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27 Outubro 2021 | Renata Vomero

Estudo avalia qualidade da representação em Hollywood de pessoas com deficiência

Análise foi conduzida pelo departamento de psicologia da UCLA

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(Foto: Diamond)

O Center for Scholars & Storytellers, parte do departamento de psicologia da UCLA (EUA), conduziu um estudo que visa analisar a perspectiva de pessoas com deficiência sobre a qualidade de suas representações no cinema e na televisão.

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Para tal, o departamento se uniu à ONG RespectAbility para ter uma análise dos dados coletados na pesquisa, realizada com mil adultos estadunidenses na faixa etária de 18 a 54 anos. Destes adultos, 268 relataram ter alguma deficiência. Parte da análise deu conta de entender as intersecções com outros grupos sub-representados na mídia, como mulheres, negros, pessoas LGBTQIA+ ou de outras etnias, também para entender o impacto de outras opressões.

50% dos entrevistados disseram achar que a representação de sua identidade permaneceu a mesma nos últimos dois anos, mulheres e pessoas que não se identificam como binárias sentiram muito pouco progresso nessa representação.

E aí entra um dado muito significativo, apenas 42% das mulheres que participaram sentem que sua identidade esta sendo bem retratada, já este número é de 75% entre os homens. Esse abismo entre os gêneros neste recorte aparece quando se pergunta sobre a qualidade do retrato que está sendo feito. 68% das mulheres com algum tipo de deficiência disseram esperar por uma representação de maior qualidade, enquanto 65% dos homens com alguma deficiência esperam mais quantidade.

O relatório traz dados importantes sobre como essas respostas devem ser levadas em consideração pela indústria. Segundo as informações, um em cada cinco cidadãos dos EUA têm alguma deficiência, representando 60 milhões de pessoas no país. Segundo dados do IBGE, no Brasil, são cerca de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, mais de 20% da população.

Ou seja, são milhões de pessoas com poder de consumo em mãos, então, não é muito inteligente por parte da indústria ignorá-las, embora seja isso o que acontece na maior parte dos mercados.

O relatório do estudo traz um dado significativo da Nielsen sobre os EUA: “consumidores com deficiência representam um segmento de mercado de US$ 1 bilhão. Quando você inclui suas famílias, amigos e associados, esse total se expande para mais de US$ 1 trilhão”.

Pois é, aí voltamos às problemáticas levantadas pelos entrevistados, que responderam perguntas relacionadas à sua satisfação com o retrato feito por pessoas com deficiência no cinema e na televisão.

Um dos pontos levantados na análise está na quantidade de vezes em que há esse retrato e também na forma, tendo em vista em que quando existem histórias que falem de pessoas com alguma deficiência, sejam elas protagonistas ou não, muitas vezes elas são interpretadas por atores sem deficiência alguma.

Os entrevistados lembraram o histórico da academia do Oscar em premiar atores por papéis em que interpretaram pessoas com deficiência, sem representarem este grupo, e que a academia valoriza a atuação justamente em “fingir” ter alguma deficiência. O caso mais recente foi de Eddie Redmayne, por interpretar o cientista Stephen Hawking, em A Teoria de Tudo, em 2014. Ainda assim, embora com um trabalho muito mais inclusivo na equipe, quem deu vida ao protagonista surdo de O Som do Silêncio foi Riz Ahmed, que não é surdo.  O ator foi indicado ao Oscar agora em 2021.

Outra crítica levantada pelas pessoas ouvidas no estudo é que normalmente é um retrato de pessoas brancas e hétero, quando, na verdade, há uma grande intersecção de gênero, raça e orientação sexual.

“Quase todas as representações de pessoas com deficiência na mídia são brancas, mas a deficiência afeta a todos. As pessoas com deficiência vêm de todas as comunidades - incluindo negra, hispânica/latina, indígena, LGBTQIA+ e outras comunidades sub-representadas”, apontou o relatório.

Por fim, a ênfase do estudo aponta para a necessidade de trazer PCDs para dentro das produções em todos os seus âmbitos, seja na atuação, seja no roteiro, na direção. Isso é algo que sempre precisa ser bem avaliado.

Como exemplo, a ONG RespectAbility citou o filme CODA, recém lançado nos cinemas do Brasil, que conta a história de uma garota, filha de pais surdos, que tem o sonho de viver da música. A maior parte do elenco foi formada por pessoas surdas, o que melhora e muita a representação em tela desta comunidade. Um exemplo importante e de grande visibilidade é de Um Lugar Silencioso, a franquia conta com a atriz surda Millicent Simmonds.

“Não é apenas importante aumentar a representação, mas também garantir que a narrativa seja boa. Não é suficiente apenas ser incluídos - temos que ser incluídos de uma forma autêntica, contando histórias diversas e complexas da experiência da deficiência e evitar cair na armadilha da ‘pornografia de inspiração’, que pressupõe que qualquer pessoa com deficiência deve sentir isso e usa pessoas com deficiência para fazer as pessoas sem deficiência se sentirem bem consigo mesmas”, observaram Lauren Appelbaum, Tatiana Lee, Vanni Le e Lesley Hennen da RespectAbility no relatório. As informações são do Deadline.

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