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05 Junho 2024 | Yuri Codogno

Brasil precisa "pegar o bonde" das coproduções internacionais para não ser deixado para trás no mercado

As produtoras nacionais, entretanto, enfrentam dois problemas: falta de incentivo público e alto custo de gravações no Brasil

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(Foto: Portal Exibidor)

A realização de coproduções internacionais é um importante meio para que filmes e séries consigam rodar por mais territórios - e por mais tempo, em caso de exibições cinematográficas -, mas também essenciais para que produtoras consigam diminuir o valor de produção, dividindo os custos em uma parceria. Além disso, possui outro benefício que é cíclico, com cada vez mais países de olho nas produções nacionais, elevando, deste modo, a quantidade de produções brasileiras que possam ser exibidas em outros locais do mundo.



O painel “Parcerias Globais: Coprodução Internacional e a Exportação de Conteúdo Original”, que aconteceu no segundo dia (5) do Rio2C 2024, contou com especialistas conversando sobre o assunto. São eles: Vânia Lima, CEO da Tem Dendê Produções; Adriana Silva, diretora geral da Floresta; o argentino Axel Kuschevatzky, CEO da Infinity Hill; e moderação de Karen Castanho, sócia-fundadora da Biônica Filmes.

Um consenso apontado por todos da mesa foi a necessidade de que haja fomento público para as produtoras independentes poderem ir atrás de coproduções internacionais. Inclusive, Karen ressaltou que isso é investimento, não gasto: “[É necessário] demonstrar para a sociedade que o nosso conteúdo, que é o produto audiovisual, é um produto como qualquer outro e que contribui com o PIB do país. Então o investimento público no audiovisual volta para a sociedade, ele gera receita, não só por gerar emprego”.

Desta forma, em um mundo ideal, é esperado que uma produção brasileira (mesmo sem coprodução internacional), possa rodar por outros territórios. Mas obter esse parceiro de diferente país é importante para impulsionar esse movimento. Para isso, entretanto, é necessário investimento por parte das produtoras que, em sua grande maioria no Brasil, são independentes e pouco tem verba para essa tentativa. Apesar disso, também existem movimentos no sentido oposto, com um player de fora do país buscando uma produtora brasileira para coprodução. 

O movimento de brasileiros buscar parceiros internacionais é caro porque costuma envolver participação em eventos internacionais, como festivais e laboratórios, que costumam receber produções em diferentes fases de projeto. “Às vezes os festivais são o final do caminho, mas os laboratórios são muito importantes para preparar esses filmes. E quanto mais tem contato com produtores internacionais que estão na mesma fase de projeto, mais vai ganhando”, explicou Vânia. 

E é nesse momento que entra a necessidade de fomento, com políticas públicas que possibilitem o encontro das produtoras nacionais com as internacionais - e até mesmo com potenciais distribuidores de fora do país. “Precisamos de investimentos para nos levar aos mercados internacionais. Se o Brasil não vai aos mercados, fica muito mais difícil encontrar esses parceiros”, completou Vânia. 

Uma alternativa citada foi o Projeto Paradiso e outros laboratórios nacionais para diversos setores (roteiristas, diretores, produtores e afins) e também com foco em outras regiões fora do eixo Rio-SP. Tentar entrar no banco de talentos pode ser um primeiro passo para empresas - ou profissionais - que não possuem verba para isso e que também encontram dificuldades em obter acesso público. 

No país vizinho, como contou Axel, não é muito diferente: “A Argentina é um país muito pouco suficiente. Isso nos obriga a pensar em fazer coprodução internacional. Faltam recursos e isso nos obriga a sermos criativos”. Além disso, o produtor hermano ressaltou que, apesar de difícil, é possível conseguir intercionalziar a obra sem ter um parceiro gringo, mas que pra isso precisa realizar um exercício de empatia, aprendendo e compreendendo outras culturas - além de todas outras dificuldades citadas.

Voltando ao Brasil, além dessa dificuldade em obter acesso aos eventos que possibilitem um networking com produções internacionais, foi destacado como tem sido caro produzir no Brasil (país mais caro de gravar na América Latina), o que por si só é um empecilho aos produtores nacionais, mas também afasta os investimentos de outros países. Outro ponto negativo é que Brasil e Argentina possuem complexa situação cambial, começando a produção em valor X, mas variando muito até o final, trazendo insegurança aos investidores e produtores.  

Adriana, por sua vez, alertou sobre a possibilidade do Brasil poder ficar para trás: "Está caro produzir no Brasil, muito pela questão da moeda. O Brasil não está atraente para outros mercados e não atrai coproduções. Se o Brasil não se organizar com políticas de incentivo, o Brasil vai passar enquanto outros países estão sendo escolhidos”. 

No momento, inclusive, está mais caro rodar uma produção no Brasil do que em Portugal, o que deveria ligar um ponto de atenção em todos os elos da indústria audiovisual. A mesa destacou também que o Brasil tem uma competência e criatividade muito grande e, com o tempo, está mostrando uma capacidade operacional muito forte. Mas que isso pouco vale para parcerias internacionais se as condições financeiras não forem favoráveis, visto que há o temor de não conseguirem recuperar seu investimento.

Por fim, os participantes lembraram que, mesmo em meio às dificuldades, o mundo vive um momento em que há alta demanda para produções de diferentes partes do mundo, especialmente pelo advento dos streamings, que democratizaram o acesso aos mais variados filmes e séries. “Hoje estamos em um momento em que há interesse em conteúdo global. Quando você cria, vê que independentemente do país e do idioma tem força para a repercutir em outros territórios. É muito importante estar antenado, mas buscando ter nossos valores e criatividades em nossos projetos”, concluiu Adriana.

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