07 Março 2025 | Yuri Codogno
Especialista em pós-produção e há mais de um século no mercado, Technicolor encerrará suas atividades
Em um primeiro momento, os lançamentos de Hollywood não devem sofrer alteração de data
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Fundada em 1915, a Technicolor se tornou uma das empresas mais reconhecidas de Hollywood, trabalhando em clássicos de um século atrás, como O Mágico de Oz e O Vento Levou, ambos de 1939. Mas, assim como os filmes, ela também está chegando ao fim. No dia 21 de fevereiro, a Technicolor começou a alertar clientes e funcionários sobre suas “graves dificuldades financeiras”, incluindo o envio de um WARN nos EUA (procedimento exigido por lei para grandes empresas que preveem fechamentos e demissões em massa). As informações são da Variety.
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Após o alerta, a liderança da empresa tentou encontrar uma solução, mas, na segunda-feira seguinte (24), a CEO Caroline Parot admitiu em um memorando interno a “incapacidade de encontrar novos investidores para todo o grupo, apesar de extensos esforços”, marcando o começo do fim de suas operações globais. Além disso, o recado dizia: “A empresa vinha enfrentando dificuldades ligadas a uma variedade de fatores e não foi poupada de fatores externos adversos: a difícil situação operacional resultante da recuperação pós-Covid, uma separação custosa e complexa do grupo anterior, seguida pela greve dos roteiristas, que levou a uma desaceleração nos pedidos de clientes, causando severas pressões de fluxo de caixa”.
O colapso da Technicolor surpreende e é visto como um golpe forte para um setor já instável - lembrando que as empresas de efeitos especiais passaram por uma crise por conta da alta demanda e prazos apertados. Além disso, o fechamento afetou milhares de artistas de efeitos visuais ao redor do mundo, incluindo nos EUA, Reino Unido, Canadá e Índia.
Vale ressaltar, entretanto, que as distribuidoras brasileiras não são atendidas pela empresa, que trabalha especialmente com pós-produção de conteúdo, como efeitos visuais, animação e também processamento de mídia. Apesar disso, muitos estúdios/distribuidores de Hollywood são clientes da Technicolor, de modo que, caso não encontrem uma empresa substituta a tempo, podem atrasar um lançamento ou outro.
Curiosamente, a primeiro animação colorida em longa-metragem da Disney foi A Branca de Neve e os Sete Anões (1937), trabalhada pela Technicolor, e agora a empresa está fechando esse ciclo através da MPC, sua principal companhia de efeitos visuais contratada para criar os efeitos da nova adaptação live-action do clássico pela Disney, que será lançado no Brasil do próximo dia 20.
Com o fechamento, os estúdios rapidamente se mobilizaram para buscar novos fornecedores que pudessem completar os trabalhos da MPC. Entre as produções em que a empresa estava envolvida, estavam Lilo & Stitch (Disney) e Missão: Impossível – A Acerto Final (Paramount). A Industrial Light & Magic é a principal fornecedora de VFX de Lilo & Stitch, então é possível que assuma pelo menos parte do trabalho da MPC. Enquanto isso, outras empresas de efeitos visuais começaram a buscar talentos da Technicolor.
Em entrevista à Variety, um funcionário anônimo relatou que, quando os avisos WARN foram enviados à equipe dos EUA, não houve uma reunião geral ou qualquer outra comunicação da administração, e muitos inicialmente acreditaram que o e-mail era um golpe. Mas, à medida que a realidade ficou evidente, as emoções tomaram conta, inclusive com saques de itens do escritório, como monitores de computador até obras de arte que decoravam as paredes e relíquias do passado glorioso da empresa, como prêmios, enquanto os funcionários corriam para recuperar seus pertences pessoais.
Embora os desafios da indústria de VFX sejam reais, muitos profissionais de Hollywood culpam o colapso da Technicolor pela má gestão. A empresa entrou com pedido de proteção contra falência em 2020 e, desde então, passou por reestruturações e trocas de gestão. Em 2021, vendeu sua divisão de pós-produção para a Streamland Media por US$ 36,5 milhões e, em 2022, consolidou várias marcas e relançou a MPC.
“Depois de escrever um livro sobre a Technicolor clássica, não me dá nenhum prazer dizer que o Dr. Kalmus (fundador visionário da Technicolor) provavelmente está se revirando no túmulo. A reinvenção significativa sempre foi uma grande parte do DNA da Technicolor. Depois de tanto tempo na empresa, parece-me que a administração poderia ter encontrado um meio de superar seus desafios mais recentes… na minha opinião, se realmente quisessem”, disse Bob Hoffman, ex-vice-presidente e historiador da Technicolor, em entrevista à Variety.
Embora a má gestão possa ser a principal causa do colapso, especialistas apontam que algumas decisões ruins foram agravadas por um modelo de negócios já problemático. A indústria sofre com margens de lucro baixas e é fortemente impactada por incentivos fiscais, o que faz com que o trabalho de pós-produção mude constantemente de um lugar do mundo para outro, em busca das melhores condições financeiras.
Por fim, a indústria hoje enfrenta outro desafio no horizonte, que é a inteligência artificial. Muitos argumentam que as ferramentas de IA oferecem oportunidades para tornar as empresas de efeitos especiais mais eficientes em termos de tempo e custo, enquanto outros alertam que isso pode ocorrer às custas dos empregos. “Os clientes querem mais barato e rápido, e estão procurando qualquer alternativa. Assim que a IA for capaz de realizar todas as tarefas dos trabalhadores de efeitos visuais, acabou o jogo… espero estar errado”, ressaltou Scott Ross, cofundador da Digital Domain, ex-gerente geral da ILM, à Variety.
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