Exibidor

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Artigo / Formação & Ensino Audiovisual

10 Novembro 2021

Mudança de hábito: o cinema na contemporaneidade

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Em meio à crise gerada pela pandemia, o setor  cinematográfico tem passado por revoluções significativas, como o fechamento de muitas salas de exibição, adiamento ou cancelamento de filmagens, novos formatos e regras em grandes premiações e o fortalecimento dos  múltiplos  serviços de streaming.

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Dezessete salas de cinema do Espaço Itaú fecharam suas portas, essa crise em especial, pode estar relacionada a fatores sociais provocados pelas mudanças de hábitos oriundas da modernidade líquida potencializadas no mundo pós-pandemia. Mudanças comportamentais, nas quais o interesse dos indivíduos para vivenciar novas experiências, que transmitam uma certa sensação de liberdade e flexibilidade estão em ascensão.

O isolamento social vem manifestando suas consequências com o retorno gradual da abertura da sociedade e em uma espécie de  “retorno do pêndulo” busca-se a expansão do lazer em aglomerações que incluem experiências outsiders : o chamado Êxodo Civilizacional estreitando o contato com a natureza e as múltiplas possibilidades de consumo de produtos culturais on demand.

Porém, a redução das operações físicas do circuito exibidor não representa a diminuição do espaço do  circuito filmográfico mundial na esfera digital: As plataformas digitais dos cinemas estão se multiplicando e potencializando suas atividades na experiência digital, o que, de certo modo provoca a pulverização do conteúdo e fragmentação da audiência conceituada como Disfunção Narcotizante dos meios:  fenômeno social oriundo do excesso de informações, Paradoxo das Escolhas, título do livro do professor de Teoria Social da Universidade de Swarthmore, Barry Schwartz, que  conclui que todo este excesso também pode reduzir a felicidade e a qualidade da experiência,  uma vez que nos sentimos culpados com possíveis escolhas.

Só no Brasil, quando se trata de cinema virtual  estão disponíveis: Cining, Itau Cultural Play, Filme Filme, Belas Artes à La Carte, Cinema Virtual e muitas outras…Todas oferecendo acervos de programações de qualidade, para perfis e públicos distintos. Atreladas as plataformas de cinema virtual há também a crescente adesão da audiência no uso de aplicativos que proporcionam compartilhar a experiência cinematográfica a distância  com um núcleo de pessoas desejado: Netflix Party, Discord Go Live,  Rave, Kast e até mesmo o Scener do Google Chrome com foco no Netflix e Metastream permitem criar uma sala virtual para que as pessoas assistam conteúdos, enquanto compartilham mensagens com os membros presentes na sala.

A pluralidade de aplicativos assassinam a experiência aurática de uma conexão palatável  com objeto audiovisual, e se os indivíduos construíram novos hábitos o circuito exibidor que já enfrentava uma série desafios no mundo pré-pandêmico encontra novas possibilidades para seguir proporcionando  experiências estéticas cinematográficas para o público, como por exemplo:  sessões de cinema a céu aberto em horários flexíveis tornando o espaço de projeção inerente à fruição do filme.

A população teme entrar na Grande Sala enquanto  praias e eventos sociais permanecem lotados com a  flexibilização social…A mutação comportamental de estar sob a luz das estrelas, ao lado da cachoeira e pés descalços na areia em seu tempo de lazer pode apresentar alternativas para recriar os hábitos de cinéfilos captarem o conteúdo pela grande tela…

Na cidade de São Paulo, múltiplas opções para propostas de exibições ao ar livre podem ser feitas e re-feitas: No Pátio da Cinemateca Brasileira, na Casa das Rosas, o Shell Open Air no Jockey Club, nos Parques Públicos e Privados,  na Praça por do Sol, Serra da Cantareira, Rooftops de bares e hotéis, no Cine Vista localizado no shopping JK Iguatemi com suas cabines em formato cápsula de teto transparente com vista para o  céu durante a experiência cinematográfica. Essas experiências podem propiciar  para população traumatizada pelo isolamento um método  paliativo provisório de reconquista ao cotidiano cinematográfico dos cinéfilos.

No mundo, o mais recente hotel do grupo Soneva nas Maldivas oferece aos hospedes o primeiro cinema sob as aguas do mundo, em 2016 os cinemas ao ar livre já estavam em ascensão na Europa como o cinema ao Ar livre nas praias de Barcelona e Caiscais.

Em 2019, no Rio Grande do Norte o  Festival de Gostoso realizou  sessões de cinema na praia de São Miguel de Gostoso, o único do Brasil com projeção na praia, gratuito, com 600 espreguiçadeiras espalhadas pela areia para que o espectador à vontade contemple boas memórias.

O Êxodo Civilizacional e as múltiplas mudanças de hábitos  da rotina acelerada desconstruindo o modo de vida dos grandes centros civilizacionais provocam um cenário de: Shoppings vazios, parques lotados, Quadras de Beach Tênnis no estacionamento do Shopping Iguatemi, Salas de cinema vazias, Praias lotadas. A população teme permanecer enclausurada  mas seguem conectadas… Se a busca por ar livre está como protagonista nas escolhas do publico o mercado exibidor pode ganhar com a flexibilidade da desconstrução do espaço e movimentar mais uma cadeia de remuneração para ressarcir do prejuízo dos tempos perdidos. Liberdade e céu aberto pode ser o espaço público que grande sala precisa! Avante as experiências estéticas para reconquista do público massificado. Novos hábitos podem ascender e requerer o mercado,  construído  através de uma rotina programada e adaptada aos distintos desejos do consumidor traumatizado com as  consequências  pandêmicas.

Ana Júlia Ribeiro
Ana Júlia Ribeiro

Ana Júlia Ribeiro é apresentadora; Mestre de Cerimônias da Expocine; Professora de Teorias da Comunicação e Direção de Atores e Apresentadores nos cursos de Cinema, Jornalismo, Relações Públicas, Rádio e Televisão e Produção Audiovisual da FAAP; Membro e Pesquisadora do Complexus - Núcleo de Estudos da Complexidade de Edgard de Assis Carvalho. Possui Bacharelado em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV e mestrado em Ciências Sociais - PUC - SP.

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