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15 Fevereiro 2024 | Yuri Codogno

Personalizados, exclusivos e com designs arrojados, baldes de pipoca passam por rebranding e auxiliam nas receitas dos exibidores

Ainda pouco explorado no Brasil, tais recipientes são vendidos entre US$ 20 e US$ 50 nos EUA

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(Foto: Divulgação)

Antes, apenas um recipiente para poder comer pipoca nas salas de cinema; hoje, um artigo personalizado, colecionável e usado não apenas como enfeite, mas às vezes também como organizador para objetos caseiros. De uns anos para cá, os baldes de pipoca passaram por um rebranding interessante, de modo que evoluísse de um simples recipiente para um artigo de luxo que agrada os fãs e auxilia nas receitas dos exibidores. As informações são do portal Hollywood Reporter.

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Antes de continuar, uma pequena digressão. “Vessel” é a palavra em inglês (que pode ser traduzida para “vasilhame”) usada pela indústria para definir esses sofisticados recipientes de pipoca. Aliás, muitas palavras além de balde podem ser mais apropriadas para o objeto, visto que cada vez mais se parecem menos com um balde e assumem a forma de algum objeto importante do filme. Mas para facilitar a leitura, esse texto continuará com o termo “balde” para definir tais recipientes.

Uma matéria do Hollywood Reporter ressaltou um tweet do ator Ryan Reynolds: “Espere até ver o balde de pipoca do Deadpool”. A postagem foi realizada após a exibição do primeiro trailer de Deadpool & Wolverine (Disney), mas também como referência ao balde recém-lançado de Duna 2 (Warner), que foi descontinuado por parecer com um brinquedo sexual. 

Mas o quão importante são esses baldes para a indústria? Ainda em recuperação por causa da pandemia e posteriormente pelas greves conjuntas de atores, atrizes e roteiristas de Hollywood, toda cadeia precisa se reinventar para aumentar suas receitas. No caso dos exibidores, entretanto, o buraco é mais embaixo por ser um elo que, por dezenas de razões, arrecada menos e é quem mais sofre nos momentos de crise. Então as rendas que vão além da venda de ingressos são fundamentais para o pleno funcionamento de cada cinema. 

No geral, exibidores, distribuidores e produtores ainda não tornaram público o quanto estão lucrando com os “vessels”. Mas é possível ter uma noção. Na metade do ano passado, Adam Aron, CEO da rede AMC, previu que 25 mil edições especiais do balde-Corvette da Barbie se esgotariam até o final do fim de semana de estreia do filme. Ele estava certo: com um preço de US$ 34,99 cada, só nessa primeira semana a rede exibidora vendeu US$ 875 mil desse único modelo de balde.

“Muitas vezes, os fãs guardam essas coisas na caixa e as exibem como itens colecionáveis”, disse David Sieden, vice-presidente de parcerias cinematográficas da Disney. Sua colega Susan Cotliar acrescentou: “Penso muito nas minhas filhas. Elas são da Geração Z e cresceram com seus telefones. Coisas tangíveis se tornaram muito importantes para elas”. A dupla está trabalhando em produtos de Deadpool e Divertida Mente 2, mas não pôde revelar nenhum detalhe.

Mas desde quando os baldes deixaram de ser apenas baldes? Em 2019, a rede exibidora AMC e a Disney se uniram para fazer um recipiente do R2-D2 e um porta-bebidas para o lançamento de Star Wars: A Ascensão Skywalker. “Foi a faísca inicial que acendeu a chama que deu início a todo esse programa de baldes colecionáveis”, disse Nels Storm, vice-presidente de estratégia de produtos de alimentos e bebidas da AMC. Na ocasião, todos os recipientes do R2-D2 se esgotaram e eram bastante caros para a época: US$ 49,99, que, corrigido pela inflação acumulada nos EUA, valeria US$ 63 em 2024.

De lá para cá, entre produtos mais ou menos elaborados, todo grande lançamento possui combos personalizados. Os preços, considerando as concessões para essas mercadorias especiais, que podem ser desde copos e baldes comuns até esses “vessels”, tendem a começar em torno de US$ 20, mas podem subir caso seja algo mais elaborado ou exclusivo. “Depende apenas do filme e do fator de frescor. Gostamos de ser expansivos, mas também gostamos de garantir que estamos prestando homenagem ao filme, ao elenco, aos diretores e a todos que colocam todo o seu trabalho duro nessas peças. E também queremos ter certeza de que isso terá repercussão entre os clientes. Então definitivamente existe uma equação entre o ‘legal’ e o ‘colecionável’ na qual gostamos de pensar. Em um ano em que teremos vários sucessos de bilheteria, teremos uma série de produtos muito legais para acompanhar esses lançamentos”, explicou Storm.

Voltando ao balde de Duna 2, mesmo com a descontinuidade, a AMC diz que tem vantagens, visto que gerou uma publicidade para o filme. Mas não sabem se conseguirão substituir a tempo, visto que muitos produtos estão em desenvolvimento há mais de um ano. De qualquer forma, isso eleva a competitividade do mercado: “As redes exibidoras tendem a querer superar uns aos outros, mas eles realmente precisam dar sentido [com os produtos] a cada um dos filmes”, disse um executivo de um estúdio rival em entrevista ao Hollywood Reporter. 

Vale lembrar também que, apesar de ser uma potencial fonte de renda importantíssima para os exibidores, é necessário pensar no oposto: e se não vender o estoque inteiro?  O prejuízo pode ser altíssimo. Em um cenário ideal, a encomenda para esses itens com designs mais arrojados é de apenas dois meses de antecedência, mas no cenário pós-Covid elevou a necessidade de antecipação para seis meses. “Está ficando difícil medir o tamanho do filme e saber quantos devo encomendar. Portanto, o estúdio precisa aprovar o projeto e às vezes precisamos fazer o pedido antes de sabermos que o projeto foi aprovado. Também há um problema com filmes com janelas mais curtas, porque se você não vendê-los nos dois primeiros fins de semana, acaba com sobras”, disse Luis Olloqui, CEO da Cinépolis, também ao Hollywood Reporter.

No Brasil, esses super-baldes ainda não são tão visados, mas é possível perceber designs mais arrojados para os baldes simples, como vimos diversos modelos disponíveis para a estreia de Barbie no ano passado. 

O baixo poder de compra que o brasileiro tem no atual momento - muito em consequência da ausência de reajustes e de aumentos-reais nos salários nos últimos anos - pode ser um empecilho. Mas é possível ter um olhar positivo: o público está retomando às salas de cinema e a possível aproximação dos números de 2019 pode ser essencial para que esse segmento seja ainda melhor explorado pelos exibidores brasileiros.

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