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20 Abril 2021 | Renata Vomero

Anna Muylaert fala sobre o processo de desenvolvimento de seu próximo filme

"O Clube das Mulheres de Negócios" retrata uma sociedade onde as mulheres estão no poder

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(Foto: Divulgação)

Enquanto se prepara para o lançamento do documentário Alvorada (Vitrine), que retrata o processo de impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, a cineasta Anna Muylaert já está desenvolvendo seu próximo filme de ficção, O Clube das Mulheres de Negócios.

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O longa será produzido pela Glaz Entretenimento, em coprodução com África Filmes e Globofilmes, e distribuição da Vitrine Filmes. Ainda sem previsão de estreia, o filme mostrará uma sociedade brasileira em que as mulheres que ocupam os espaços de poder. Ou seja, um espelhamento da nossa realidade, tão marcada pelo machismo e patriarcado.

Sem a possibilidade de filmar durante a pandemia, Muylaert acabou se aproveitando do momento para fazer ajustes no roteiro do filme, “subindo mais o tom”, segundo ela. Tudo isso porque notou uma discrepância entre líderes homens e mulheres na condução da pandemia, percebendo maior efetividade nas lideranças femininas.

“No início da pandemia, quando o presidente disse que se tratava apenas de uma gripezinha, que ele próprio não teria problemas, porque ele tinha histórico de atleta, eu fiquei em choque. Pensei que no dia seguinte mesmo seria aberto um processo de impeachment contra ele, porque nitidamente ele estava vendo a coisa de uma forma enganada e totalmente irresponsável. Ao mesmo tempo, estávamos vendo diversas lideranças femininas, especialmente na Nova Zelândia, agindo de uma forma muito próxima do povo e resolvendo o problema de uma forma muito efetiva. Isso acabou impactando meu roteiro, que começou mais com a gente falando de machismo espelhado no cotidiano, e aí a gente mudou para o espaço de poder e indo para um tom mais alto”, explicou a cineasta.

Ela foi complementada pela produtora Glaz Entretenimento: “A realidade que estamos vivendo é tão distópica que precisávamos de uma história ainda mais impactante: que explorasse temas como as questões estruturais do Brasil, o patriarcado em decadência, o meio ambiente cada vez mais em risco etc. Não há dúvidas de que temos um roteiro muito poderoso em mãos. Quanto às filmagens, ainda não temos uma definição. O dinheiro para o projeto já está em conta, mas vivemos a indefinição sobre quando teremos um momento seguro para realizar as filmagens”.

Tendo então esta dinâmica do poder desenhada para retratar no filme, se tornou um objetivo de Muylaert enfatizar, por meio deste espelhamento, a violência sofrida por mulheres quando estão em um cargo de poder, já que nesta posição se tornam um grande alvo.

“O filme foi pensado justamente para que a gente veja como algumas violências no corpo feminino vão ser mais assustadoras do que no corpo masculino, que a gente já está acostumado a ver. E certas atitudes de submissão vistas num corpo masculino, são muito mais chocantes do que num corpo feminino, porque a gente está acostumado a ver também. Ou seja, a base, o DNA do filme, é desnormalizar comportamentos violentos contra a mulher”, ressaltou Muylaert.

E ela viu isso muito de perto durante todo o processo de filmagem de Alvorada, feito com Lô Politi, já que mostra justamente o processo de impeachment da presidente deste ponto de vista.

Este capítulo da história brasileira expôs a estrutura patriarcal brasileira, e o quanto ela se fortalece e se agrava à medida da chegada dessas – poucas – mulheres nesses espaços de domínio masculino.

E este processo todo, tão violento, impactou o trabalho de Anna Muylaert enquanto criava O Clube das Mulheres de Negócios, tanto que ela o considera como uma espécie de continuação de Alvorada, “porque vamos esmiuçar um comportamento que não tem vergonha de ser violento, que é o comportamento do patriarcado”, finalizou.

 

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