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28 Maio 2021 | Renata Vomero

A hora da largada: como o aquecimento de Hollywood está sendo visto pela indústria

Mesmo nos Estados Unidos players estão cautelosos com a retomada

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(Foto: Paramount)

A bandeira está no ar pronta para liberar a largada dessa corrida que está deixando estúdios, produtores, distribuidores, exibidores e até o público apreensivo. A partir deste fim de semana retomam no mercado dos Estados Unidos, alguns dos principais títulos esperados desde antes da pandemia e que prometem movimentar a indústria.



Hoje (28), feriado de Memorial Day, os norte-americanos terão na programação Cruella (Disney) e Um Lugar Silenciosos – Parte II (Paramount), tornando este fim de semana um dos mais aguardados desde que a pandemia começou.

Só para recapitular: pandemia começou, cinemas foram fechados, blockbusters adiados. Alguns cinemas depois reabriram, no entanto, a maior reclamação deles foi a falta de grandes títulos que atraíssem o público.

Em março, com o controle da pandemia nos EUA, Los Angeles e Nova York retomaram as atividades e os estúdios ganharam confiança para posicionar seus filmes na programação. Com a flexibilização dos protocolos e os cinemas podendo operar com capacidade menos limitada, tudo está se encaminhando para ser um dos mais fortes verões para o setor.

Mas as garantias ainda não foram dadas. Entre os filmes mais aguardados, como Viúva Negra (Disney), Velozes & Furiosos 9 (Universal), Em Um Bairro de Nova York (Warner), Invocação do Mal 3 (Warner), O Poderoso Chefinho 2:  Negócios de Família (Universal) e Pedro Coelho 2: O Fugitivo (Sony), há ainda uma grande incerteza em torno do que acontecerá.

Em uma análise feita pelo The Hollywood Reporter, alguns estúdios reforçaram que só saberão o que vai acontecer na hora em que houver os lançamentos e suas decisões a partir de então só serão tomadas com base nestes resultados reais e não especulativos. Inclusive, porque existem muitas variáveis no meio disso, como o encurtamento da janela, o papel fundamental do streaming neste momento, a desconfiança de alguns grupos na volta ao cinema, além de como o público consumirá entretenimento neste novo momento.

Em uma fala recente em uma conferência virtual, Bob Chapek, CEO da Disney, deixou claro que as estratégias da empresa estão sendo tomadas caso a caso e que estão sim testando os mais diversos modelos de lançamento.

“Não queríamos atrasar Viúva Negra novamente, mas não podíamos colocar todos os nossos ovos na cesta de distribuição exclusiva de cinema”, comentou Chapek, que reforçou a ideia de que os cinemas estavam precisando de títulos fortes, mesmo que estes chegassem também ao streaming ao mesmo tempo.

Já outros títulos, como Free Guy e Shang-Chi e a Lenda dos Dez anéis, terão lançamento exclusivo nas telonas. “Isso é mais tarde no verão, quando esperamos - esperamos, não temos certeza - que o mercado se recuperará mais plenamente, e esse tipo de lançamento fará mais sentido. Em algum momento, você terá que sair da doca e entrar no barco ... vamos ver como vai”, ressaltou o executivo.

Há a incerteza, mas ela vem carregada de otimismo e não um otimismo sonhador, irreal. É porque já vimos a possibilidade do futuro e ele é animador. Está lá na Ásia, num país chamado China, onde as bilheterias já recuperam os valores do pré-pandemia e a soma de arrecadação até este momento é de mais de US$4 bilhões, um norte e tanto para se espelhar. Só a abertura de Velozes & Furiosos 9 (Universal) fez mais de US$130 milhões no país.

Até o momento, o público da América do Norte não reagiu na mesma proporção à retomada dos cinemas por lá. Embora os números direcionem para um futuro próximo promissor, eles também dão o tom dessa incerteza.

Mas e o Brasil, hein?

Obviamente, a gente olha para todos estes mercados com o olhar muito atento, mas sabendo que não estamos vivenciando este mesmo momento, estamos a uns passos atrás deste controle da pandemia e retomada com força da indústria.

Embora o início da vacinação no começo do ano tenha animado os executivos da área, o descontrole da pandemia e a lenta vacinação fizeram com que muitos cinemas voltassem a fechar, deixando a retomada do circuito totalmente descoordenada.

“Olho para este momento com muita preocupação voltando, os cinemas não alcançam nem 10% da taxa de ocupação, tivemos cidades fechando. Muitos nem foram autorizados a reabrir desde o ano passado. E estamos atentos a esta nova onda que pode chegar”, ressaltou Gilberto Leal, Presidente do Sindicato dos Exibidores do Estado do Rio de Janeiro, Diretor da Aexib - Associação dos pequenos e médios exibidores do Brasil, e CEO da Cinemaxx Cinemas.

Na reabertura do fim do ano passado houve a preocupação com a escassez de fortes títulos, hoje a preocupação é a dificuldade em programá-los, visto o baixo número de salas abertas, cerca de mil no atual momento.

“O nosso problema é que com poucas salas abertas, um pouco mais de mil no momento. Alguns títulos estão entrando, mas não é um grande escândalo. Acho que quando entrar esses produtos, o pessoal vai querer voltar, porque é uma experiência muito diferente no cinema, as pessoas querem vivenciar isso. Com estes grandes títulos, agora vai melhorar, Cruella entrou grande, mas há um número reduzido de sessões e assentos, precisa dar um número maior de salas para lançar os produtos”, explicou o profissional.

Neste sentido, os programadores terão que quebrar a cabeça para conseguir encaixar os filmes quando forem lançados. Nesta mesma semana, Um Lugar Silencioso – Parte II foi adiado para o final de junho, quando estava marcado para o dia 10. Para Gilberto Leal, a decisão foi tomada justamente pensando na dificuldade de programar o longa, tendo em vista que Cruella ainda estará forte em cartaz nos cinemas.

Os profissionais responsáveis pela grade dos longas estão tendo que levar em conta não só os cinemas fechados, mas também os horários de restrição de cada um para entender as melhores estratégias para posicionar as sessões em cada complexo. É um dos grandes desafios que os exibidores e distribuidores terão que enfrentar no Brasil.

Isso sem contar a baixa taxa de ocupação e o receio que o público ainda sente de ir no cinema, receio que está diminuindo, como apontou pesquisa da Ingresso.com nesta semana, mas ainda é real.

“Mas eu acredito que no futuro, quando tudo se normalizar, as pessoas vão querer voltar com tudo para o cinema, porque é uma experiência que não tem igual, não tem como reproduzir em casa”, finalizou Leal.

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