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01 Novembro 2023 | Yuri Codogno

“Governo passa, política de Estado fica”, ressalta Marilia Marton, secretária de cultura de SP

Titular da pasta conversou com o Portal Exibidor sobre o início de mandato

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(Foto: Joaquim Duarte)

Secretária titular da Secretaria de Cultura, Economia e Indústrias Criativas do Estado de São Paulo desde o início do ano, quando Tarcísio de Freitas (Republicanos) assumiu o comando do governo estadual, Marilia Marton recebeu o desafio de avançar com as políticas públicas do setor dentro do estado com mais visibilidade do Brasil. E, desde então, Marilia não apenas deu sequências às pautas que vinham da gestão anterior, como também está buscando encaminhar novas propostas para auxiliar o segmento cultural local.

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À convite da secretária, o Portal Exibidor compareceu à Secretaria, que fica localizada no prédio da Sala São Paulo, e conversou com Marília Marton, que deu seu parecer sobre o atual momento cultural em SP. A transcrição da entrevista pode ser lida na íntegra ao final da matéria.

“Tinha uma coisa na Secretaria, primeiro, que precisávamos fazer, que era encontrar todo mundo. A gente tinha um prazo na jugular que era a mudança da lei de licitações do estado de São Paulo, que era da lei federal. Estava prevista para acontecer em março e depois ela foi esticada para para dezembro deste ano, mas que ali naquele momento a notícia é que seria março e a gente queria para que os editais do ProAC fossem lançados”, explicou Marilia sobre a primeira grande medida da gestão.  

A secretária destacou que essa era uma prioridade, pois, se mudasse a legislação, teria que esperar um novo parecer jurídico, atrasando a resolução dos processos. Além disso, a nova lei de licitações não contempla fomento, conforme a gestora comentou, então também haveria a necessidade de um novo edital nessa nova legislação.

A cultura é muito transversal. Os segmentos e as linguagens culturais são múltiplas, são muito diversas. Então a palavra ‘cultura’ é pequena, mas os teclados dela são muito amplificados. Ao encontrar o segmento - e aí estou falando de todas as linguagens -, vieram todas as turmas, então a gente começa a ver um pouco das aflições que estavam ali permeando de forma igual e obviamente nas particularidades de cada segmento”, comentou sobre as medidas.

Em relação específica ao setor do audiovisual, Marilia Marton ressaltou como a pandemia mudou os costumes de consumo da população, dificultando o retorno em massa para as salas de cinema. Dessa forma, esse desafio foi mapeado pela Secretaria como um desafio. 

“A Lei Paulo Gustavo teve um papel importante, porque tivemos que chamar muito do setor do audiovisual para conversar. Então chamamos produtor, distribuidor e tentei encontrar o máximo possível de pessoas para tentar entender e ser muito preciso na aplicação do recurso. Tem um desafio específico para o audiovisual, que é de fato a retomada do hábito”, complementou Marília.

Em relação aos investimentos do Estado na cultura, algumas medidas se destacam, como a prorrogação em cinco anos do CreativeSP, que leva empresas do estado de São Paulo para os principais eventos de economia criativa do mundo, esperando um retorno de R$ 2 bilhões para o setor cultural nesses cinco anos. Além disso, durante participação estadual no Festival de Cinema de San Sebastian, foi anunciado uma injeção de R$ 34 milhões no setor cultural paulista. O governo de SP também esteve presente em Cannes, como a secretária lembrou durante a entrevista, e abriu inscrições (que vão até 8 de novembro) para levar empresas paulistas para o Ventana Sur, na Argentina.

Marilia Marton também lembrou que, ao fomentar o setor cinematográfico, está investindo em uma vasta cadeia de produção: “O cinema é uma reunião de todas as demais linguagens. Quando estamos falando desse grande universo que reúne as outras linguagens, obviamente que é, ao potencializar individualmente as outras linguagens, a gente acaba de uma certa forma fomentando a própria cadeia produtiva. O cinema engloba todas as outras artes, ele está na atuação, na técnica, na produção de figurino, na produção de design, na produção literária, porque ele é um roteiro desenhado, então ele é uma construção de uma história no cinema ou na série, e todas as outras  linguagens”. 

Tal discurso, vale ressaltar, se conecta diretamente com o conceito da economia criativa, que também é responsabilidade da pasta. Isso porque, seria necessário formar mais pessoas para atender essa cadeia produtiva. Então profissionais que vão desde uma atuação direta no setor, como cabeleireiro, maquiador, cenografia e afins, até fornecedores, como marceneiro, eletricista, entre outros, seriam atingidos.

“Nessa extensão de conhecimento, pode contribuir dentro de um cenário, de uma montagem cênica, com uma mão-de-obra menos da cultura e mais deste ecoado que a gente acaba abraçando quando estamos falando de economia criativa. Porque esse é o grande lance da economia criativa: ela não está simplesmente vinculada ao fazer cultura; ela está vinculada àqueles que se atrelam ao fazem cultura”, concluiu a ideia.

Outro ponto abordado pela secretária é sobre como o estado de São Paulo pode ser melhor utilizado para gravações de filmes e séries que se passam em outras regiões do Brasil, se tornando um grande cenário-estado. O exemplo usado foi a da Mata Atlântica, que pode ser utilizada para encenar a Mata Amazônica e, com isso, não seria necessário mover a infraestrutura da gravação para a região Norte. Além disso, Marília lembrou que o estado também possui praias e cidades históricas, possibilitando diferentes backgrounds.

Marília Marton, segundo as próprias palavras, se comprometeu a ficar na pasta até o dia que o governador desejar. Entretanto, ela espera que, ao final dos quatro anos, tanto em uma eventual reeleição no estado ou troca de governo, São Paulo tenha uma cultura apropriada pela sociedade: “Governo passa, política de Estado fica. E política de Estado só é forte se for feita e apropriada pela sociedade. Posso ter o melhor museu, mas se as pessoas não entenderem que aquele espaço é delas, qualquer um que chegar e trocar”. Em outro momento da conversa, lembrou: “Não adianta ter o melhor filme estreado, se ninguém contar que vai estrear esse filme”.

Por fim, a secretária lembrou que os equipamentos do estado podem e devem ser usados por sua população e que, para ir para frente, as ações precisam ser tomadas em conjunto: “Tem que fazer coisas agregadas, se não fizer coisas agregadas, todo mundo perde. Só ganha se fizer junto, isso é uma coisa que a cultura precisa entender. Ninguém ganha fracionado”.  

LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:

Quais foram os principais desafios do setor cultural nesses primeiros meses de governo?

A cultura é muito transversal. Então, ao mesmo tempo que estamos falando de audiovisual, estamos falando de feiras criativas. Os segmentos e as linguagens culturais são múltiplas, são muito diversas. Então a palavra ‘cultura’ é pequena, mas os teclados dela são muito amplificados. Tinha uma coisa na Secretaria, primeiro, que a gente precisava fazer, que era encontrar todo mundo, então o primeiro desafio da Secretaria foi: tínhamos um prazo na jugular que era a mudança da lei de licitações do estado de São Paulo, que era da lei federal. Estava prevista para acontecer em março e depois ela foi esticada para para dezembro deste ano, mas que ali naquele momento a notícia é que seria março e a gente queria para que os editais do ProAC fossem lançados. 

E quando falamos em edital, a gente está falando de uma linha dentro das modalidades de licitação. Queríamos fazer ainda na lei antiga pelo know how que a secretária já tinha. Porque se mudar a legislação, teríamos que esperar o parecer jurídico. Na verdade, a nova lei de licitações não contempla fomento, então a gente teria que esperar o editar uma nova legislação. Então, no primeiro momento, eu quis conversar com os diversos segmentos, porque queríamos tratar sobre o ProAC Editais. 

Mas obviamente que, ao encontrar o segmento - e aí estou falando de todas as linguagens -, veio a turma do audiovisual, veio a turma de design, veio a turma de teatro, veio a turma de circo, todas as turmas, como a literatura. Então quando a gente foi encontrar todo mundo, começamos a ver um pouco das aflições que estavam ali permeando de forma igual e obviamente nas particularidades de cada segmento. Apesar do ProAC Editais ter sido tratado especificamente naquele momento, aproveitamos a reunião para também fazer esse pequeno mapeamento. Obviamente as aflições vão mudando, porque a cultura é dinâmica, o mercado cultural volta. Precisamos também entender que viemos de uma pandemia e aí tem uma retomada de mercado, Por outro lado, a gente tem impressão de uma retomada, mas com hábitos diferenciados e principalmente para o audiovisual, onde está muito claro. 

Então, como as pessoas passaram dois anos praticamente trancadas em casa, elas aprenderam a consumir as plataformas de streaming. Isto é um problema para o mercado do cinema, porque tinha o hábito. Tinha uma estreia, tinha o hábito de ir na estreia, de ir namorar no cinema, tem o hábito do cinema ser o primeiro encontro. Então isso se perde e isso precisa ser retomado, então foi mapeado pela Secretaria como um desafio. Conforme o tempo foi passando e já estamos quase finalizando dez meses de governo, a gente sentiu. 

E aí a Lei Paulo Gustavo teve um papel importante, porque tivemos que chamar muito do setor do audiovisual para conversar. Então chamamos produtor, distribuidor, exibidor, todo mundo… tentei encontrar o máximo possível de pessoas. Acho que se fosse falar em número de reuniões, passei de 100 reuniões, encontrando pessoas individualmente e em conjunto, por entidade, para também tentar entender, para ser muito preciso na aplicação do recurso, porque é o único recurso e é, em sua maioria, para o setor do audiovisual. Então agora tem essa ideia maior de como a gente estaria atuando.

Tem um desafio específico para o audiovisual, que é de fato a retomada do hábito e aí agora é qual é a estratégia que nós do Estado, o poder público? Qual é a estratégia que os exibidores, que os donos de sala ou que os produtores- porque isso é um conjunto do que se entrega à população - vamos tratar para retomar o hábito de ir ao cinema? 

Quais as expectativas de médio e longo prazo para os investimentos do governo estadual na cultura?

Na verdade, a gente teve as publicações - dos vencedores ainda não porque tem a etapa do pitching - daqueles que passaram para a segunda fase do pitching e a ideia é que, de fato, consigamos, ao injetar esse recurso no cinema, retome a vibração do setor, que retome o investimento no setor. É um setor que o governo põe muito pouco dinheiro porque há um mercado que acaba patrocinando muito através das leis de incentivo do Governo Federal, mas que precisa estar muito bem alinhado.

A política do Governo Federal precisa também estar entendendo que o mercado do audiovisual é um mercado que é profundo, que pode ajudar a impulsionar todos os outros segmentos. O cinema engloba todas as outras artes, ele está na atuação, na técnica, na produção de figurino, na produção de design, na produção literária, porque ele é um roteiro desenhado, então ele é uma construção de uma história no cinema ou na série, e todas as outras linguagens. Então, no final das contas, o cinema é uma reunião de todas as demais linguagens. Quando estamos falando desse grande universo que reúne as outras linguagens, obviamente que é, ao potencializar individualmente as outras linguagens, acaba de uma certa forma fomentando a própria cadeia produtiva.

Temos que lembrar agora, apesar do setor não gostar, que essa área de XR Games também está sendo entendida como audiovisual e, apesar das inúmeras discussões - e aí quero menos entrar na polêmica, pois também não sou entendida do assunto -, este setor também pulsiona. Estive na Gamescom e confesso que fiquei impressionada, porque um dos galpões era todo do cinema. Então a Netflix estava lá com mais de um filme, a gente estava com o pessoal da HBO, tinha muita gente de cinema lá dentro. E aí você pergunta “o que o pessoal do cinema está fazendo aqui dentro?”. Porque agora a brincadeira é essa: eu lanço um filme, lanço um jogo, lanço um jogo que vira filme. Quer dizer… essas transversalidades das linguagens que fazem também com que potencialize e fomente o cinema. Por exemplo: um jogo famoso quando solta um filme, todo mundo vai ver.

Então essa transversalidade e essa possibilidade de termos outros tipos de audiovisual, como no óculos, em vivências mais imersivas, são coisas que atrelam e que, muito mais do que distanciar, precisam nos aproximar. É uma cadeia produtiva que está muito mais conectada do que desconectada e a função do Estado, de certa forma, é dar para vocês o respaldo para tudo isso. Vocês no setor, né? A gente aqui é só instrumento. No final das contas, é muito disso.

E esse é um discurso que se vincula totalmente com a economia criativa. E no audiovisual, como um todo, como você vê que ele pode influenciar para fazer economia de outros setores avançarem?

Em tudo. Na verdade, teve uma fala do governador [Tarcísio de Freitas]. Ele falou em muitas outras reuniões que tivemos que o Estado de São Paulo, até por ser um estado com uma diversidade de paisagem ampla, poderia ser um grande estado-cenário. Então aqui é possível, mesmo tendo a Mata Atlântica, encenar uma Mata Amazônica, com uma infraestrutura de hotelaria ou de técnicos que não precisa carregar todo mundo para Manaus, então você poderia ter essas possibilidades. Tem praia, tem cidades históricas, com centros históricos, que podem gravar qualquer coisa. 

Então essa possibilidade de realmente trazer para o Estado de São Paulo e, com isso obviamente a gente tem a Spcine que tem um papel importante de ser uma estratégia de funcionamento, como o cash rabete, são estratégias que trazem para dentro da nossa estrutura do estado mais investimento de audiovisual. Mas por que é mais investimento? Automaticamente tenho que formar mais pessoas para essa cadeia produtiva, temos que investir mais nessa estrutura de cenário, de preparar essas cidades para receber e, de uma certa forma, na economia criativa que é aquela economia circular, tem uma infinidade de ecoados. Então você tem o cabeleireiro, o maquiador, tem a rede hoteleira, mas tem serviços de cenografia, que o marceneiro… a questão do cara que, estou numa cidade, sou eletricista, faço um curso, e isso é uma parte que o Estado tem que investir, em formar essa pessoa para fazer uma extensão de conhecimento. 

Nessa extensão de conhecimento, pode contribuir dentro de um cenário, de uma montagem cênica, com uma mão-de-obra menos da cultura e mais deste ecoado que acaba abraçando quando a gente está falando de economia criativa. Porque esse é o grande lance da economia criativa: ela não está simplesmente vinculada ao fazer cultura; ela está vinculada àqueles que se atrelam ao fazem cultura.

Eu já fui assistir uma montagem de cenário, pedi para colegas me deixarem ver como é um set de filmagem. As pessoas não têm a menor ideia do que há por trás daquele quadrado que a gente vê no cinema, é muita gente trabalhando, então tudo isso faz parte exatamente dessa cadeia produtiva da indústria criativa. Fora aquilo que reflete, porque a padaria faz mais comida, o restaurante faz mais almoço. Então é uma série de coisas que acabam se embolando e se conectando nesse mundo criativo que a gente faz.

Queria também sair um pouquinho de São Paulo para algo mais nacional. Como você enxerga a cultura e a produção nacional nesse atual momento?

Tem certas coisas que a gente precisa entender sobre o aspecto da política pública. É óbvio que quando estamos olhando para o Brasil, há uma coisa que vem sendo falado chamada de “Brasil Profundo”, que perpassa por aqueles que não têm a chance ou nunca tiveram a oportunidade de se conectarem com esta indústria criativa. Isso é um papel que o Governo Federal olha de cima, porque ele tem esse mapeamento inteiro, mas deveria utilizar as mãos dos entes para, de fato, fazer acontecer. 

Ser apenas um discurso não leva a nada, porque quando você olha para o tal Brasil Profundo, não dá para dizer que o estado de São Paulo não faz parte. O estado de São Paulo é um estado que tem a maior riqueza e a maior pobreza do nosso país [em números absolutos]. Tenho aqui no estado de São Paulo regiões de palafita, pessoas que vivem em alta vulnerabilidade. “Ah, mas tenho grandes empresários e proprietários de banco”... essa dicotomia de desigualdade faz do estado de São Paulo um olhar muito maior. Não estou falando que é o único olhar, mas não dá para ser ignorado como olhar. Então quando a gente fala de políticas públicas de um Brasil Profundo, não dá para ignorar o estado de São Paulo, não dá para ignorar o estado do Rio de Janeiro. “Ah, mas são eixos da cultura”, mas são grandes eixos em cidades muito pontuais. No caso de São Paulo, nem só a capital, mas são cidades muito pontuais sobre o aspecto. 

E precisamos ver se este investimento também não está refletindo nesta cadeia que acaba indo até o Brasil Profundo. Porque se não está, aí é que está o erro da política pública. Então não necessariamente onde está o dinheiro, mas como esse dinheiro está sendo refletido. Então há algumas questões que ainda precisamos conversar bastante. 

Me preocupa, por exemplo… teve agora, recentemente, a desistência de participar do Ventana Sur, que é um festival importante para a América Latina sobre o aspecto do cinema, especificamente. O Brasil, apesar de ser o país homenageado, não terá participação do Governo Federal em um país como a Argentina. Confesso que me assusta. O estado de São Paulo não iria participar do Ventana Sur, não estava no meu cronograma participar, porque participamos de San Sebastian e de Cannes.

Mas realmente ter o Brasil como país homenageado e não ter nenhuma representação do Brasil, acho que seria bem complicado. Então o Estado de São Paulo, até por uma questão quase humana com o país vizinho, que é a Argentina, que está passando por um momento muito complicado.

No início da conversa, você falou sobre algumas medidas para retomar o costume de ir ao cinema. Em um aspecto amplo da cultura, não apenas do cinema, que medidas podem ser feitas para redemocratizar o acesso à cultura?

A gente precisa entender o que é democratizar a cultura. Democratizar a cultura é realmente ir onde o povo está. Essa frase de Milton Nascimento não é uma frase à toa. Ela é uma frase importante porque só me conecto ou só consumo aquilo que conheço. As pessoas perguntam se é importante música clássica, é claro que é. Posso até dizer se gosto ou não gosto. Mas só posso dizer se ouço. Posso falar “não gosto de ópera”, mas já foi à ópera? “Nunca fui”. 

Para ser uma sociedade fortalecida, é preciso ter uma sociedade que tenha senso crítico. Para se ter senso crítico, é preciso ter repertório. Para se ter repertório, precisa ter contato e conhecimento. Então há coisas que vão se vinculando. Então quando se fala “a Secretaria da Cultura faz o que para democratizar a cultura?”... primeiro conto com toda a imprensa. Falo com todo mundo, com todos os jornalistas, porque preciso que vocês colaborem com a Secretaria para divulgar o que a gente faz.

Não adianta ter a melhor exposição se não contar para as pessoas que estou tendo a melhor exposição do mundo. Não adianta ter o melhor filme estreado, se ninguém contar que vai estrear esse filme. Então existe uma coisa que é, de fato, retomar o hábito de consumo. Assim como todos nós aqui comemos pizza, sei lá, de sexta-feira à noite ou de domingo, ou vai na casa da vó para comer lasanha, que são hábitos que a gente tem no dia a dia, o hábito da cultura também é uma coisa que precisa ser retomada.

Brinquei no começo da entrevista: como era o passeio de namoro? Ir ao cinema. A gente precisa voltar a apresentar esse cenário para a juventude. O cinema é um ambiente da pipoca, de sentar ali e ter um momento de descontração, ver um filme, um namorico… a gente perdeu esse tipo de coisa. O cinema é o lugar da discussão, é o lugar onde teve grandes discussões sobre grandes coisas do mundo. Então precisa voltar a ser esse repertório e relevância. 

Sou uma menina que assiste tudo. Vou ao cinema de A a Z. Como socióloga, obviamente vocês imaginam tudo que já assisti na minha vida. É claro que tem um momento de descontração, de assistir aquilo que a gente brinca de Sessão da Tarde, até porque tem hora que a cabeça está cheia e a Sessão da Tarde também é importante, para ver o romance, para ver a coisa leve, para ver uma comédia. Tudo é importante nesse grande mundo da cultura. A gente precisa voltar a ter esse olhar para tudo. 

É claro que é importante todas as expressões estarem sincronizadas e ter seu lugar de fala garantidos em todas as linguagens. Mas isso não menospreza aquilo já tem, são coisas para serem acrescentadas e não substituídas. 

Pensando no final da gestão, tanto em uma possível reeleição quanto para uma eventual troca de governo, qual o legado que você gostaria de deixar na cultura de São Paulo?

Meu compromisso com o Governador é ficar aqui até o dia que ele quiser. Mas obviamente é pelo período da eleição. Eu gostaria que, ao final de quatro anos, a gente tivesse, de fato, uma cultura apropriada pela sociedade. Governo passa, política de Estado fica. E política de Estado só é forte se for feita e apropriada pela sociedade. Posso ter o melhor museu, mas se as pessoas não entenderem que aquele espaço é delas, qualquer um que chegar e trocar. A gente está na fase de entrega da Casa das Rosas, que fica no maior eixo importante do estado de São Paulo, que é a Avenida Paulista. Não adianta ter aquele casarão ali se as pessoas transeuntes não entenderem que aquilo é delas e eventualmente entrar, nem que seja para apenas uma passagem e que aquela casa é uma casa das pessoas. Entender que isso tem que ser apropriado pelas pessoas. 

Gostaria de acrescentar mais alguma coisa à nossa conversa? Sinta-se à vontade.

Todos os nossos equipamentos, eles têm possibilidade de terem espaço para vídeo, para audiovisual. Os portais, os streaming, tudo deveriam usar. A Pinacoteca tem um auditório, tudo bem que não é grande, mas são 200 pessoas. A gente fracionou demais a nossa cultura e entendo que cada segmento quer proteger o teu. Não vou falar do MIS porque o MIS já é dedicado, mas os outros equipamentos acho que é importante, sabe? A gente tem o Museu de Arte Sacra, de repente tem um distribuidor que tem documentário sobre isso, vai lá. É para levar mais pessoas. Temos que fazer coisas agregadas, se não fizer coisas agregadas, todo mundo perde.

Só ganha se fizer junto, isso é uma coisa que a cultura precisa entender. Ninguém ganha fracionado.

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