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17 Maio 2022 | Renata Vomero

Festival de Cannes começa com desejo de marcar novo capítulo para a indústria

Evento inicia hoje (17) e promete entregar uma das maiores edições dos últimos anos

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(Foto: Divulgação)

Não foram poucas as dificuldades que a indústria enfrentou nestes dois anos de pandemia e o Festival de Cannes, sendo um dos mais importantes do mundo, não passaria ileso desses desafios. Depois de ser suspenso em 2020 e levantar uma edição potente, no entanto mais enxuta em julho de 2021, o festival retorna ao calendário tradicional, em sua 75ª edição, com desejo de marcar o início de um novo momento para a indústria.



E esse olhar de novo momento vem bem marcado já no pôster oficial desta edição. Nele vemos a cena clímax de O Show de Truman (1998), quando o personagem de Jim Carrey encontra a fronteira de seu conhecido falso-mundo e abre a porta para o que tem fora e lhe é totalmente desconhecido. Uma boa alegoria, inclusive, ao Mito da Caverna (de Platão) que, neste caso, evidencia a importância de ver o mundo por um novo olhar real.

Bom, as interpretações podem ser inúmeras, no entanto, fica difícil não comparar com um mundo que parou por dois anos devido à pandemia, assistindo à realidade acontecendo de dentro de suas casas. Dois anos depois, sair deste período de reclusão exige de nós justamente fazer o exercício de observar a nova realidade e nos entender como parte dela. Com a indústria de cinema não seria diferente e é nesse momento de entendimento que o Festival de Cannes se posiciona.

Não são poucos os temas da realidade que já cercam a edição que mal começou, sendo um dos mais fortes deles a guerra da Rússia contra a Ucrânia. A organização do evento foi uma das que se posicionou dizendo que proibiria qualquer delegação russa apoiada pelo governo, bem como filmes que tivessem algum apoio estatal mais efetivo. Jornalistas de publicações pró-Putin também foram barrados.

A abertura do evento contou, inclusive, com um pronunciamento de Volodymyr Zelesky, presidente da Ucrânia, que disse:"Precisamos de um novo (Charlie) Chaplin para provar que hoje o cinema não é silencioso. Temos que ser vitoriosos. Precisamos do cinema para garantir esse final, que toda vez seja do lado da liberdade". 

Inclusive, o filme russo Tchaikovsky's wife, de Kirill Serebrennikov, está entre os 21 filmes na competição oficial. Em uma coletiva de imprensa realizada na tarde de ontem (16), Thierry Frémaux, diretor do festival, disse que liberou a seleção do filme por ter considerado que ele foi realizado antes de toda essa questão geopolítica, mesmo contando com financiamento de oligarquias russas.

Entre os 21 filmes na disputa pela Palma de Ouro estão novas produções dos irmãos Dardenne, de David Cronenberg, James Gray e Park Chan-Wok, entre outros. Já dentre estes mais de 20 títulos, apenas cinco são dirigidos por mulheres, o maior número na história do festival, mas ainda distante do compromisso de paridade de gênero que a organização assinou em 2018.

O escolhido para ser homenageado na Mostra Competitiva é o ator Forest Whitaker, já quem presidirá o Júri, responsável por definir o ganhador da Palma de Ouro, é o ator francês Vincent Landon. A cerimônia de premiação acontecerá no encerramento da edição, em 28 de maio.

Mas talvez os olhares estejam ainda mais atentos ao que acontece nos bastidores das negociações por aquisições de títulos.  Desta vez, com restrições sanitárias de lado, o evento promete entregar uma das melhores edições dos últimos anos, com diversos e fortes filmes disponíveis para aquisição no mercado global.

Inclusive, em entrevista dada ao Portal Exibidor na semana passada, Marcio Fraccaroli, CEO da Paris Filmes, que estará em Cannes, reforçou justamente essa questão, se mostrando bastante animado com as possibilidades de negócios em Cannes. O Marché du Film, evento de negócios do festival, acontecerá entre hoje (17) e 25 de maio.

 

Presença brasileira 

Falando na presença nacional, muitos distribuidores locais estarão presentes no evento em busca de boas oportunidades para o mercado brasileiro e latino-americano. No entanto, não só nas compras o Brasil está de olho, mas também na venda de produções nacionais aos territórios internacionais.

O2 Play confirmou presença no festival com três filmes inéditos que devem ser comercializados para players do mundo todo. São eles: Raquel 1:1Paixões Recorrentes e Mundo Novo.

“A volta dos mercados de cinema presenciais foi muito esperada e é muito bem-vinda para nós. Estamos muito animados em poder reencontrar distribuidores internacionais parceiros e festivais internacionais. Vamos promover o nosso line-up mais recente de filmes que inclui ‘Raquel 1:1’, recém-estreado no festival SXSW, e ‘Mundo Novo’, vencedor de dois prêmios no festival do Rio. Esperamos fechar acordos de distribuição com diferentes territórios para esses títulos e outros do nosso catálogo”, afirmou Lidia Damatto, gerente de vendas de produções brasileiras no mercado internacional.

A produtora audiovisual Druzina Content também estará presente no festival. Na bagagem da empresa foram diversos filmes, curtas e longas, que atestam a expertise da produtora na criação de universos futuristas. “O Brasil tem um grande público de consumidores ávidos amantes de conteúdos de ficção científica, seja nos livros, games e também no audiovisual. A maior parte do consumo está em filmes e séries estrangeiras que são uma das maiores bilheterias do nosso país. A produção nacional encontra algumas barreiras, mas é fenomenal fazer histórias fantásticas com a nossa cara, com as nossas locações e a nossa cultura. Somos apaixonados por esse gênero e queremos muito levar nosso conteúdo e a identidade brasileira nas nossas produções de ficção científica para o mundo inteiro”, contou Luciana Druzina, CEO da Druzina Content, que também participará de outros diversos eventos que integram a programação do Marché du Film.

Depois do tour pelos Estados Unidos, com premiação e salas de exibição lotadas nos festivais americanos, o filme brasileiro Coração de Neon desembarca no Festival de Cannes. O longa-metragem vai participar do Marché du Film. Os produtores Lucas Estevan Soares e Rhaissa Gonçalves estarão com um estande próprio da IHC (International House of Cinema), a produtora do filme. Eles já têm encontros agendados previamente com representantes de alguns países, interessados na distribuição e exibição do longa em seus territórios.

O instituto NICHO 54 participará do evento de negócios com uma comitiva formada por sete mulheres negras ligadas ao programa NICHO Executiva. O grupo que marca presença no evento francês será formado por Fernanda Lomba, cofundadora do NICHO 54 e idealizadora do NICHO Executiva; Joelma Gonzaga, produtora e coordenadora do NICHO Executiva; e as cinco produtoras participantes do programa vindas de três estados brasileiros: Cláudia Roberta (Tocantins), Daiane Rosário (Bahia), Emanuela Barboza (Rio de Janeiro), Flávia Santana (Bahia) e Yolanda Barroso (Rio de Janeiro).

 “A presença em eventos de mercado desta magnitude é de extrema importância para o desenvolvimento das carreiras das participantes do NICHO Executiva. Durante esta passagem da nossa comitiva pelo Marché du Cannes, as produtoras estarão imersas em um contexto audiovisual efervescente e criativo, que permite a conexão com players de diversos países para ampliar a rede de contatos e estabelecer relacionamentos profissionais”, explicou Fernanda Lomba.

Também, o Governo de São Paulo realiza a segunda missão do CreativeSP/Programa de internacionalização da economia criativa, que tem como objetivo impulsionar o intercâmbio internacional das empresas paulistas do setor e atrair investimento estrangeiro para São Paulo.  Ao todo, dez empresas paulistas do setor cinematográfico participarão do Marché du Film no Festival de Cannes, em um Stand exclusivo em parceria com o Cinema Brasil. Elas foram selecionadas entre as 122 inscritas. O evento é a segunda missão do programa CreativeSP e a única dedicada exclusivamente ao setor audiovisual. A primeira foi para o South by Southwest 2022 (SXSW). Ainda haverá outras sete missões para eventos dedicados a diferentes áreas da economia criativa.

Sem filme brasileiro na Mostra Oficial, o país está sendo representado na Mostra Cannes Classics, com a exibição da versão remasterizada em 4k do icônico Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.

Matéria atualizada em 18/05

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