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31 Maio 2022 | Renata Vomero

Maioria dos críticos de cinema dos EUA são homens e suas resenhas beneficiam olhar masculino, diz estudo

Além disso, tais profissionais atuam em espaços de maior visibilidade

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(Foto: iStock: gorodenkoff)

Em uma nova análise do Centro de Estudo da Mulher na Televisão e no Cinema da San Diego State University, foi estudada a questão de gênero na carreira de crítica de cinema nos EUA. Dentro do esperado, o segmento é dominado por homens em grande maioria, representando quase 70% dos críticos do país. As informações são da Variety.

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Em contrapartida, são apenas 31% mulheres e 0,3% pessoas não-binárias. O estudo em que saíram estes resultados é intitulado de Thumbs Down: Film Critics and Gender, and Why It Matters (“Polegares para Baixo: Crítica de cinema e gênero e porque isso importa”, em tradução livre).

Um ponto importante a ser destacado neste número – e aqui neste texto especialmente falando sobre a disparidade entre homens e mulheres – é de que a quantidade de críticas femininas caiu 4% nos últimos dois anos, depois de ver tendência de crescimento entre 2016 e 2020.

O estudo é realizado desde 2007 e liderado pela Dra. Martha Lauzen, diretora executiva do Centro de Estudo. Neste ano, foram analisadas 4 mil resenhas escritas por 334 profissionais, sendo funcionários de veículos impressos, de televisão e online – a análise foi realizada no primeiro trimestre de 2022.

E como vem sendo registrado, e de forma semelhante a outras profissionais relacionadas ao meio de cinema e televisão, as vozes masculinas seguem com maior destaque e visibilidade. Essa percepção se torna ainda mais evidente a partir de outros recortes do estudo.

Em 2022, os homens escreveram ou realizaram 74% das críticas avaliadas e as mulheres 26%, uma queda de 8% com relação a 2020. Mais preocupante também é a avaliação sobre onde estes profissionais atuam, em que tipo de meio de comunicação: 76% trabalham – e são funcionários – de veículos impressos, sites e estações de rádio, enquanto 23% eram mulheres e 0,7% não-bináries.

Já entre freelancers o jogo se equilibra mais, sendo 59% homens e 41% mulheres. Entre pessoas que administram seus próprios sites ou veículos, 71% eram homens e 29% mulheres. Ou seja, a partir destes números, fica difícil não pensar que as mulheres estão em posição de menor visibilidade, possivelmente menos empregadas em funções precarizadas, inclusive, e atuando mais como freelancers, ou seja, chamadas quando suas vozes querem ser ouvidas. E isso muitas vezes acontece exclusivamente quando se trata de filmes protagonizados e desenvolvidos sob o olhar feminino.

E essa questão pode ficar mais evidente em outro recorte do estudo que esclareceu que, em média, as mulheres dão classificações mais altas para filmes com protagonistas femininas em detrimento dos críticos do sexo masculino. E o oposto acontece justamente quando se trata de filmes com protagonistas homens.

Bom, não precisamos fritar muito nossos neurônios para compreender o impacto disso na indústria, ainda mais pensando na relevância que a crítica tem na tomada de decisões do público e no peso disso em meio à abundância de opções de conteúdo nas plataformas e cinema.

Em um mundo em que as pessoas escolhem a dedo em qual filme investirão na compra de um ingresso, entender que essa crítica pode estar desequilibrada e, assim, perpetuar um ciclo viciado e nocivo de maior visibilidade ao chamado olhar masculino em tela, parece ter um impacto radical na indústria e no que vem sendo discutido com maior ênfase nos últimos seis anos.

“Essa descoberta sugere que, como os críticos masculinos superam as críticas femininas, e os homens são mais propensos a criticar filmes com diretores homens, esses filmes alcançam maior visibilidade no mercado”, disse Lauzen em entrevista à Variety.

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