10 Maio 2021 | Renata Vomero
Globo de Ouro sofre ameaça de boicote pelos principais players de Hollywood
Organização vem sendo acusada de resistir às políticas de inclusão de diversidade
Desde um pouco antes da cerimônia deste ano do Globo de Ouro, em fevereiro, a organização responsável, HFPA (Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood) vem sendo acusada de ganhar benefícios em trocas de indicações e mais do que isso, de não trabalhar pela inclusão de grupos minoritários entre seus membros, refletindo isso nas escolhas dos vencedores do prêmio.
Publicidade fechar X
Com toda a polêmica em torno disso, a organização anunciou que contrataria uma equipe de consultoria que seria responsável por criar diretrizes de mudanças internas e externas nesse sentido. Em paralelo, corria também a notícia de que não havia membros negros no HFPA, formado por cerca de 87 jornalistas.
Ameaçado de boicote por agências de talentos e grandes empresas de relações públicas desde então. Nesta sexta-feira (7), a HFPA anunciou as primeiras medidas adotadas para trabalhar na inclusão entre seus profissionais. E as medidas não agradaram nem um pouco o mercado de Hollywood.
A HFPA divulgou que aumentaria seu corpo de jornalistas em cerca de 50%, e que a partir deste crescimento, haveria a iniciativa de incluir jornalistas que representassem grupos minoritários. No entanto, o prazo para começar essas mudanças é de 1 de setembro, o que não abarcará a temporada de premiações, que normalmente tem início no fim do ano, com os lançamentos nos Estados Unidos. Ou seja, com este prazo, a próxima edição da premiação provavelmente não sofrerá efeito dessas novas medidas.
Além disso, o mercado não se mostra satisfeito com as iniciativas adotadas em si, visto que permanecerão na associação ainda os 87 membros, muitos deles envolvidos em escândalos, e muitos deles pouco comprometidos com as mudanças de Hollywood, muitas delas impulsionadas pelos movimentos #Metoo e Time’s Up.
Com isso, mais de 100 agências de talentos se uniram prometendo boicote ao Globo de Ouro, impedindo que seus membros sejam convidados para coletivas, cabines e entrevistas com estes talentos.
A Netflix também entrou na lista dos que prometeram não mais trabalhar com a organização até que medidas sérias de inclusão sejam estabelecidas. “Não acreditamos que essas novas políticas propostas - particularmente em relação ao tamanho e velocidade do aumento de profissionais - vão enfrentar a diversidade sistêmica da HFPA e os desafios de inclusão, ou a falta de padrões claros de como seus membros devem operar. Portanto, estamos interrompendo todas as atividades com sua organização até que mudanças mais significativas sejam feitas”, comentou o co-CEO da Netflix, Ted Sarando, em texto endereçado à organização.
Seguindo o exemplo da gigante do streaming, a Amazon também anunciou que não trabalhará mais com a HFPA enquanto mudanças não sejam feitas. “Não temos trabalhado com a HFPA desde que essas questões foram levantadas pela primeira vez e, como o resto da indústria, estamos aguardando uma resolução sincera e significativa antes de seguirmos em frente”, disse a empresa em comunicado.
Todos estes posicionamentos foram endossados por outros players da indústria e também por grandes astros de Hollywood, como Mark Ruffalo e Scarlet Johansson, principalmente pela atriz, que reforçou o caráter sexista das entrevistas realizadas pelos membros da HFPA durante as temporadas passadas de premiações.
“Espera-se que uma atriz que promova um filme participe da temporada de premiações, o que inclui entrevistas coletivas e cerimônias de premiação. No passado, isso geralmente significava enfrentar perguntas e comentários sexistas de certos membros da HFPA que beiravam o assédio sexual. Foi também a razão exata pela qual eu, por muitos anos, me recusei a participar de suas coletivas. A HFPA é uma organização que foi legitimada por nomes como Harvey Weinstein para ganhar impulso como prévia do reconhecimento da Academia e a indústria os seguiu. A menos que haja uma reforma fundamental necessária dentro da organização, acredito que é hora de dar um passo atrás em relação à HFPA e nos concentrar na importância e na força da unidade dentro de nossos sindicatos e da indústria como um todo”, ressaltou a atriz em comunicado.
Se os boicotes das agências de talentos e dos principais membros do mercado se concretizarem, caso a HFPA não determine mudanças sólidas em sua cultura, é cada vez mais possível que o Globo de Ouro de 2022 não aconteça. Algo inédito nos 78 anos da premiação.
- 0 medalha