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Artigo / Interior

02 Novembro 2018

Histórias do cinema e de cinemas: Varginha

De 1904 a 2018, Varginha teve oito cinemas, somando um total de 12 salas de exibição

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Varginha, cidade do sul de Minas Gerais, é conhecida pelo E.T., mas também é polo regional de atração e importante praça de comercialização e porto seco de café. Antes do extraterrestre e do café, a Varginha de 1835 apresentava uma tímida população e lento crescimento, cenário que mudou a partir de 1888 com o status alcançado de município, com a construção de uma estação ferroviária e com a chegada de imigrantes, sobretudo italianos.



Seguindo a onda da modernidade, Pedro da Rocha Braga, importante “capitalista” da cidade, foi o responsável pela implantação do primeiro cinema, o Cinema Brasil, no início dos anos de 1900.

Em 1904, abriu as portas o Theatro Municipal, local de inauguração da iluminação elétrica na cidade. No mesmo espaço do teatro, funcionava o Íris Cinema, operado pela Empresa Navarra. O entorno do cinema foi gradualmente transformando-se no local de agitação noturna da cidade. O local passou a ser rodeado por bares e estabelecimentos frequentados pela mais alta sociedade varginhense, que desfilava pelas ruas praticando o footing.

O Íris Cinema / Theatro Municipal foi demolido para a construção do Cine-Theatro Capitólio (nome inspirado, assim como ocorreu com seu predecessor, pelas salas da Cinelândia carioca). Com 936 lugares, o cinema foi inaugurado em 1927 e dois anos depois equipado com o aparelho sonoro R.C.A. Photophone, que fez da sala uma das primeiras de Minas Gerais com o dispositivo de sincronização de som.

O Cine Rex, com lugar para 600 espectadores, som Cinetom e projetor Zeiss Ikon, data de 1938. As empresas Nogueira tomaram frente dos cinemas da cidade até assumir a Empresa Cinematográfica Prince & Souza, encabeçada por Aristides Prince de Souza, que comandaria as exibições na cidade até 1998.

O Cine Rio Branco, de 1.395 lugares, inaugurado em 1956 com o filme Rapsódia (1954), marcou um novo período para a exibição em Varginha. Com construção imponente na Avenida Rio Branco, verdadeira boulevard varginhense, o cinema fez a frequência diminuir no Capitólio. Os Cines Rex e Rio Branco dividiram o público varginhense, o primeiro sendo o cinema do povo e o segundo sendo o “palácio cinematográfico” da elite.

O Cine Rio Branco fechou as portas em 1998 e Varginha ficou sem cinemas até 2000, data do Cine Princesa, de 245 lugares. Com projeção em 35mm e som DTS Dolby Digital, era referido na imprensa como “o melhor cinema em matéria de conforto, som e projeção no padrão americano de Minas Gerais”.

Comandado por parte dos sócios do Princesa, o Cine Master, inaugurado em 2002, foi o primeiro cinema com mais de uma sala. A sociedade Prinsul já havia sido desfeita e o Cine Princesa fechado quando os sócios Paula e Mário Cincoetti realocaram o Cine Master para o endereço e instalações do Cine Princesa.

O Cine Master fechou em 2017, tendo passado pelo processo de digitalização em 2016, ano em que foi inaugurado o primeiro shopping center de Varginha e nele um complexo Cinemark, utilizando o modelo de quatro salas (somando 800 lugares) prontas para a exibição em 3D.

De 1904 a 2018, Varginha teve oito cinemas, somando um total de 12 salas de exibição. Assim como no resto do mundo, os cinemas de Varginha foram afetados pela chegada da televisão, do home vídeo (e sua evolução até o video on demand atual) e pela popularização da internet, que mudaram a relação dos espectadores com o consumo do audiovisual. Hoje, Varginha tem seu menor número de cinemas (apenas um), maior número de salas (quatro), mas menor número de lugares (800), muito menos do que os 2.862 lugares que tinha entre os anos 1956 e 1982.

Otávio Lima
Otávio Lima | otaviolima@id.uff.br

Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense

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