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27 Setembro 2023 | Yuri Codogno

"Tem que seduzir o público, o cinema é um ato de amor", diz Karim Aïnouz sobre documentários nas telonas

Com "O Marinheiro das Montanhas" e "Nardjes A.", cineasta realiza dois lançamentos amanhã (28)

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(Foto: Divulgação/Bob Wolfenson)

Lançamentos duplos de um mesmo diretor nas telonas é algo que não observamos todos os dias, mas o cineasta Karim Aïnouz está aqui para provar que é possível. O Marinheiro das Montanhas e Nardjes A., ambos distribuídos pela Gullane, entram em cartaz amanhã (28) com o desafio de serem documentários que consigam “seduzir” o público a prestigiá-los nos cinemas.



O Portal Exibidor conversou com Karim sobre as duas estreias e contou um pouco sobre cada uma, além de termos conversado sobre um panorama geral da indústria. A transcrição na íntegra pode ser conferida ao final da matéria.  

Ambos os filmes foram gravados na Argélia, país localizado no norte da África. Enquanto O Marinheiro das Montanhas retrata a busca de Karim por conhecer a terra-natal de seu pai, identificando, assim, um pouco mais sobre sua figura paterna, Nardjes A. retrata as manifestações pró-democracia que estavam acontecendo no país em 2019, ano em que as duas produções foram rodadas. 

Sobre O Marinheiro das Montanhas, o filme foi contemplado como sendo algo bastante pessoal, mas, segundo o cineasta, não é bem assim: “O pessoal, na verdade, é uma estratégia para falar de um tema universal, que é a busca pela liberdade, a busca pela autodeterminação. Então o pessoal para mim é um lugar que uso para falar de um tema maior, mas ele me permite ser mais emocional, entendeu? Através de uma perspectiva absolutamente pessoal, não ficar falando de mim, mas ficar falando através desse lugar. O filme é a história de um viajante que sai para conhecer a terra do pai dele, lugar que ele nunca foi em 50 e poucos anos. Então o filme tem uma coisa que é muito pessoal nesse sentido”.

Indo além, Karim considera que a ida ao cinema é um esforço gigante, por ser caro e ter que se locomover, enquanto tem uma opção mais acessível em casa. Entretanto, só as telonas proporcionam uma janela para conhecer o mundo e também para obter sensações que são difíceis de explicar. E O Marinheiro das Montanhas é um filme que busca proporcionar tal experiência. 

“Sabe quando você sai de casa e vai ver um filme que você volta e que alguma coisa mexeu em você, alguma coisa perturbou você? Porque se você sai de casa e volta e só lembra do cheiro da pipoca, não tem muito porque ver um filme. É muito importante que você saia e volte com memória de uma sensação muito particular e, se for bom mesmo, é transformador. A sensação é inexplicável, mas ela é inesquecível”, concluiu o argumento.

Por outro lado, enquanto estava na Argélia, Karim decidiu fazer gravações sobre o movimento político vigente no local na época, mas não esperava que fosse virar o doc Nardjes A..  Inclusive, nem mesmo planejava realizar tais gravações: “É como se tivesse vindo para o Brasil na época das Diretas Já. Então não tinha muito como não filmar aquilo, era um movimento febril de reivindicação da democracia, revisão das raízes democráticas do país e as ruas eram tomadas por pessoas normalmente com menos de 25 anos”. 

O cineasta também lembrou que essas gravações foram realizadas entre janeiro e fevereiro de 2019, momento em que o governo Bolsonaro, que realizou em público declarações proto-eugenistas e contra a cultura nacional, estava começando seu governo contra diversas questões humanitárias e democráticas. 

Mas agora, após quatro anos negativos - em diversos aspectos, mas aqui falando especificamente da questão audiovisual - que foram intensificados por causa da pandemia, a produção audiovisual retomou. Inclusive, há uma espécie de clamor pelo cinema nacional. 

“Os anos desse último governo foram tão tóxicos que não achei que iria retomar a produção da audiovisual independente, então [teve] essa retomada quase de fênix”, disse Karim, que também lembrou da metade final da década de 1990, quando a Embrafilme foi extinta, acabando com qualquer possibilidade de produção no cinema no Brasil. ”Aquilo foi, de fato, um golpe gigante e isso aconteceu de novo. Foram 15 anos montando a Ancine, não foi uma coisa que aconteceu de um dia para o outro. E achei que ia levar mais uns dez anos e acho que teve uma retomada tão rápida. Então fico muito feliz de em setembro de 2023 estar podendo lançar dois filmes que fiz durante os anos trágicos que vivemos na sala de cinema”, ressaltou o cineasta. 

Outro ponto abordado na conversa foi a questão dos documentários terem um pouco de dificuldade de conseguir fazer uma boa campanha nas telonas. Porém, de acordo com Karim, há uma solução: “A gente tem que saber seduzir mais o público, se o documentário tiver um pouco mais de magia e de encantamento, talvez ele não tenha tanto problema de ficar na sala de cinema. Mas tem uma outra coisa que é muito difícil competir… falo de magia porque a ficção tem uma coisa mágica, de quando sai para ver uma coisa no cinema, é uma oportunidade de viagem quando entra em uma sala de cinema. O documentário às vezes ele te coloca no lugar do real e que não necessariamente é o que você procura quando sai de casa para viajar”.

Para contornar essa “ausência de sedução”, Karim contou que estudou bastante a estrutura narrativa dos documentários, procurando um jeito de contar a história de modo que funcionasse para captar mais atenção do público. Segundo ele, se contar uma história de uma maneira envolvente, sedutora e surpreendente, independente de ser documentário ou ficção, permite que o público se transporte para aquele local fora da realidade.

“Você tem que seduzir o público, o cinema é um ato de amor, com duas mãos. E vou te dizer: uma das coisas mais sedutoras que tem é um filme. Quando você é encantado por um filme, nunca esquece. Às vezes não lembra da história, mas lembra de momentos”. 

Algo que o cineasta também citou como uma possível solução é os exibidores começarem a pensar em diferentes modelos de exibição para cada filme. Como exemplo, ele usou “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo”, que lançou em 2009 e que não teve grade cheia. Ao invés disso, toda sexta e sábado o longa tinha uma sessão no cinema, permanecendo em cartaz por cinco meses. Além disso, foi a produção de Karim Aïnouz com a melhor média de público por sala. 

“O que faz um filme ficar em cartaz é a promoção, são vocês da imprensa que comunicam filme, mas é o boca a boca. É importante dar tempo para o boca a boca [mostrar que o filme existe]. Espero que a gente tenha oportunidade de fazer com esses filmes”, ressaltando que uma exibição enxuta, mas prolongada, daria mais tempo para o próprio público divulgar o filme. 

“Eu adoraria, honestamente, conversar com os exibidores para entender como funciona, o que seria melhor, porque é um grande dilema, não tem porque ficar fazendo filmes que tem um público pífio. É muito caro, não é uma arte barata. Não é linha e pano, não é preciso só de tinta e tela. Fazer um filme bom é caro. Mas o filme precisa ser visto, senão nem precisa ser feito”, encerrou o cineasta.

Confira a entrevista:

Como cineasta, mas também como pessoa, como é lançar “O Marinheiro das Montanhas”, um filme bastante pessoal?

O pessoal, na verdade, é uma estratégia para falar de um tema universal, que é a busca pela liberdade, a busca pela autodeterminação. Então o pessoal para mim é um lugar que uso para falar de um tema maior, mas ele me permite ser mais emocional, entendeu? É muito importante você ter uma relação com o público, uma relação que é de pura emoção, igual música. Quando ouve uma boa música, você sente coisas, você quer fazer coisas, você quer dançar, você quer chorar. E o pessoal, para mim, vem muito nesse lugar. Através de uma perspectiva absolutamente pessoal, não ficar falando de mim, mas ficar falando através desse lugar. O filme é a história de um viajante que sai para conhecer a terra do pai dele [Argélia], lugar que ele nunca foi em 50 e poucos anos. Então o filme tem uma coisa que é muito pessoal nesse sentido.

Mas isso é super universal e fazer um filme dessa maneira, que é a história de uma viagem, é algo que também permite ao espectador viajar com você. Então, como falei no começo, o pessoal é mais uma desculpa para falar do universal. 

Não esperava essa resposta, ficou bem bonito.

Mas é isso mesmo… sempre digo que quando você vai numa sala de cinema é um esforço gigante: é caro, tem que sair de casa. É até bom poder apertar o botão e ver um filme em casa, mas é muito bom quando você pode ir ao cinema. E o cinema tem uma janela que te abre para o mundo. [Por exemplo], você nunca foi na Austrália, mas sente que conhece a Austrália, se for assistir a um filme australiano. Então tem isso aqui, que é a possibilidade de permitir que se adentre em outro mundo através de um personagem que está viajando e contando uma história que é uma história que todo mundo já passou. 

Em certo grau, todo mundo se identifica… 

Espero que sim. Inclusive, fico muito feliz de falar da questão da exibição dos filmes, fico muito feliz também de poder lançar um filme depois de tantos anos que a gente achava que talvez nunca mais fôssemos lançar filme nenhum. Então isso é muito emocionante, é muito importante entender como podemos chegar no público. Sabe quando você sai de casa e vai ver um filme que você volta e que alguma coisa mexeu em você, alguma coisa perturbou você? Porque você sai de casa e volta e só lembra do cheiro da pipoca. Não tem muito porque ver um filme. 

Se é assim, provavelmente esqueceu do filme voltando para casa.

  1. Então é muito importante quando ele faz um negócio assim, você não sabe o que é… às vezes é emocional, às vezes é de fazer chorar, às vezes é de fazer ter medo, às vezes é te fazer pânico. É muito importante que você saia e volte com memória de uma sensação muito particular e, se for bom mesmo, é transformador. A sensação é inexplicável, mas ela é inesquecível. 

E na Argélia, enquanto você estava gravando o “Marinheiro”, também gravou “Nardjes A”. Já foi com essa ideia?

De jeito nenhum. É como se tivesse vindo para o Brasil na época das Diretas Já, como se meu pai fosse brasileiro e eu nunca tivesse ido ao Brasil e fosse atrás das raízes do meu pai, de como foi a vida do meu pai quando ele saiu do Brasil e tal. E aí sou confrontado com as Diretas Já, entendeu? Então não tinha muito como não filmar aquilo, era um movimento febril de reivindicação da democracia, revisão das raízes democráticas do país e as ruas eram tomadas por pessoas normalmente com menos de 25 anos. Então tinha um negócio de uma esperança e tem que lembrar que esse filme foi feito em janeiro a fevereiro de 2019, no momento que foi o começo da tomada do fascismo, da entrada do fascismo no poder no Brasil, então olhava e falava ”nossa, queria tanto que o que está acontecendo aqui pudesse estar acontecendo no Brasil, tomar o Brasil de volta” porque realmente parecia que a gente tinha sido sequestrado. 

E aí filmei um dia, estava no meu hotel e vi aquilo acontecendo, tentei entrar na manifestação, não consegui porque era perigoso, que a polícia estava ali, podia ser preso e fiquei filmando de cima com vontade de pular naquela multidão. Me lembrava muito o carnaval de Olinda, uma coisa muito alegre, aquilo era uma manifestação política radical, mas era muito alegre. E aí ela passou a acontecer periodicamente toda sexta-feira e na sexta-feira seguinte filmei de novo, na terceira vez passei o dia inteiro filmando, seguindo um ativista e não sabia que ia se transformar num filme necessariamente. 

Mas depois que terminei O Marinheiro das Montanhas, achei que ali tinha um material que merecia um filme que documentasse essa espécie de vontade de mudança de uma geração nova que estava acontecendo na Argélia - e que eu sonhava que pudesse estar acontecendo aqui. [Agora] está acontecendo, porque houve uma mudança radical com as novas eleições, com a eleição do Lula, e é bonito de mostrar esse filme agora, que todo o país está se cicatrizando e vê que em outros países passaram por questões tão difíceis e que conseguiram se salvar. 

Eu ia fazer essa pergunta mais para o final, mas vou pegar de gancho agora. O Brasil está passando por um momento de retomada do audiovisual, com questões da política e inegavelmente do estrago que foi feito, e está tendo um clamor pelo cinema nacional nesse momento. Como é poder lançar nesse exatamente nesse cenário?

É demais, cara. Porque quando comecei a sonhar que ia fazer cinema, em 1990, morava fora do Brasil e ia voltar para cá e tinha vontade de fazer um filme. Em 1994, voltei e fui embora de novo, porque acabou a Embrafilme, acabou qualquer possibilidade de produção industrial ou não-industrial no cinema no Brasil. Aquilo foi, de fato, um golpe gigante e isso aconteceu de novo. Falei “gente, será que vai acontecer de novo na história?”, porque foi um negócio que levou tanto tempo para recuperar e isso aconteceu de novo durante os últimos quatro anos. De um lado, tem a ver com condições políticas absolutamente tenebrosas, de outro lado tem a ver com questões de contexto da pandemia e tal. Então o que é muito bonito que está acontecendo nesse momento é que tem uma capacidade de cicatrização muito rápida. 

Nunca achei que a gente ia voltar tão rápido assim, porque o estrago foi de um tamanho, foi um negócio assim tão catastrófico. Foram 15 anos montando a Ancine, foram 15 anos fazendo com que o audiovisual pudesse florescer de novo, não foi uma coisa que aconteceu de um dia para o outro. E achei que ia levar mais uns dez anos e acho que teve uma retomada tão rápida. Então fico muito feliz primeiro de lançar os filmes, porque tinha um momento ali que achei que nunca nada mais ia ser lançado, achei que o estrago ia ser tamanho que não íamos filmar tão cedo de novo. Então fico muito feliz de em setembro de 2023 estar podendo lançar dois filmes que fiz durante os anos trágicos que vivemos na sala de cinema. 

E  os anos desse último governo, eles foram tão tóxicos que não achei que iria retomar a produção da audiovisual independente, até porque a produção continuou com as plataformas, continuou com os grandes estúdios no Brasil, mas o cinema independente foi absolutamente assassinado, então essa retomada quase de fênix. Teve uma eleição no ano passado, uma tomada de poder em janeiro, e o que ouço de gente filmando hoje no Brasil é um negócio… acabei de fazer um filme no Ceará e não consegui a equipe, com dificuldade de montar equipe. Claro que foi triste e tal, a gente depois conseguiu montar melhor a equipe do mundo, mas é maravilhoso que tenhamos retomado a atividade de audiovisual tão rapidamente. E vão sair filmes cada vez melhores, porque aprendemos muito.

E filmes diversificados…

Nossa, isso é gigante. É gigante! Não é mais a classe média alta ou a classe alta branca que tá fazendo cinema, na verdade tem uma coisa que é muito impressionante, que é os lugares de onde os filmes estão sendo feitos, os temas que os filmes estão falando. De um lado é um pouco complicado, porque as salas de cinema não estão necessariamente mais cheias, mas isso não é um problema brasileiro, acho que é um problema global. Mas estou muito animado com a quantidade de coisas que está sendo gestada em tão pouco tempo.

E falando de diversidade, você tem dois documentários agora, teve também o do Kleber Mendonça Filho [Retratos Fantasmas], o Elis & Tom… mas o documentário, em si, tem dificuldade para conseguir uma boa campanha na sala de cinema. Para você, porque acontece isso e o que você acredita que poderia ser feito para contornar?

Vou te dizer um negócio: a gente tem que saber seduzir mais o público, se o documentário tiver um pouco mais de magia e de encantamento, talvez ele não tenha tanto problema de ficar na sala de cinema. Mas tem uma outra coisa que é muito difícil competir… falo de magia porque a ficção tem uma coisa mágica, de quando sai para ver uma coisa no cinema, quer adentrar aquilo ali, entrar em um avião, barco, trem e ir para outro lugar, é um oportunidade de viagem quando entra em uma sala de cinema. O documentário às vezes ele te coloca no lugar do real e que não necessariamente é o que você procura quando sai de casa para viajar. Então tem essa questão que é muito difícil do documentário na sala de cinema, às vezes ele é um lugar que é muito mais da tua sala de estar do que a sala de cinema.

Uma das coisas que foi muito importante nesse filme, fiquei estudando muito a estrutura narrativa dos documentários e é sempre uma história, então dependente de como você conta a história, se conta essa história de uma maneira envolvente, de uma maneira sedutora e surpreendente, independente de ser documentário ou ficção, é isso que permite que o público se transporte.

Você tem que seduzir o público, o cinema é um ato de amor, com duas mãos. E vou te dizer: uma das coisas mais sedutoras que tem é um filme. Quando você é encantado por um filme, nunca esquece. Às vezes não lembra da história, mas lembra de momentos.

Nem precisa necessariamente entender, mas sente…

Igual à música! A gente tem que aprender com a música, não com outras mídias. Eu estava ouvindo uma música outro dia e coloquei ela no repeat, fiquei ouvindo ela. Não sabia o que ela fazia comigo, mas alguma coisa ela fez. Então se aprendermos um pouco essa lição… e o Brasil é um país, por excelência, tão musical, uma das artes mais celebradas, mais conhecidas do mundo inteiro de nós, é a música. Então o cinema tem muito a aprender com isso.

E voltando especificamente aos filmes, eles rodaram festivais, foram muito bem recebidos no mundo inteiro e agora chegam para o público. O que você espera desse momento?

O que espero é muito simples: que o público se encante com os filmes e que, de fato, possam ser vistos na sala de cinema. Ele já passou em vários lugares do mundo, ele vai ser lançado na França no ano que vem, provavelmente na Alemanha também. É um filme que seguramos um pouco para lançar depois da pandemia, então o que espero é que as pessoas se divirtam, que as pessoas se encantem. 

E aí falando de exibição, especificamente, tem um filme que aprendi muito com ele que é o “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo”, filme que fiz com o Marcelo Gomes, e é muito parecido com esse e que foi lançado em 2009 e lembro de falar com o produtor do filme, João Júnior, e eu disse “João, será que a gente devia lançar esse filme na sala de cinema? Será que é para lançar um um lugar com menos público?” e ele falou “não, vamos tentar na sala de cinema”. E lançamos o filme, que era sobre um fim de um namoro e alguém que viaja tentando curar as dores de ter sido abandonado. E lançamos um filme não em grade cheia, mas toda sexta e sábado o filme tinha uma sessão no cinema que ele passava e ficou em cartaz acho que cinco meses. 

Então, agora estamos lançando dois filmes juntos, como é que lança? O que espero é que encontre uma rota para eles no circuito de exibição que seja digno deles, mas que seja do tamanho deles. A gente tem que pensar também a exibição de um jeito um pouco mais heterogêneo. Nem todo filme está precisando estar em grade cheia, nem todo filme tem o poder, porque lançar um filme é dizer que o filme existe. Tem pessoas que nem sabe que o filme está em cartaz e quando descobre o filme já saiu de cartaz. Então tem um desafio grande na exibição que é talvez, com alguns filmes, para encher a grade cheia durante duas semanas, se não fizer a média sai de cartaz. Talvez será que a gente não consegue uma janela durante mais tempo? O que faz um filme ficar em cartaz é a promoção, são vocês da imprensa que comunicam filme, mas é o boca a boca. É importante dar tempo para o boca a boca [mostrar que o filme existe]. Espero que a gente tenha oportunidade de fazer com esses filmes.

E é interessante que você falou, porque se conecta também com a taxa de ocupação da sala. Se você tem várias salas e tem pouca gente, o exibidor não vai querer colocar. Se tem uma exibição um pouco mais restrita, mas as salas sempre cheias…

A maior média por sala que tive foi no Viagem Porque Preciso, Volto Porque Te Amo. Porque a gente também tem que pensar as coisas com mais especificidade, é igual a comida orgânica… você tem que vender menos, porque você produz menos, mas aí ela tem um impacto maior. É um pouco isso. Nem todo filme precisa ser lançado em grade cheia, nem todo filme tem orçamento para fazer uma campanha para ser lançado em grade cheia.

O que você falaria para os exibidores para convencê-los a colocar o filme em cartaz?

Acho que uma pergunta um pouco injusta, porque para os exibidores colocarem os filmes em cartazes, tem que ter um investimento de comunicação dos distribuidores para permitirem que os exibidores mostrem coisas que o público sabe que está passando. Então para responder essa pergunta, eu daria dois passos para trás. É importante que tenhamos distribuidores que acreditem nos filmes que estão sendo lançados e que possam investir na promoção desses filmes. Você vai ver os norte-americanos, você entra tem boneco do filme, tem uma arte de promoção. Tem uma coisa no cinema de estúdio que é assim: um filme custa 100 e tem que gastar mais 100 ou 150 para promovê-lo, então isso é uma questão que é um debate importante com os distribuidores e acho que os exibidores é tentar entender que nem todo filme precisa ser lançado do mesmo jeito.

Eles teriam boa surpresa se pudessem repensar a estrutura e que o cinema brasileiro tem muito menos poder de comunicação, por uma questão orçamentária, do que um filme de estúdio, falando especificamente do cinema independente. Talvez repensar os modelos de exibição sejam questões importantes.

E adoraria, honestamente, conversar com os exibidores para entender como funciona, o que seria melhor, porque é um grande dilema, não tem porque ficar fazendo filmes que tem um público pífio. É muito caro, não é uma arte barata. Não é linha e pano, não é preciso só de tinta e tela. Fazer um filme bom é caro. Mas o filme precisa ser visto, senão nem precisa ser feito.

Esse filme que a gente acabou de rodar agora no Ceará, por exemplo, quero ter uma conversa muito muito aberta e muito franca com o distribuidor, como é que faremos a campanha dele, que foto que escolhe e tal. É muito importante que a gente tenha um diálogo maior com os exibidores. Mas adoraria encontrar mais exibidores e aprender com eles também, porque afinal de contas são eles que estão ali de frente. A cadeia toda precisa se comunicar.

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