03 Setembro 2025 | Yuri Cavichioli
"Celebrar 15 anos é olhar para trás com orgulho, mas também projetar os próximos passos", comemora diretora da Vitrine Filmes
Distribuidora reforça trajetória marcada por lançamentos nacionais e internacionais, e será homenageada na EXPOCINE 2025
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A Vitrine Filmes, comandada por Silvia Cruz, chega aos 15 anos consolidada como uma das principais distribuidoras de cinema independente no Brasil. Fundada em 2010, a empresa construiu uma trajetória que une prestígio artístico e diálogo com diferentes plateias, apostando em longas autorais e revelando novos olhares para o audiovisual. Neste ano, a empresa será homenageada na EXPOCINE 25.
“Desde muito jovem percebi que o cinema era mais do que entretenimento. Era uma forma de pensar o mundo e compartilhar olhares diferentes. Essa foi a semente da Vitrine”, comenta Silvia. Aliás, parte da entrevista foi retirada do podcast OdeioCinema, em uma parceria entre a Tonks (conglomerado que detém os direitos do Portal Exibidor e Expocine) e o AdoroCinema, enquanto algumas perguntas foram respondidas exclusivamente ao nosso veículo.
A executiva conta que desde a criação da Vitrine, a distribuidora se propôs a preencher uma lacuna pouco explorada no mercado nacional, levando às salas de cinema produções que dificilmente teriam espaço em circuitos tradicionais na época. Esse compromisso se desdobrou em projetos que contribuem para criar um público mais interessado em narrativas fora do padrão apenas comercial.
“Tem filmes que a gente acaba gostando não só pela história, mas pelo que significam no seu momento, no seu contexto. Sem dúvida precisa existir um match, mas esses matches podem ser muitos”, explica Silvia.
Com a experiência de mais de uma década, Silvia diz ter aprendido a equilibrar apostas autorais com produções de maior alcance. Entre as iniciativas mais marcantes da empresa está a Sessão Vitrine, que funciona como um verdadeiro laboratório de formação de público. Daí surgiu, há quase quatro anos, a criação da Manequim Filmes, selo voltado a filmes mais comerciais, que sustenta a diversidade do catálogo. A ideia é simples: se um título conquista grande público, a empresa consegue manter outros que não dependem de números expressivos de bilheteria, mas que são fundamentais para ampliar olhares no cinema nacional, como contou Silvia na entrevista.
Ao longo dos anos, a Vitrine também esteve à frente de lançamentos emblemáticos, como Bacurau (2019) e Aquarius (2016), que não apenas conquistaram bilheterias expressivas, mas também circularam em festivais internacionais, reforçando o alcance do cinema brasileiro no exterior.
Esse movimento se reflete em outra conquista: a presença de títulos em campanhas de pré-seleção ao Oscar. Ainda que a disputa seja dura, a estratégia contribui para colocar o cinema nacional em evidência diante da Academia e do mercado norte-americano.
A relação próxima com cineastas tem sido outro diferencial, construindo parcerias duradouras, acompanhando diretores desde os primeiros longas até a consolidação de suas carreiras. “Acompanhamos carreiras desde os primeiros filmes, como no caso do Kleber Mendonça. Essa proximidade é fundamental para que a distribuidora cresça junto com os cineastas”, destaca Silvia.
No line-up recente da Vitrine Filmes, destacam-se O Último Azul, de Gabriel Mascaro — já lançado no último dia 28 —, e O Agente Secreto, do próprio Kléber Mendonça Filho, marcado para estrear comercialmente em 6 de novembro deste ano. As obras ilustram bem a amplitude da distribuidora onde apontam para produções autorais intimistas a narrativas de gênero, que conquistam públicos diversos.
Falando sobre os dois filmes, O Último Azul se passa em um Brasil distópico, em que o governo determina a transferência compulsória de idosos para “colônias”, e Tereza, de 77 anos, decide enfrentar o sistema e partir numa jornada longe do que o governo determinou. O filme estreou em competição na 75ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim 2025 e conquistou o Urso de Prata, na categoria Grande Prêmio do Júri. No Brasil, além de estar em cartaz, também abriu o Festival de Gramado deste ano.
Já O Agente Secreto, ambientado entre Recife e São Paulo, acompanha um homem envolvido num jogo de espionagem ligado à política. A primeira exibição foi na competição de Cannes 2025, de onde saiu com os prêmios de Melhor Direção (Kléber) e Melhor Ator (Wagner Moura). A Neon adquiriu os direitos para a América do Norte e o lançamento brasileiro, fica por conta da Vitrine.
“Tudo começou pelo título. ‘O Agente Secreto’ já existia como nome antes mesmo de a história tomar forma. Ele ficou na cabeça do Kléber e foi o ponto de partida para todas as mudanças que vieram depois. Mas o título permaneceu”, relembra Silvia.
Além de fazer a curadoria de obras, a empresa atua de forma ativa no diálogo com exibidores. Essa ponte tem sido essencial para garantir espaço de filmes independentes nas salas comerciais, tradicionalmente dominadas por blockbusters internacionais.
“Tem uma figura que é do agente de vendas, digamos assim, O distribuidor do filme no mundo. O papel dele é vender o filme para muitos territórios e também essa carreira de festivais, ajudar a emplacar o filme que ele seja bem recebido”, reflete Silvia.
Esse esforço de conectar filmes, cineastas e público encontra um palco importante na EXPOCINE 2025. Considerado o maior encontro da América Latina para distribuidores e exibidores, o evento se consolidou como espaço estratégico para discutir tendências, desafios e caminhos do setor. É nesse ambiente de troca e projeção de lançamentos que a Vitrine reforça sua atuação.
“A Expocine é extremamente importante. É um grande encontro de distribuidores e exibidores que, hoje, também tem a presença de estudantes, com a proposta de falar sobre o mercado. A Expocine vai além de falar dos próximos lançamentos, pois aborda temas do setor, um encontro que é muito importante. Ainda mais porque ficamos um tempo sem esse encontro pessoal, presencial. Os distribuidores conhecem e reencontram o nosso primeiro grande público, que são as salas de cinema”, explica a executiva.
Outro aspecto importante da proposta da Vitrine é o incentivo a produções que representem a diversidade brasileira. Ao longo da história da empresa, a descentralização geográfica e a pluralidade de vozes sempre foram critérios de escolha e de fortalecimento de novas narrativas.
Para Silvia, o cinema se reafirma como espaço de encontro, troca e, principalmente, de formação do pensamento crítico, com o compromisso com a experiência coletiva no centro da atuação. Ao comentar sobre o movimento de relançamento de alguns clássicos de forma remasterizada: “É maravilhoso. As escolhas são sempre difíceis, como qualquer escolha, né? Porque é um mercado com tantos filmes que dá vontade de ir na Cinemateca e restaurar todos eles. E tem mais gente indo nesse movimento”.
Ao completar 15 anos, a Vitrine Filmes não apenas celebra conquistas, mas projeta o futuro. A meta, como ressaltado, é seguir equilibrando narrativas autorais e obras de maior alcance, sem perder de vista a missão de dar visibilidade a diferentes olhares sobre o Brasil e o mundo.
Esse percurso confirma a distribuidora como agente fundamental no fortalecimento do audiovisual nacional, articulando mercado, festivais e público em uma engrenagem que segue girando em favor do cinema independente.
Vitrine Filmes na EXPOCINE 2025
A Vitrine Filmes apresenta seu line-up de lançamentos 2025/2026 no dia 3 de outubro, das 10h30 às 12h, Sala Barco no Cine Marquise (Avenida Paulista, 2.073). O encontro faz parte da programação oficial da feira e reforça a presença da distribuidora no maior evento do setor na América Latina.
“Celebrar 15 anos é olhar para trás com orgulho, mas também projetar os próximos passos. E nada melhor do que fazer isso na EXPOCINE, em contato direto com pessoas que movem esse mercado”, finaliza Silvia.
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