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03 Agosto 2022 | Renata Vomero

Setor audiovisual catarinense cresce 429% em 10 anos, aponta mapeamento inédito

Estudo foi lançado pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC) em parceria com UFSC

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(Foto: iStock)

Entre 2019 e 2020, foi realizado o Mapeamento e Estudo do Setor Audiovisual Catarinense projeto financiado pelo Prêmio de Cultura Catarinense de 2019, lançado pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC) e que abrange o período de uma década da indústria do estado (2010-2020). Os resultados da análise acabam de ser divulgadas.

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O projeto foi desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina unindo professores e pesquisadores do Departamento de Economia e Relações Internacionais, além, claro do Curso de Cinema, algo inédito dentro do mercado. Nesse sentido, o estudo tem caráter econômico e institucional.  Para tal, foram entrevistados profissionais e entidades do audiovisual, além do uso de dados da Ancine, IBGE e Secretaria da Fazenda do estado. Os pesquisadores envolvidos neste mapeamento foram: Eva Yamila da Silva Catela, Hoyêdo Nunes Lins, da área de Economia e Relações Internacionais; e Caroline Mariga e Alfredo Manevy, da área de Cinema.

“Buscamos fazer uma radiografia do setor audiovisual no Estado, que é um lugar que não tem a mesma tradição de São Paulo e Rio de Janeiro, que já tem um polo estruturado, mas que reflete a realidade de muitos estados que crescem e vem sua economia audiovisual se desenvolver. Embora seja um estudo de Santa Catarina, ele reflete a realidade brasileira”, explicou Alfredo Manevy, diretor-presidente da Spcine entre 2014 e 2016, professor-associado de cinema na UFSC, e coautor, com Fabio Maleronka, do livro Depois da Última Sessão de Cinema.

Em uma década, o setor audiovisual catarinense cresceu exponencialmente, com o segmento se tornando cada vez mais produtivo, rentável e vibrante. Segundo indicam registros da Agência Nacional do Cinema (Ancine), 476 agentes econômicos atuavam no setor em 2019. Em 2010, este número atingia 90 agentes, o que representa um crescimento de 429% no período.

Ainda sobre esses agentes, indicadores mostram que 40% deles estão localizados na capital catarinense: são 180 agentes econômicos. Maior cidade de Santa Catarina, Joinville possui quase 80 agentes. Também se destacam Blumenau, Itajaí, Chapecó e Balneário Camboriú.

Com esse crescimento da indústria, fica impossível não fazer relação direta com o total arrecadado em impostos, visto que o fomento em cultura, por consequência, movimenta a chamada Economia Criativa, uma das mais pulsantes do país.

Neste sentido, o audiovisual gerou R$116,8 milhões em impostos para o estado de Santa Catarina, esse valor é referente ao ano de 2017, melhor ano de arrecadação de ICMS pela TV por assinatura, um dos principais segmentos do audiovisual. Se considerar o Setor de Comunicação, que inclui o uso de banda larga para consumir filmes, séries e vídeo sob demanda ou no streaming, o montante arrecadado em 2020 é de R$1 bilhão. No Brasil, os números apontam que os brasileiros usem cerca de 80% da banda larga para esse tipo de consumo.

Até 2017, o consumo de TV por Assinatura se manteve como uma das principais forças para o mercado audiovisual. No entanto, a partir deste ano o segmento começou a passar por contração e, no momento, se encontra em declínio. Em 2020, a TV por assinatura foi responsável pela arrecadação de R$79,6 milhões em impostos.

Em termos de espaços de exibição, como acontece em muitos estados brasileiros, os cinemas estão concentrados nas principais cidades da região, são elas Balneários Camboriú, Criciúma, Florianópolis, Joinville e São Jose, que, em 2018, somavam 83 salas, 53% do total.

Em 2018, mais da metade do mercado referente aos pontos de exibição distribuía-se por somente seis municípios do estado: Balneário Camboriú, Blumenau, Criciúma, Florianópolis, Joinville e São José, que no conjunto totalizavam 83 salas, ou 53% do total.

No entanto, há crescimento no parque exibidor do estado, embora seja lento. Entre 2008 e 2019, o número de pontos de exibição cinematográfica — estabelecimentos envolvidos nesse tipo de atividade — passou de 36 para 45, um aumento de 20%. Neste sentido, os vínculos formais de trabalho no segmento foram de 322 para 595.

Em contrapartida, as TVs Públicas, ou seja, de sinal aberto, tiveram um papel fundamental  na formação de público e na atração de investimentos.  O PRODAV TVs públicas, da Ancine, investiu mais de R$10 milhões em Santa Catarina graças a existência dessas estruturas

E falando em investimentos, a União (federal) investiu, nos últimos dez anos, cerca de R$ 100 milhões no setor audiovisual de Santa Catarina, de acordo com dados da Agência Nacional do Cinema. O repasse aconteceu por meio de duas modalidades principais: a direta e a indireta

E nesse sentido, é impossível não falar sobre emprego e trabalho. Como no Brasil, também por questões políticas e sociais, Santa Catarina viu uma mudança nos formatos de vínculo empregatício, especialmente no setor, que já tinha esse caráter de informalidade como perfil.

Entre 2009 e 2019, houve redução de 1/3 nos vínculos formais de trabalho, no conjunto das atividades do audiovisual catarinense. Paralelamente, em 2009, entrou em vigor a lei do cadastro de Microempreendedores Individuais (MEIs). Atualmente em Santa Catarina, existem 8.683 cadastrados em atividades do setor audiovisual, como filmagens, sonorização e dublagem. Inclusive, muitos dos contratos envolvem projetos e trabalhos temporários, que muitas vez não ultrapassam o prazo de um ano.

Já em termos de capacitação, Santa Catarina possui 15 cursos superiores para o audiovisual, que impactam positivamente na oferta de profissionais e na qualificação do mercado de trabalho. Destes 15, cinco são na área de games, dois de animação e oito de cinema e audiovisual, havendo nesta última categoria duas pós-graduações.

O estudo também destaca a importância do setor de Games para economia e aquecimento da indústria.  Tendo em vista que o Brasil é quinto colocado entre os que mais consomem esta mídia. Santa Catarina aparece com 21 empreendimentos, entre formalizados e não formalizados. O dado é de 2018 e representa 5,6% do total brasileiro (375 desenvolvedores), atrás, na Região Sul, do estado gaúcho (6,9%) e do Paraná (8%). No estado catarinense, 2/3 dos desenvolvedores de games detectados nos censos atuavam em Florianópolis. As cidades de Balneário Camboriú, Joinville e Blumenau abrigavam os demais. Isso denota que há espaço para crescimento neste segmento.

O Mapeamento e Estudo do Setor Audiovisual Catarinense é finalizado com uma série de sugestões para que haja a manutenção do crescimento ou a aceleração e aprimoramento dos pontos destacados pela análise. De forma resumida, os pesquisadores sugerem uma série de políticas públicas que tenham como objetivo fortalecer o investimento na atividade e sua estrutura

“Um dos meus destaques é a parte de recomendação de políticas públicas, para que o estado de Santa Catarina tenha um investimento regular e continuo e que crie uma institucionalidade, que a equipe que esteja trabalhando lá seja fortalecida e ampliada, para que consiga gerir esse volume de recursos muito maior que o estado carreou para o setor”, finalizou Manevy.

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