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Artigo / História

17 Maio 2019

Maricá e seus cinemas: uma relação que deixou saudade

Conheça a história dos cinemas da cidade carioca

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Maricá, cidade litorânea da região metropolitana do Rio de Janeiro, localizada a cerca 60 km de distância da famosa Cinelândia carioca, possuiu entre o começo do século XX e os anos 70, quatro salas de cinema. Em 1894 um grupo de influentes da cidade fundam a Estrada de Ferro Maricá. Este é o marco da chegada da modernidade na cidade. O mesmo trem que ia de Maricá para a cidade grande, levando verduras e peixe salgado, retornava à vila trazendo as novidades modernas.

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Ruas, comércios e agências bancárias foram construídas, novos moradores e empreendedores chegaram à Maricá nos trilhos do trem. Dentre eles o Dr. Luiz Carlos Fróes da Cruz, deputado niteroiense e pai do ator Leopoldo Fróes da Cruz. De acordo com a história oral da cidade, ele fundou uma casa de espetáculos de variedades. O lugar funcionou de 1906 a 1920 e foi batizado de Cine Teatro Leopoldo Fróes. Recebia trupes teatrais, apresentações itinerantes e o cinematógrafo. Estima-se que sua localização ficava próxima ao número 140 da Rua Ribeiro de Almeida no centro da cidade.

O segundo cinema foi o Cine Maricá, administrado pelo comerciante Pedro Paulo Pereira. Funcionou entre as décadas de 1930 e 1950 na Rua Ribeiro de Almeida, 92. Em estilo Art Déco, o cinema tinha palco para apresentações, chão de cimento batido na cor vermelha, cerca de 250 cadeiras de madeira, camarote e um gerador de energia elétrica que iluminava as ruas do entorno. Foi também o cinema que protagonizou a chegada dos filmes sonoros, fato que aproximou uma grande parcela analfabeta da população, especialmente aos filmes nacionais.

No princípio dos anos 1960, surge o Cine Miramar. Localizado na esquina da Rua Senador Macedo Soares com a Ribeiro de Almeida, o prédio foi a primeira construção em dois pavimentos da cidade e era administrado pelo funcionário público Pedro Aguiar Coelho. No térreo funcionava o bar de Seu Doca, e o cinema, no segundo pavimento. Frequentado pelas classes populares, o espaço comportava cerca de 100 pessoas acomodadas em bancos de madeira sem encosto e exibia muitas séries americanas, filmes de bang bang e filmes impróprios para menores.

Em 1962 Jorge Silva, comerciante e ex-prefeito da cidade, iniciou a construção daquele que seria o quarto cinema. Grande e luxuoso, o Cine São Jorge ficava no número 302 da Rua Domício da Gama e estreou com a exibição de El Cid, com Charlton Heston e Sophia Loren. Contava com 300 poltronas, bombonière, balcão superior e exibia filmes nacionais, mexicanos, românticos e épicos. O espaço que também abrigou comícios políticos, shows de calouros e formaturas, perdeu sua força com a popularização dos aparelhos de televisão, fechando as portas no final da década de 1960.

Após o Cinema São Jorge, a cidade não teve outro cinema, e para assistir a um filme, os moradores percorrem 45 km até Niterói. Em 2016, a prefeitura encampou o projeto de um cinema público e ao lado da estrutura do antigo Cine São Jorge nascia o Cinema Henfil. A construção do prédio foi realizada, mas o projeto do cinema não foi adiante. Atualmente o espaço é utilizado para receber apresentações teatrais, congressos e seminários. Nesta pesquisa inicial e nas conversas com os idosos da cidade, descobrimos uma Maricá que possuía uma relação próxima com a exibição cinematográfica. Hoje, a cidade que durante sua história contou com quatro salas de exibição, aguarda o retorno de uma tela de projeção.

Rodrigo Freitas
Rodrigo Freitas

Rodrigo Freitas é realizador audiovisual e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF (PPGCINE/UFF). Coordenou a pesquisa da I Mostra Maricá Cinema e Memória e atualmente pesquisa as histórias e memórias das salas de cinema de Maricá. Trabalhou como fotógrafo em Maricá, produtor e editor na TV Brasil e na Fox International Channels. Seus curtas autorais são: “Entornos”, "Vestido Sujo de Sangue" e “Lambari”.

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