguma estratégia diferenciada da Disney, distribuidora aqui no Brasil, para tentar alcançar maior público, mesmo que no digital. Aliás, Nomadland também inaugurou um formato curioso nos EUA, onde estreou simultaneamente ao Hulu. Por lá, o selo Searchlight não disponibilizou os dados de bilheteria do filme, por receio dos resultados serem mal julgados de acordo com o cenário da pandemia na época.

Minari – Em Busca da Felicidade passou pela mesma questão por lá. E aqui no Brasil, o filme estrearia nos cinemas em 22 de abril, na expectativa de que mais cinemas estejam abertos na data e também aproveitando e muito o buzz em torno do Oscar, já que o filme está entre os queridinhos da premiação. No entanto, a data está indefinida no momento.

“Estamos muito confiantes no potencial do filme para o seu público-alvo e assim que houver condições favoráveis, lançaremos o filme. É uma situação totalmente atípica, com grandes filmes tendo seus lançamentos postergados, reduzidos ou realizados diretamente em outras janelas. Além de todas as questões humanitárias, lamentamos muito toda essa situação, pois sabemos da relevância desse período e desses filmes para diversos exibidores, principalmente os circuitos arthouse, que tanto vem sofrendo desde o início da pandemia. Torcemos para que esse cenário se reverta o quanto antes”, reforçou Gabriel Gurman, codiretor geral da Diamond Filmes, responsável pelo lançamento do filme no Brasil, e CEO da Galeria Distribuidora.

Reação do público

Esse vai e vem nos cinemas e o lançamento direto nas plataformas digitais, seja em VOD, seja em streaming está deixando o público bastante confuso, reforçando a importância do cinema para aumentar a visibilidade dos títulos.

Em um estudo realizado nos Estados Unidos foi concluído que os consumidores de entretenimento estavam pouco cientes sobre os filmes que estavam na disputa do Oscar. A avaliação, realizada pela empresa de pesquisa Guts + Data um pouco depois do anúncio dos indicados, constatou que o filme que o público mais está ciente sobre é Judas e o Messias Negro, coincidentemente – ou não -  único título de major entre os nomeados. A produção da Warner foi um dos primeiros filmes do ano a estrear nos cinemas e na HBO Max ao mesmo tempo.

Os 7 de Chicago (Netflix), Nomadland (Disney) e Bela Vingança (Universal) também entraram na lista dos mais conhecidos. No entanto, nenhum deles chegou aos 50% de “conhecimento”. Algo que pode preocupar a academia e todos os players envolvidos. Principalmente em um ano em que boa parte dos filmes estão disponíveis na casa dos consumidores, evidenciando, que essa facilidade no acesso não se concretiza em números e sucesso.

Em seu artigo da semana passada no Portal Exibidor, Marcos Oliveira, muito cirúrgico, chamou este de “o Oscar mais silencioso de todos”. Sua reflexão nos leva a pensar no papel do cinema, mas também em como o período de incertezas atrapalhou nas estratégias dos lançamentos, que tiveram que ser repensadas em cima da hora, nos 45 do segundo tempo, impactando todos os resultados.

Com tantos títulos diluídos pelo ambiente digital, não são poucas as matérias na mídia tentando orientar o público em como encontrá-los por aí. As produções de streaming acabam, com isso, ganhando mais visibilidade, pois são facilmente achadas nas plataformas, estas que o público já é assinante.

A Netflix divulgou nesta semana uma análise que apontou um boom nas visualizações dos filmes que estão na concorrência. Mank está entre eles e é o mais indicado no Oscar, mas, ainda assim, não está entre os de maior conhecimento do público. É um cenário nebuloso, em que não vemos ganhadores, com exceção daqueles que levarem a merecida estatueta, inclusive, porque são todos filmes que abordam temáticas relevantes e urgentes, mas que, fora dos cinemas, acabaram passando batido, infelizmente e, mais do que tudo, injustamente.

A reflexão aqui dá algumas voltas e para sempre no mesmo ponto de partida. Afinal, será que, mesmo dentro de tantas novas possibilidades, o cinema não continua sendo a janela mais importante de exibição? Talvez o Oscar traga uma resposta a nós.

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