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19 Março 2021 | Renata Vomero

Com concorrência acirrada, o fã se torna peça fundamental na indústria de entretenimento

Lançamento de Snyder Cut consolida importância do público para os estúdios

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(Foto: Divulgação)

O público sempre foi de crucial importância para o desenvolvimento estratégico de produções de televisão e cinema dentro da indústria de entretenimento. No entanto, com a internet e as redes sociais, cada vez mais os fãs vêm desempenhando papel central nas tomadas de decisões, seja em escolhas de elenco e talentos, seja no lançamento de novas histórias. É o caso, mais do que consolidado, do Snyder Cut, visão do diretor Zack Snyder para Liga da Justiça, oficialmente lançado nos cinemas em 2017 pela Warner.

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E é para este ano que precisamos ir para entender o papel dos admiradores neste lançamento. Em 2017, um pouco antes do filme ser lançado, ainda em produção, a Warner estava pressionando Zack Snyder, tradicional e querido diretor das adaptações da DC para os cinemas, para tentar uma abordagem diferente em Liga da Justiça, que se aproximasse do que a Marvel vem fazendo, com filmes mais família, em tons mais alegres. Com a pressão, Zack Snyder, que estava passando por uma tragédia pessoal, acabou deixando a produção, que foi assumida por Joss Whedon, responsável pelo sucesso do primeiro Vingadores, de 2012.

Bom, o filme do grupo de heróis da DC acabou não tendo a performance esperada na bilheteria e os fãs não gostaram nem um pouco do resultado. O que gerou uma campanha na internet para que a Warner lançasse a versão pensada por Zack Snyder, que havia boatos de já existir, então, foram petições e pedidos de artistas, incluindo o próprio Snyder, para que sua visão da Liga ganhasse as telas. Tudo isso ganhou vida com a #ReleaseTheSnyderCut

E o pedido foi acatado. A Warner anunciou que soltaria o Snyder Cut do filme, que acabou ganhando um lançamento de quatro horas apenas na HBO Max, nos Estados Unidos, e em VOD nos outros países. Depois de muita negociação, Snyder, então, ganhou um orçamento de US$70 milhões para isso, usando a quantia para fazer refilmagens e finalizar o longa. Ou seja, houve uma grande aposta do estúdio para satisfazer os fãs, tendo a total consciência de que eles dariam o retorno que a Warner precisava: um forte produto para atrair assinantes para seu novo streaming.

“O Snyder Cut é um respeito com os fãs. A gente está conseguindo ver isso materializado pela primeira vez. [...]É lógico que os executivos viram nisso a oportunidade de fazer dinheiro, de colocar o streaming deles num jogo que tá a cada dia mais acirrado. [...]O filme chega no momento certo, na guerra dos streamings. Concorrência é um negócio maravilhoso, porque quem ganha é sempre o consumidor, quanto mais conteúdo nós ganhamos, disse Erico Borgo, fundador e ex-sócio do Omelete e sócio-fundador da produtora Huuro, em live sobre o filme intitulada “BORGOVERSO - Snyder Cut e o triunfo dos fãs”.

Este episódio deve se tornar um marco dentro da cultura de fãs, mas não é o único mais recente. Sonic: O Filme estava programado para ser lançado em 2019, quando a Paramount lançou as primeiras imagens do personagem e houve uma avalanche de críticas nas redes sociais. Foi aí que o estúdio desembolsou cerca de US$30 milhões para refazer o querido ouriço azul e agradar o público. A decisão foi recompensada, com o filme faturando mais de US$300 milhões na bilheteria global, inclusive, sendo a maior bilheteria de 2020 na América Latina. Sucesso que fez com o que filme garantisse a sequência que deve ser lançada em 2022 nos cinemas.

“Através destes fãs conseguimos reverter o jogo a nosso favor e manter o Sonic quente nas redes sociais por muito tempo. A partir desta voz, pudemos desenvolver uma campanha de marketing de muito sucesso, pois todo tipo de material que lançávamos tinha bastante engajamento, a partir dos fãs, e cada vez mais ampliando para a audiência mainstream”, explicou Luciana Falcão, diretora de Marketing da Paramount Pictures Brasil ao Portal Exibidor.

Para a executiva este papel está sendo cada vez mais crucial na tomada de decisões dos estúdios e distribuidoras, desde a área mais criativa, até a mais estratégica.

A relação de respeito desenvolvida com os fãs, antes ou agora, podendo ser o fanbase de uma franquia, de um personagem, ator ou atriz, é sempre benéfica. Eles estão sempre em busca de informações e até descobrem fotos e notícias algumas vezes antes de nós. Isso tudo movimenta a conversa de forma positiva, cria expectativa entre eles e vai a cada momento da nossa campanha extrapolando para audiência mais ampla”, comenta.

Essa relação é muito utilizada para os departamentos de marketing entenderem o seu público e o que querem, desenvolvendo assim toda a sua estratégia de lançamentos a partir disso, seja na programação dos cinemas, seja agora no streaming, menina dos olhos da maior parte dos estúdios. Entender o público é e sempre foi um dos pontos-chave da indústria, desde sua criação e deve continuar assim.

No entanto, há um risco quando o fã passa a ter papel tão central assim, deixando de lado liberdades criativas e riscos, há um malefício em criar suas estratégias apenas com base na avaliação do público.

“Os principais produtores de mídia passaram a ver o envolvimento dos fãs como a moeda principal que molda o sucesso ou o fracasso de qualquer propriedade de mídia hoje”, explicou Henry Jenkins em entrevista ao Portal Exibidor, justamente sobre a questão de cultura de fãs no ano passado, tema tão estudado e aprofundado por ele.

Ele destaca, como maior risco, a possibilidade destas empresas criarem apenas para esses nichos, uma estratégia que talvez ganhe mais atenção dentro do streaming, que possibilita maior liberdade de lançamentos e menores prejuízos, caso a decisão não seja tão acertada

“O risco é que os produtores comecem a criar mídia exclusivamente para os fãs, criando mundos de histórias que são tão densos que dependem da familiaridade do público com histórias de origem cada vez mais elaboradas em vez de reconhecer o sucesso de bilheteria baseia-se na interseção entre fãs e um público mais generalizado que tem uma relação mais casual com esse conteúdo”, finalizou.

 

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