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25 Julho 2016 | Vanessa Vieira

Festival de Cinema Latino-Americano debate espaço de filmes independentes na telona

Painel em São Paulo contou com a presença de representantes da Spcine, do Grupo Espaço e da Cineteca Nacional do México

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(Foto: Portal Exibidor)

Neste sábado (23), o 11º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo promoveu um painel no Memorial da América Latina, em São Paulo (SP), para debater as dificuldades que o cinema independente da América Latina encontra para ser exibido nas telonas. O festival começou em 20 de julho, com a pré-estreia de Mãe Só Há Uma, e vai até esta quarta-feira (27), sua programação inclui diversos locais além do Memorial como o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo, o CineSesc, o Centro Cultural Banco do Brasil -CCBB em São Paulo e pelo menos cinco cinemas do Circuito Spcine.



O painel “O Espaço Para o Cinema Alternativo na América Latina" foi mediado neste sábado (23) por Luiz Joaquim, jornalista e programador da Fundação Joaquim Nabuco, e contou com a participação de Alfredo Manevy, diretor-presidente da Spcine; Alejandro Pelayo, diretor-geral da Cineteca Nacional do México; e Adhemar Oliveira, diretor de programação do Espaço Itaú de Cinema. A abertura do encontro teve a presença de João Batista de Andrade, diretor-presidente da Fundação Memorial América Latina, que descreveu os longas nacionais como “estrangeiros" nos cinemas brasileiros.

Manevy, por sua vez, apresentou o projeto do Circuito Spcine, rede de salas públicas de cinema que abriu sua primeira sala no fim de março deste ano e agora já conta com 18 telas inauguradas. Para ele, a demanda de se ter um circuito público de cinema veio tanto da produção paulistana, que em 2015 tinha cerca de 60 títulos sem possibilidades claras de exibição na telona, quanto da falta de acesso à experiência cinema como lazer - especialmente na periferia da cidade. “Em uma pesquisa que recebemos da J.Leiva, um terço da população da capital São Paulo nunca foi ao cinema", comenta.

O executivo afirma que o Circuito Spcine tem também o propósito, portanto, de formar público. Atualmente as 18 salas públicas já somam, por semana, 180 sessões com público em média de 10 mil espectadores. A iniciativa, inclusive, foi descrita como “barata" por Manevy porque, pelo custo médio de produção de um longa-metragem - cerca de R$ 7 milhões - foi possível criar o projeto de 20 salas de cinema em São Paulo. Isso porque esses espaços foram adaptados e, assim, a Spcine não teve de arcar com custos da construção de infraestruturas próprias. O executivo destacou o esforço da Spcine para que a rede de salas, operada pela Guaxupé Produções, mantenha uma programação diversificada. Hoje cerca de 60% da programação do circuito é composta por títulos brasileiros.

Manevy também apontou o desejo de expandir o projeto para o interior de São Paulo e outros Estados brasileiros, assim como de formar parcerias com outros países como o México. Como exemplo ele afirmou que espera, já nos próximos meses, fechar acordo com a Cineteca Nacional do México para que haja um “intercâmbio de filmes".

Representando a Cineteca Nacional, Alejandro Pelayo comentou a formação da iniciativa que hoje tem 10 salas em um único complexo na Cidade do México, capital do país. O projeto foi iniciado em 1974 com dois objetivos: preservar a memória fílmica nacional e promover o cinema mexicano e mundial (com especial destaque à produção da América Latina). Pelayo comentou a história mexicana desde os anos de 1940, 50 e 60 - quando havia uma política pública que garantia 50% do market share para o cinema mexicano - até os anos 1970 e 80 - momento em que se libera a regulação do preço do ingresso para a livre ação do mercado.

Para o executivo, a Cineteca resiste como espaço para os filmes alternativos porque conta com apoio estatal desde sua criação, tem política diferenciada de cobrança com preço pelo menos 40% menor do que o tíquete comum e porque não tem como missão central ser uma empresa lucrativa. Segundo ele, um filme independente que fica quatro semanas em uma sala do espaço costuma ter resultados melhores do que se estreasse em 10 salas comerciais. O projeto exibiu pelo menos 20 longas brasileiros nos últimos três anos. Desses, Pelayo destacou O Sal da Terra, documentário que levou 30 mil mexicanos às salas do espaço.

Cinema alternativo em sala comercial

Adhemar Oliveira, do Espaço Itaú de Cinema, trouxe ao painel a perspectiva da rede de complexos que é comercial, mas também procura incluir a produção independente em suas salas. O executivo explicou o modo como a exibidora tenta equilibrar os dois mundos cinematográficos por meio dos documentários. Para ele, o Brasil produz muitos filmes desse gênero, que têm pouca visibilidade nos cinemas e o Espaço Itaú chegou a fazer uma programação com cinco horários com documentários - o que se mostrou comercialmente inviável. Mas depois mudaram a programação para que quatro horários ficassem com longas populares, enquanto um horário continuava a exibir documentários, que teve um melhor resultado.

O executivo exemplificou também com o caso do documentário O Renascimento do Parto, de 2013, que teve campanha de crowdfunding e conseguiu ser lançado nas salas do Espaço Itaú e, ao fim de sua exibição em salas comerciais, chegou a um público de 30 mil espectadores, além de vender mais de 13 mil cópias em DVD.

Quanto à produção latino-americana, Adhemar criticou o fato de que um filme dessa região tem o mesmo custo para chegar ao Brasil do que outros títulos estrangeiros. Para ele, um meio de incentivar o uso de longas da América Latina nos cinemas brasileiros seria facilitar a entrada dessas produções no País, onde é preciso cerca de 10 mil espectadores para que o filme pague seus custos “burocráticos". Adhemar defende também que esses longas não devem fazer parte apenas de festivais e mostras pontuais. “O nascimento do público vem da permanência. Não há decreto que leve alguém ao cinema, há a paixão", diz. Ele ainda afirma que é preciso conquistar o espectador utilizando principalmente o cinema como “elemento de união". De acordo com o painelista, uma das iniciativas que o Espaço Itaú de Cinema tem utilizada para criar uma “relação de namoro" entre o público e a telona é o “Clube do Professor", que permite que professores e acompanhantes vejam sessões de cinema gratuitas nas manhãs de sábado.

Entre as novidades da rede de cinemas, o executivo apresentou a instalação de uma antena da Cinelive em sua unidade Frei Caneca, em São Paulo, que agora poderá transmitir via satélite os debates e pré-estreias que receber - o que deve aumentar significativamente o público desses eventos. Em agosto, a expectativa é de que a exibidora tenha ainda uma mostra de cinema italiano.

O Grupo Espaço conta hoje com mais de 110 salas em 27 complexos em oito Estados brasileiros.

O Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo vai até a próxima quarta-feira (27) e é promovido pelo Ministério da Cultura, Fundação Memorial América Latina, Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, Petrobras, Banco do Brasil e Associação do Audiovisual, além de contar com a correalização da Spcine e do Sesc.

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