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04 Novembro 2019 | Fernanda Mendes

Tema de redação do ENEM reacende debate em torno do mercado exibidor

Prova pediu para que alunos escrevessem sobre a democratização do acesso ao cinema

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(Foto: Divulgação)

Ontem (04) a prova do ENEM chamou a atenção do mercado pelo tema da redação que propôs que os alunos escrevessem sobre a democratização do acesso ao cinema no Brasil. Apesar de trazer dados desatualizados do número de salas no País – o texto de apoio dizia que atualmente há 2.200 salas, sendo que são mais de 3.300 - o tema da redação foi bem recebido pelos players do setor, que viram como uma oportunidade de ampliar o debate a respeito do assunto.



“Fiquei surpreso positivamente, porque propicia uma reflexão do nosso negócio. Até fiquei com vontade de fazer um texto sobre o tema”, disse Ricardo Difini Leite, presidente da FENEEC (Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas) e diretor de operações da GNC Cinemas, em entrevista ao Portal Exibidor.

Em um determinado ponto, o texto de apoio para a redação falava sobre a concentração das salas em regiões com renda mais alta, ou grandes centros urbanos. Para Difini, esse é um ponto que merece realmente atenção do governo. O Sudeste conta com 1.761 salas e o Nordeste com 548.

“O governo tem que dar maiores incentivos para regiões mais carentes, incentivos que façam com que os empresários se interessem nessas regiões, pois há um medo do empresário de não ter um retorno”, explicou. Ele ainda ressaltou a importância do grande número de pequenos exibidores no País para suprir essa demanda nos locais com menos população. Citou como exemplo o recente edital do Estado do Rio de Janeiro com inventivo de R$ 150 mil para exibidores com apenas uma sala.

Gilberto Leal, exibidor e presidente do Sindicato dos Exibidores do Rio de Janeiro, também comemorou a volta do protagonismo do mercado de cinema no debate público. O exibidor acredita que será muito agregador entender as respostas dos alunos, e se reposicionar de acordo com o que os jovens estão pensando. Ele também acha que muitos dos textos irão abordar o valor do ingresso, o que, para ele, também será bom para que os exibidores passem a explicar melhor para o público o porquê do alto custo do ticket. “A operação de um cinema tem um auto custo muito caro: energia elétrica, impostos, aluguéis, equipamentos, funcionários. Isso tudo é dinheiro, o que faz com que nosso ingresso seja muito alto”.

O problema do valor do ingresso, para Difini, poderia ser minimizado se o Governo intervisse menos no setor. “Vivemos em um País onde meu filho paga meia-entrada, mas o porteiro ou o faxineiro paga inteira. Isso está errado, porque muita gente que tem poder aquisitivo alto paga meia, então isso dificulta o acesso das pessoas menos favorecidas. Deveria ter um critério de renda”.

Procurado pelo Portal Exibidor, o atual diretor-presidente da Ancine, Alex Braga, também enxerga com bons olhos a inclusão da temática do parque exibidor brasileiro no Enem. "A temática converge com as iniciativas da Agência de debater e discutir com governo, sociedade e agentes econômicos as possibilidades para a expansão do parque de exibição brasileiro".

Braga salientou que o parque exibidor brasileiro cresceu 224%, em termos de número de salas, desde o seu patamar mínimo na década de 90. Mas, apenas 7,4% dos municípios tem pelo menos uma sala para atender seus cidadãos. Então, um dos principais desafios da agência é como atender quase metade da população brasileira que reside em municípios com baixa densidade demográfica. "Outro desafio é como equacionar gargalos da distribuição para que mais conteúdos cheguem aos menores munícipios e atendam uma demanda da população".

Atualmente, inclusive, a Ancine realiza uma Análise de impacto Regulatório (AIR) sobre o segmento de exibição cinematográfica. "O segmento de exibição cinematográfica ainda é a primeira janela de exibição para parte expressiva da produção nacional, o que faz com que o desempenho dos filmes brasileiros nas salas seja decisivo para sua trajetória nas janelas subsequentes. Quanto mais forte o mercado de exibição, mais se beneficiam todos os demais elos da cadeia econômica do setor".

Do ponto de vista dos estudantes que prestaram a prova do ENEM, o tema foi inesperado, contou Cristiane Guzzi, que é professora de relações entre cinema e literatura, e produtora executiva da Expocine. De acordo com os feedbacks, apesar da surpresa, o assunto foi recebido de forma positiva, uma vez que faz parte do universo diário o consumo de conteúdo audiovisual.

O ENEM continua ainda no próximo domingo, dia 10, e os resultados da redação ainda não foram divulgados, mas Cris acredita que talvez não haverá uma construção argumentativa mais heterogênea por parte dos participantes da prova, já que o acesso às salas de cinema restringe-se, quase sempre, ao público do eixo SP-RJ.

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