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Artigo / Tendências & Mercado

28 Abril 2021

Oscar da pandemia aposta nos recomeços e na diversidade

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Representatividade na indústria e defesa das salas de cinema marcam premiação 

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O Oscar de 2021 fez história, por várias razões. Em resposta à pressão por representatividade, foi uma premiação mais inclusiva, progressista e humanista. A 93a edição seguiu a tendência de abertura iniciada em 2020, quando concedeu, pela primeira vez, o troféu de Melhor Filme a uma produção não falada em inglês, o sul-coreano Parasita de Bong Joon-ho.

Este ano, o grande vencedor foi Nomadland, que ganhou Melhor Filme, Melhor Direção para Chloé Zhao e Melhor Atriz para Frances McDormand, sendo o terceiro Oscar de sua carreira. A premiação foi uma resposta às mulheres, já que a cineasta chinesa foi a segunda mulher a ganhar nesta categoria e a primeira asiática, e às salas de cinema, pois no discurso de Frances McDormand, a protagonista e produtora do filme defende a ida às salas de cinema, num ano em que os serviços de streaming lideraram as indicações ao Oscar. 

A diversidade também esteve presente nas premiações de Melhor Atriz Coadjuvante para Yuh-Jung Youn, por Minari, a primeira sul-coreana a vencer nesta categoria, Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Kaluuya que interpreta o líder dos Panteras Negras em Judas e o Messias Negro, e Melhor Ator para Anthony Hopkins se tornou o ator mais velho a receber esta estatueta por sua performance em Meu Pai. A política permeou os discursos e a organização da cerimônia. Regina King abriu o Oscar falando sobre racismo e citou a condenação à prisão de Derek Chauvin, responsável pela morte de George Floyd. Biden e seu governo progressista também foram celebrados, já que a viabilidade de um evento presencial remete ao eficaz programa de imunização norte-americano. 

Entre os indicados, Nomadland é realmente o que mais dialoga com o momento atual. Desde sua estreia e coroação com o Leão de Ouro no Festival de Veneza, o filme fez um percurso de absoluto sucesso nas premiações. A consagração do filme se justifica por vários motivos. Num ano de mortes pela pandemia, isolamento social e recessão, Nomadland destaca a experiência de liberdade de nômades, a maioria com mais de 60 anos, que vivem em trailers e suas travessias pelas belas paisagens naturais norte-americanas. Trata-se de uma produção independente, com aspectos documentais  -- Linda May, Charlene Swankie e Bob Wells interpretam suas próprias vidas -- e planos gerais filmados a céu aberto, feitos para serem vistos em tela grande. Apesar de fazer referência à crise de 2008 e aos impactos do capitalismo neoliberal na precarização da seguridade social, já que os personagens não conseguem se sustentar com a aposentadoria, o filme não os reduz a sua condição de classe. Em meio a tantas histórias de luto e perdas da pandemia, o filme aponta que o caminho está nas relações colaborativas e recomeços.

Mesmo com a sensação de estarmos em um filme em câmera lenta, a diversidade tem avançado na indústria e nas premiações. Espera-se que em 2022, com as novas regras de inclusão divulgadas pela Academia, o Oscar seja ainda mais diverso e que, daqui a alguns anos, estas mudanças tenham sido incorporadas para que possamos nos dedicar a analisar as propostas artísticas dos indicados.

Cyntia Gomes Calhado
Cyntia Gomes Calhado

Jornalista, crítica, curadora, pesquisadora e professora do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM. É doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestre pela mesma instituição. É uma das autoras do livro Extremidades: Experimentos Críticos (Estação das Letras e Cores, 2017), organizado por Christine Mello, e também da coletânea Cinematografia, Expressão e Pensamento (Appris, 2019), organizada por Marina Cavalcanti Tedesco e Rogério Luiz Oliveira.

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