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14 Julho 2023 | Yuri Codogno

Pela primeira vez em seis décadas, atores e roteiristas realizam paralisações simultâneas

Como consequência, Hollywood deverá interromper boa parte de suas atividades

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(Foto: Divulgação)

É oficial: a paralisação de Hollywood é iminente. Após algumas semanas em negociações, o sindicato dos atores (SAG-AFTRA) declarou greve após votação quase unânime de seus membros, se juntando aos roteiristas que estão parados desde o início de maio. É a primeira vez em 63 anos que as duas categorias paralisam suas atividades ao mesmo tempo. As informações foram retiradas dos portais Hollywood Reporter, Variety, Deadline, IndieWire e Estadão.

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A última vez em que os atores entraram em greve foi em 1980 e a parada perdurou durante três meses e três dias. Naquela época, o principal impasse foram os valores residuais das vendas de fitas-cassete. O acordo assinado posteriormente é o que estava vigente até esta semana.

A greve dos atores começou à meia-noite de hoje (14), no horário local, após a Aliança dos Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP) não aceitar as reivindicações da categoria. Aliás, visando conseguir um acordo justo, o SAG-AFTRA, inclusive, aceitou prorrogar o contrato de 30 de junho até 12 de julho e também concordou com a presença de um mediador federal terceirizado na tentativa de evitar a greve. Entretanto, foi tudo em vão.

“Uma greve é ​​um instrumento de último recurso. Infelizmente, eles não nos deixaram outra alternativa”, disse Duncan Crabtree Ireland, líder das negociações do SAG-AFTRA. “Temos um problema e estamos experimentando isso neste momento, esta é uma hora muito inspiradora para nós. Eu entrei pensando seriamente que poderíamos evitar a greve. A gravidade desse movimento não passou despercebida por mim. Nós somos as vítimas aqui. Estamos sendo vitimados por uma entidade muito gananciosa”, completou Fran Drescher, presidente do SAG-AFTRA.

A ganância descrita pela presidente é algo que o sindicato dos roteiristas dos EUA (WGA) também ressaltou antes, quando apresentou que as reivindicações da categoria seria um valor extremamente baixo se comparado ao faturamento médio dos grandes estúdios, streamings e conglomerados aos quais pertencem. As exigências dos roteiristas totalizam US$ 343 milhões, enquanto essas empresas faturam juntas US$ 1,306 trilhão anuais. Ou seja, as reivindicações são de apenas 0,0262% do montante.

Em relação às demandas dos atores, estão em pauta melhores salários, salários mínimos mais altos e regulamentos sobre as audições autogravadas, além de medidas protetivas contra o uso de inteligência artificial, algo que os estúdios, segundo a categoria, cogitava utilizar para “criar réplicas eternas”. 

“Os estúdios e streamings implementaram grandes mudanças unilaterais no modelo de negócios de nosso setor, ao mesmo tempo em que insistem em manter nossos contratos congelados. Não é assim que você trata um parceiro valioso, respeitado e um colaborador essencial. A recusa deles em se envolver significativamente com nossas propostas principais e o desrespeito fundamental mostrado aos nossos membros é o que nos trouxe a este ponto. Eles subestimaram a determinação dos atores, como eles estão prestes a descobrir”, afirmou Duncan.

A Aliança dos Produtores de Cinema e Televisão emitiu um comunicado para expor o seu ponto de vista: “As empresas membros da AMPTP entraram em negociações com a SAG-AFTRA com o objetivo de firmar um novo contrato mutuamente benéfico e apresentaram um acordo que oferecia salários históricos e aumentos residuais, limites substancialmente mais altos para pensões e contribuições de saúde, proteções de audição, períodos de opção de série reduzidos e uma proposta de IA inovadora que protege as semelhanças digitais dos atores para os membros do SAG-AFTRA. Uma greve certamente não é o resultado que esperávamos, pois os estúdios não podem funcionar sem os artistas que dão vida aos nossos programas de TV e filmes. O sindicato lamentavelmente escolheu um caminho que levará a dificuldades financeiras para incontáveis ​​milhares de pessoas que dependem da indústria”.

Indústria paralisada

Como havíamos noticiado no início de junho, a paralisação dos atores tinha potencial para ser um ponto de virada nesta “temporada” de negociações e greves. Considerando os três principais grupos criativos da indústria -  roteiro, direção e atuação -, apenas o sindicato dos diretores (DGA) obteve o acordo que esperava, com conquistas históricas para a categoria.

Vale ressaltar, porém, que o DGA apoia a nova greve, como disse a presidente Lesli Linka Glatter: “O DGA está extremamente desapontado com o fato de o AMPTP não ter abordado de maneira justa e razoável as questões importantes levantadas pelo SAG-AFTRA nas negociações”.

Durante esse período, os roteiristas não estavam trabalhando, mas diretores e atores sim, prejudicando principalmente lançamentos a longo prazo. Entretanto, a partir de agora o jogo deve ser outro, pois o SAG-AFTRA representa cerca de 160 mil atrizes e atores que, paralisando suas atividades, irão interromper boa parte das gravações de filmes, séries e outras produções audiovisuais de Hollywood. 

Outras atividades, aliás, também entram no pacote, então a participação dos talentos em ações promocionais de lançamentos, assim como dar entrevistas relacionadas às estreias, participar de eventos e festivais da indústria e promover produções em redes sociais, estão vetadas. Desta forma, o marketing dos próximos lançamentos também pode ser afetado, prejudicando a arrecadação em bilheterias. 

A greve também coincide com as indicações ao Emmy, então nenhum dos indicados para atuação ou redação deste ano poderá fazer campanha enquanto a greve persistir. Enquanto isso, os festivais de outono estão se aproximando, mas, diferente do habitual, os membros do elenco não poderão participar do tradicional tapete vermelho, podendo bagunçar até mesmo a temporada do Oscar. 

Isso pensando apenas no curto prazo e nos lançamentos de 2023. Mas, caso a AMPTP não aceite as reivindicações (ou ofereça melhores condições) para ambas as categorias, a indústria pode enfrentar uma grande crise a partir de 2024, com poucos lançamentos programados e, principalmente, basicamente nenhum blockbuster.

Um duro golpe após a pandemia e bem no momento em que o mercado observa uma forte retomada do audiovisual norte-americano. Entretanto, atores e roteiristas entendem que merecem melhores condições gerais de trabalho, especialmente por serem dois dos grupos responsáveis por ajudar a alavancar as grandes arrecadações de Hollywood. 

E esses são apenas os fatos. Continue acompanhando o Portal Exibidor para entender os principais desdobramentos das greves gerais.

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