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14 Abril 2023 | Renata Vomero

Documentários nas telonas: Festivais e títulos em cartaz são reforço para formação de público

Festival É Tudo Verdade retorna ao presencial em bom momento para o gênero

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Cena de "Subject", documentário de abertura em São Paulo (Foto: Divulgação)

Começou oficialmente nesta quinta-feira (13) o É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários. Totalmente dedicado ao gênero, a 28ª edição do evento entra no calendário celebrando a volta 100% presencial para as salas de cinema – em espaços selecionados do Rio de Janeiro e São Paulo.



“O retorno pleno à projeções com público é um grande marco, depois de três anos total ou majoritariamente em streaming, devido à catástrofe da pandemia. A seleção como um todo, com ênfase nas quatro mostras competitivas, apresenta uma safra especialmente inovadora quanto às estratégias narrativas não-ficcionais. Cinema é uma experiência coletiva. Festival é essencialmente um evento gregário, social, de encontros, discussões e descobertas. A sensação assim é que o É Tudo Verdade volta para casa”, contou Amir Labaki, diretor-fundador do festival.

Na seleção estão mais de 70 filmes representando a cinematografia de 34 países, entre eles, claro, o próprio Brasil. A programação também inclui debates, painéis, palestras e workshops para destrinchar os processos em torno deste formato.

E que formato. Embora não seja novidade para ninguém, especialmente para os fãs de cinema, a força e importância dos documentários, tanto em termos de entretenimento, quanto em termos de ferramenta pedagógica, de conhecimento, e de registro histórico.

Ainda assim, os documentários são ainda muito tratados como um gênero de nicho e encontram dificuldade para quebrar essa barreira dentro do próprio circuito comercial, tendo em vista uma mística que ronda o mercado de que as pessoas, no geral, não estão interessadas neste tipo de filme.

“Agora, temos todo o tipo de assunto como cinebiografias, docs que denunciam crimes, que revelam mistérios, que mostram belezas naturais e curiosidades do mundo, etc. Acredito que pouco a pouco, e com tanta diversidade de temas, os documentários possam ganhar maior visibilidade”, comentou Sabrina Wagon, CEO da Elo Studios, distribuidora que tem apostado no gênero nos cinemas, tendo lançado recentemente Um Samurai em São Paulo e Vai, Corinthians.

Há a necessidade de fazer um trabalho de base com o gênero trabalhando com histórias que sejam atrativas até mesmo para as crianças e as famílias, e usando de uma boa estratégica de divulgação para dar mais visibilidade para essas histórias. Mesmo sendo considerado de nicho, há uma mudança em torno dos documentários, com diversos lançamentos tratando de temas mais populares e com mais diversidade no formato em si.

O próprio Amir Labaki conta que, pela percepção que teve dos filmes selecionados neste ano, além da temática comum entre eles sobre ascensão do autoritarismo, nota-se uma mudança na forma como são feitos, sem o tradicional estilo de entrevistas (conhecidos como “talking heads”) e material de apoio. Tendo isso em vista, ele engrossa o coro da dificuldade para a divulgação e apoio na distribuição.

“O maior desafio, como de toda produção esteticamente mais engajada, ficcional ou documental, é conquistar visibilidade, no sentido de presença constante em salas. Como raras exceções no mercado mundial, França talvez a principal, faltam instrumentos de apoio à distribuição e à publicidade dos documentários”, exemplificou Labaki.

Mas há uma certa maré boa surgindo para o gênero, dois grandes festivais recentes de cinema deram seus maiores prêmios para documentários, tanto em Veneza, em 2022, com All The Beauty And The Bloodshed, quanto Berlim, com Sur L'Adamant, no início deste ano. O Festival de Cannes também deu maior destaque para o formato na sua seleção principal nesta semana.

Ao que tudo indica, há uma tendência se formando em torno deste tipo de filme, que talvez sirva de empurrão não só para o público, que está na ponta final da indústria, mas especialmente para o mercado – tanto distribuidores, quanto exibidores – que podem perceber aí um caminho para trabalhar com esses filmes com mais cuidado e estabelecendo um modelo de negócio diferenciado para ele. Este, inclusive, foi o tema do artigo escrito pela produtora e documentarista Patricia Travassos ao Portal Exibidor recentemente.

“Premiações em grandes festivais e em reconhecimentos como o Oscar e o César são extraordinárias plataformas de divulgação, de documentários como de todo cinema de arte. São excelentes instrumentos de convencimento do mercado quanto ao interesse mais amplo pela produção não-ficcional”, respondeu Amir Labaki.

E é impossível ignorar o papel do streaming na popularização deste gênero, com uma entrada maior nas plataformas, parece que ali os documentários estão encontrando seus públicos, talvez pela facilidade do acesso, talvez pelo volume de conteúdos do tipo, mas  está dando certo. Há uma resposta interessante quanto a isso e essa resposta é: há público. Mas os conteúdos que fazem sucesso costumam ser bastante específicos.

“O streaming tem disponibilizado diversos documentários com foco na grande audiência como os true crime e filmes de grandes artistas personalidades que têm feito enorme sucesso.

Para mim, o segredo é seguir a tradicional jornada do herói independente do formato. Os documentários que fazem sucesso não são documentários ‘contemplativos’ e sim com protagonista forte que busca algo e sofre uma transformação durante o processo”, destacou Sabrina.

É por isso que eventos e festivais como o É Tudo Verdade se mostram fundamentais para trabalhar essa formação de audiência. Além disso, o encontro dentro da sala de cinema torna a experiência muito mais vívida e emocionante.

“Desde sua primeira edição, em 1996, o É Tudo Verdade visa a oferecer uma vitrine nobre e exclusiva para a nova safra do documentário brasileiro e internacional, assim como para os clássicos não-ficcionais. A expectativa [para esta edição] é, de um lado, o reconhecimento pelo público da excelência da produção, de seu caráter surpreendente e sedutor e, de outro, da redescoberta do calor humano nas salas de projeção”, finalizou o diretor.

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