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04 Maio 2022 | Renata Vomero

Ficção inspirada em fatos, "Pureza" busca sensibilizar público para realidade de um Brasil profundo

Longa de Renato Barbieri estreia em 19 de maio e fala sobre trabalho escravo na atualidade

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(Foto: Magno Barros)

Maio contará, no dia 19, com a estreia no circuito comercial do filme Pureza (Downtown/Paris), dirigido por Renato Barbieri. O longa é inspirado em fatos e conta a história de Dona Pureza, que, em busca do filho, travou luta contra a escravização de trabalhadores rurais no país.

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No filme, Pureza Lopes Loyola, interpretada por Dira Paes, é uma mãe brasileira que briga para livrar seu filho do trabalho escravo no país e se torna símbolo desta causa no mundo inteiro, sendo agraciada em 1997 com o Prêmio Antiescravidão, oferecido pela organização não-governamental britânica Anti-Slavery International. Sua trajetória inspirou a criação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, a primeira ação na História do Brasil destinada a combater o trabalho escravo em todo o território nacional.

Fazer um tocante retrato dessa figura era de extrema importância para a equipe do filme, que queria encontrar um meio-termo entre a ficção e o real para sensibilizar as pessoas de uma história que se mantém atual até os dias de hoje.

“Sou documentarista há 37 anos, nunca deixei de ser. Mas a ficção me deu uma visão muito importante sobre a questão do conteúdo, quando o real invadir o set e o set invadir o real. Em um documentário você fala sobre o assunto, quando se trata de um crime é muito difícil, porque eles são feitos às escondidas, a ficção permite que você filme a cena do crime. A ficção neste ponto vai muito mais na realidade, porque as pessoas conseguem ver a cena.  É um filme que traz muitas urgências, precisávamos criar algo para chamar a atenção das pessoas”, ressaltou o diretor, que ainda complementou: “ao entrar em contato com o real, ele nos humaniza, somos tocados, estamos vivos. Você é sensibilizado por essas histórias, a morte é algo hoje banalizada e sobretudo a vida é banalizada. O real é o que vai nos salvar e nos humanizar”.

Com sua veia voltada ao documental, Renato iniciou o processo de desenvolvimento deste projeto em 2007, quando teve o primeiro contato com Dona Pureza. Com ela, Renato teve acesso a registros históricos de todo o processo dela em busca de seu filho Abel.

A partir do contato com sua história, o cineasta, então, foi a campo ouvir os relatos dos trabalhadores resgatados de situações de escravidão, além de ativistas e líderes rurais que lutam contra essa prática criminosa.  

Unindo essas pontas, o roteiro começou a surgir pelas mãos de Renato Barbieri e Marcus Ligocki Jr., que também produz o onga. E, claro, do filme também surgiria o documentário Solidão, que o cineasta pretende lançar na sequência de Pureza.

No entanto, além do desafio de amarrar todas essas histórias e escolher o que entraria no roteiro ficcional, veio a dificuldade de levantar recursos para o filme, em parte apoiado por editais da Ancine, mas que precisaria de investimentos privados para ser realizado.

“O mais difícil foi captar recursos, fiz esse filme graças às políticas públicas, mas tivemos dificuldades porque não conseguíamos recursos na iniciativa privada, as pessoas achavam que era um filme sobre escravidão, mas era sobre libertação. Porque Dona Pureza é libertária, eu diria que ela é abolicionista”, reforçou Barbieri.

E foi neste caminho que veio a ajuda para colocar o filme de pé, com uma rede que o cineasta chama carinhosamente de abolicionista. Ou seja, unindo instituições nacionais e internacionais que impulsionaram o desenvolvimento do longa. Com isso, veio a ajuda da Justiça do Trabalho e Ministério do Trabalho, que pela primeira vez colocaram recursos em uma produção cinematográfica.

“Passamos a construir relacionamentos com uma rede de admiráveis organizações formuladoras de políticas públicas e de programas educativos, atuantes na luta pela erradicação do trabalho escravo contemporâneo. Esse novo olhar para a produção cinematográfica foi muito bem acolhido. Hoje, nossa rede já supera 45 organizações nacionais e internacionais engajadas no combate à escravidão e na defesa dos direitos humanos”, acrescentou Marcus Ligocki Jr., também produtor do filme, no material de imprensa.

A produção já rodou diversos festivais internacionais, sendo consagrado como melhor filme nos festivais de Panamá, Guadalupe e Big Muddy Film Festival, nos EUA, entre muitos outros. Com isso, o longa foi ganhando corpo e chamando a atenção, gerando, agora, altas expectativas em toda a equipe.

E mais ainda porque se trata de uma história que faz um retrato profundo do Brasil, com muitas feridas abertas e com tanto a se construir. Principalmente por estrear em 2022, ano de eleição, coincidência interessante visto que o filme demorou dois anos para ganhar data de estreia por conta da pandemia.

“Nesses dois anos, ele foi ganhando mais corpo socialmente, com várias sessões online, com isso fomos percebendo a potência do filme. Agora chegamos neste lançamento, curiosamente em um ano eleitoral, em que o Brasil está decidindo para onde vai, é um momento muito importante de construção de nossa identidade. Estamos em uma crise de identidade. O filme chega nesse lugar onde ele reflete um Brasil profundo, reflete uma fragilidade nossa. Então, ele chega no momento certo”, comentou Renato.

Pureza é uma produção da Gaya Filmes e Ligocki Entretenimento, o longa é distribuído pela Downtown Filmes e Paris Filmes. O filme já contou com pré-estreias em algumas das principais capitais do país e entra em cartaz no circuito comercial no dia 19 de maio.

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