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06 Dezembro 2023 | Gabryella Garcia

"O Sequestro do Voo 375" é um filme sensorial com potencial de ser case para a indústria brasileira

Produção baseada em fatos reais foi pensada essencialmente para o cinema, valorizando a experiência do espectador, e chega às telonas no dia 7 de dezembro

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(Foto: Divulgação)

Uma das grandes apostas do cinema nacional no final de 2023 é O Sequestro do Voo 375 (Disney), que chega amanhã (7) ao circuito comercial. Como destacado pela própria Disney em evento realizado para exibidores no mês de novembro, o longa é uma produção sensorial que foi feita para ser vista nos cinemas. Para Joana Henning, produtora do filme e CEO do Estúdio Escarlate, O Sequestro do Voo 375 pode, inclusive, se tornar um case de sucesso de uma possível nova forma de se produzir cinema no Brasil.



Dirigido por Marcus Baldini, em seu primeiro filme de ação, o longa revive um importante momento da história brasileira pós-ditadura, mas pouco falado. Baseado em fatos, O Sequestro do Voo 375 se passa em 1988, logo após a redemocratização no Brasil, e mostra o sequestro de um voo. Nonato (Jorge Paz), um motorista de trator desempregado, se rebela contra o presidente da época e as dificuldades de um país em crise e sequestra o voo 375 da VASP, ordenando ao comandante Murilo (Danilo Gragheia) que desvie a rota do avião que tinha o Rio de Janeiro como destino para um atentado ao Palácio do Planalto. O diretor Marcos Baldini e a produtora Joana Henning destacaram a importância desse resgate histórico em entrevista ao Portal Exibidor.

"Não chegou para gente a informação do porque essa história ficou abafada, mas a gente interpreta que em um processo de redemocratização, pós-ditadura e pré-constituinte, depois da morte do Tancredo, tinha muitas justificativas possíveis para que essa história não ganhasse destaque, mas a gente acha relevante. Acho que o cinema tem um pouco essa função de conhecer essas histórias. Vamos criar aqui uma grande suposição. Se o Brasil divulgasse essa história para o mundo, talvez a gente evitaria o 11 de setembro, então acho muito importante que a gente dê valor às nossas histórias, e essa é uma premissa da Escarlate", destacou Joana.

"O filme sempre teve essa motivação de fazer um resgate do heroísmo do Murilo, que foi um herói não reconhecido de um fato importante que aconteceu no Brasil. Uma das nossas tentativas foi de olhar para o Brasil daquela época, para esses fatos históricos da redemocratização, dos planos econômicos, da insatisfação da população e da ameaça da volta da ditadura, e a partir desse evento e da forma como é colocado no filme, revelar o Brasil de 1988 também", completou o diretor.

Prova da importância histórica do fato, é que foram encontradas reportagens de jornais sobre o sequestro do voo da VASP em 1988 no bunker do terrorista Osama Bin Laden, um dos responsáveis pelo ataque nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2011, logo após sua morte. Essa informação, inclusive, é revelada no filme graças a pesquisas feitas pelo coprodutor Constâncio Viana. Ao Portal Exibidor, Baldini falou sobre os desafios de se fazer uma história baseada em fatos.

"É sempre um desafio que tem que ter um balanço entre aquilo que você realmente tem que contar sem subverter a história, mas de alguma forma também atrair o público. Sempre é necessário fazer algumas adaptações para que aquilo funcione em termos de estrutura de roteiro e caiba em um filme de uma hora. Nesse caso a gente ainda tinha uma questão que era o lado aeronáutico, que é um universo muito rico em detalhes e preciso nas suas narrações, que são sempre muito detalhadas e assertivas nos fatos. Houve uma preocupação muito grande no roteiro de ser fiel a história e também trazer uma visão a ser discutida por todos nós. Tentei colocar na tela desde a inconsequência do Nonato até o heroísmo do Murilo e sua habilidade entre ter que lidar com tudo aquilo e ter sido de fato um herói que salvou todas aquelas pessoas. Também trouxemos uma relação entre os dois personagens que se tocam em algum lugar no sentido da empatia porque ambos estão insatisfeitos com o governo naquele momento. O maior desafio foi balancear o real, ou seja, as informações reais, com a estrutura de profundidade dos personagens que revelasse outras camadas da história para além só do que aconteceu, mas que aquilo fosse uma história que tocasse o emocional das pessoas", afirmou.

O Sequestro do Voo 375 é uma história muito rica em camadas que explora o contexto social e político da época e, mesmo após o falecimento de Murilo e Nonato, os dois protagonistas do episódio, a pesquisa do coprodutor Constâncio Viana, inclusive encontrando entrevistas do comandante Murilo falando sobre Nonato, ajudou a retratar a situação, muito focada em diálogos entre os dois personagens, de forma real.

"Uma das coisas que a gente buscou foi ser muito fidedigno ao fato em si. Claro que a gente tem uma liberdade dramatúrgica com algumas adaptações, mas isso foi uma das nossas preocupações através das pesquisas. (...) quando fui entendendo a grandiosidade do evento, não só historicamente, mas também de toda a complexidade que é uma história para o cinema, vi que recebemos um presente do Constâncio. Liguei para o Baldini e a gente começou a pensar juntos essa estrutura e virou um desafio não só de contar essa história e relembrar através do audiovisual, mas também de produzir uma história grandiosa como essa de ter um ineditismo de um cinema de catástrofe no Brasil, com um sequestro de avião que temos tantos referências no mundo. Foi um grande desafio pensar como fazer isso da nossa forma e contando a nossa história", explicou Joana.

Exemplo para uma nova indústria no Brasil

Diante do ineditismo do cinema de catástrofe no Brasil, e sobretudo, pelos investimentos privados e incentivos públicos, além de uma pegada comercial e profundidade dramatúrgica, Joana Henning acredita que O Sequestro do Voo 375 pode se tornar um case de sucesso para o cinema brasileiro.

"Esse é um filme que tem muito investimento privado também, para além dos incentivos e das licenças de distribuição e exibição, então acho que esse filme dando certo, talvez sirva como um case de exemplo de como a gente tem que unir mais esforços diferentes para conseguir subir o patamar do cinema nacional e conseguir concorrer com filmes internacionais. Esse filme tem uma pegada comercial, mas também tem uma profundidade dramatúrgica e é um filme que tem um investimento em tela muito grande. Outros gêneros também podem alcançar esse patamar de bilheteria, como já alcançaram no Brasil, mas a gente viveu uma queda e agora precisamos reestruturar não só a autoestima, como também aliar um orçamento aos novos parâmetros mundiais. A Ancine ainda trabalha com parâmetros muito antigos e precisamos mudar os modelos de negócio, agora temos o streaming com essa história de regulação, então tudo mudou e chegou a hora de a gente mudar também a nossa forma de fazer. Se esse filme der certo, acho que ele pode ser um exemplo, com todos seus erros e acertos, mas um exemplo de um primeiro passo para a gente construir essa nova forma de indústria", disse.

A produtora também atribuiu o baixo market share dos filmes nacionais nos cinemas em 2023 a falta de incentivos, inclusive privados, que permitam grandes produções nacionais, e destacou a falta de incentivo público, afirmando que o mundo inteiro usa essa importante ferramenta de promoção da cinematografia nacional. Baldini, por sua vez, afirmou que é um dever de todas as pessoas que fazem cinema no Brasil resgatarem o audiovisual.

"O cinema brasileiro foi destroçado nos últimos quatro anos não só pela pandemia, mas também por uma administração que considerava os cinemas e os artistas inimigos. Quando a gente não lança um filme acaba não criando no público a expectativa de assistir um filme e deixamos de criar esse público e dar a ele a oportunidade de gostar do cinema brasileiro. A gente tira proteções como a Cota de Tela e piora ainda mais isso tudo. Claramente existiu um desmonte da audiência muito efetiva e eficaz no cinema brasileiro, mas a boa notícia é que a audiência do cinema como um todo não caiu ou caiu muito pouco. As pessoas continuam indo para o cinema e o passeio e a experiência do cinema continuam vivos. Minha expectativa é que esse filme contribua nas bilheterias, possa fazer o primeiro milhão do cinema nacional depois da pandemia e cative o público para assistir o cinema brasileiro. Adoraria que a gente fizesse uma bilheteria expressiva para contribuir com essa volta do público aos cinemas, porque o público está aí, basta ele acreditar no filme brasileiro", completou.

Diante das dificuldades encontradas pelas produções nacionais e de um market share que fica em torno de apenas 1,01%, o diretor destaca que O Sequestro do Voo 375 vale a pena ser visto nos cinemas pela experiência sensorial que traz. "Ele traz experiência pelo som, pela ação e é um filme feito para o cinema, é um filme que as pessoas vão assistir e ter uma experiência imersiva sensorial, Vai ser uma diversão se sentir dentro do avião e as pessoas vão se sentir ali fazendo manobras bruscas e escutando barulho de avião e tiro. Algumas pessoas vão achar que o avião vai cair e eu já vi gente tentando afivelar o cinto das poltronas nas sessões enquanto gritam com medo. É um filme sensorial para ser visto na telona e estar em um lugar escuro, ouvindo um som alto e sentindo o motor do avião vibrando na barriga enquanto se abaixa dos tiros. O filme tem muito efeito de som e de imagem que dão a sensação de estar dentro do avião, o que é muito importante para a história e prestar atenção nela. O filme tem esse lugar meio de brinquedo da Disney e é uma experiência assistir no cinema".

Por fim, Joana Henning ainda afirmou que pelo fato de as pessoas possuírem equipamentos de ponta em suas próprias casas, é necessário que as produções nacionais sejam capazes de fazer uma grande curadoria para que sejam feitos filmes que despertam o desejo de as pessoas irem até o cinema. Nesse sentido, ela destaca que O Sequestro do Voo 375 foi produzido especificamente para os cinemas e, por isso, convida os leitores do Portal Exibidor a assistirem o lançamento nas telonas.

"Esse filme tem o gênero que o público da tela grande gosta, mas você pode fazer um drama, um romance ou uma comédia que são pensados para o cinema. Quando as pessoas saem de casa gastam uma fortuna com estacionamento, comida, combo de pipoca e ingresso para toda a família, então esperam uma experiência imersiva e viver um evento. Esse filme é um evento por si só, mas acredito que se nós, produtores e diretores, começarmos a pensar a forma de filmar para a tela grande, como outras indústrias no mundo já pensam, a gente vai conseguir subir o patamar do cinema brasileiro independente do gênero, do espectador e do tamanho do circuito. O cinema vai começar a pedir um pouco mais isso e a gente tentou alcançar esse lugar. Pelos gritos nas sessões, acho que a gente conseguiu", encerrou.

O Sequestro do Voo 375 é um filme do Estúdio Escarlate, dirigido por Marcus Baldini e produzido por Joana Henning. O roteiro é de Lusa Silvestre e Mikael de Albuquerque.  O longa é coproduzido pela Star Original Productions e distribuído pela Star Distribution – selos da Disney voltados para o cinema nacional.

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