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08 Maio 2024 | Gabryella Garcia

Juliana Vicente destaca importância da estreia de "Diálogos com Ruth de Souza" nas telonas: "Pelo amor dela ao cinema"

Filme celebra a vida e trajetória de Ruth de Souza, uma das maiores figuras da dramaturgia brasileira e primeira mulher negra a conquistar esse espaço

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(Foto: Divulgação)

Diálogos com Ruth de Souza (Preta Play) chega aos cinemas amanhã (9) para celebrar e enaltecer a presença negra no audiovisual e também para ocupar cada vez mais espaços. O documentário que narra e celebra a trajetória de uma das maiores figuras da dramaturgia brasileira não será lançado neste dia por acaso, pois em 8 de maio de 1945, há quase 80 anos, Ruth de Souza estreava no Theatro Municipal do Rio de Janeiro com a peça "Imperador Jones", marcando a história como o primeiro grupo de artistas negros a se apresentar naquele palco. Além disso, em 12 de maio de 2024, a atriz completaria 103 anos.



Ruth de Souza dedicou mais de 70 anos de sua vida a sua carreira no teatro, cinema e televisão, e é considerada a primeira grande referência para artistas negros na dramaturgia brasileira. A atriz foi a primeira brasileira a concorrer a um prêmio internacional de cinema, por seu trabalho em Sinhá Moça em 1954 no Festival de Veneza, e também se tornou a primeira atriz negra a protagonizar uma telenovela na TV Globo com "A Cabana do Pai Tomás", em 1969.

O documentário que chega às telonas contém diversas conversas gravadas e abundantes materiais de arquivo para contar a história daquela que é considerada uma das grandes damas da dramaturgia brasileira. Juliana Vicente, roteirista e diretora da produção, revelou em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor que parte do material de pesquisa foi inédito para a própria Ruth.

"Fomos fazendo a pesquisa para o filme a partir de cartas, muitas fotos, recortes de jornal e também uma pesquisa no matéria da TV Globo, que foi muito interessante. Ela mesma assistiu muitas coisas que não tinha visto enquanto achávamos todos os filmes dela. Isso foi bem interessante porque ela teve a oportunidade de ver filmes com ela mesma que ela nunca tinha visto", destacou.

O primeiro encontro entre Ruth de Souza e Juliana aconteceu em 2009 e, em meio a reflexões e memórias, nasceu o diálogo entre duas gerações de artistas negras até a morte da atriz em 2019, aos 98 anos. A diretora, inclusive, afirmou que conceber o filme se tornou uma "missão" após a morte de Ruth, e que o amor da atriz pelo cinema foi um grande combustível para colocar a produção na tela grande, apesar de todas as dificuldades.

"Para mim é uma honra dirigir esse filme e entendo que faz parte de uma missão. Não foi um filme fácil de fazer, não foi fácil financiar e a gente atravessou muitas coisas, inclusive a Ruth faleceu no processo do filme. A gente sabia que tinha que construir esse documento, porque é uma obra mas também é um documento com um pouco mais da história dela. Para mim também era muito importante que fosse um filme e não passasse uma sensação de assistir apenas um relato, até porque a Ruth era uma mulher do cinema. Eu tinha o desejo de construir um documentário que também tivesse uma cinematografia pela Ruth, pela necessidade dela e pelo amor dela pelo cinema. Ela fez outras coisas, mas certamente era uma mulher do cinema. Colocar esse filme no cinema tem um significado enorme", explicou a diretora. "O filme tem imagens oníricas que são mais cinematográficas e isso foi pensando para a tela grande, no impacto que pode ter na tela grande, e na experiência de assistir coletivamente no cinema, porque é sobre isso", completou.

Além da trajetória da artista, o filme também explora o universo mitológico africano, representado pelo encontro com as Yabás, orixás femininas, em uma interpretação ficcional e transcendental da vida de Ruth, desempenhada pelas atrizes Dani Ornellas e Jhenyfer Lauren nas fases adulta e jovem, respectivamente. Com esse vasto acervo e material de pesquisa que foram utilizados para a produção, apesar de documentários encontrarem um público mais nichado no Brasil, a diretora acredita em um boca a boca positivo para um bom desempenho de bilheteria da obra.

"Espero que as pessoas compareçam aos cinemas para ver o filme e ter essa experiência na tela grande, porque o cinema é um espaço que a gente consegue se encontrar e ter uma experiência coletiva. Espero que a gente consiga celebrar a Ruth e acho que estamos em um momento que o cinema pode voltar. Espero que realmente volte e a gente consiga efetivamente encontrar espaço para as nossas obras e isso possa fazer a gente se ver mais. Documentário tem um lugar complexo, mas espero que a experiência das pessoas assistirem coletivamente na pré-estreia suscite um desejo de as pessoas verem isso na tela grande", disse.

Diálogos com Ruth de Souza rendeu o prêmio de Melhor Direção de Documentário no Festival Rio 2022 para Juliana Vicente e o filme também foi laureado no mesmo ano no Festival de Brasília com o Prêmio Marco Antônio Guimarães, pela obra que melhor trabalhou com pesquisa, material de memória e arquivos do cinema nacional para a produção. E, visando uma maior representatividade negra no audiovisual, também vale destacar que o filme será o primeiro com distribuição da Preta Play, um braço da produtora audiovisual Preta Portê Filmes, que foi fundada em 2009 pela diretora.

A produtora, inclusive, desde o início foi pensada como uma ferramenta para amplificação de criações ligadas à temática preta, indígena e LGBTQIAP+ e, Juliana destacou que o momento do audiovisual brasileiro é propício para reconstruir o imaginário das pessoas e criar novas narrativas e, por isso, a Preta Play se coloca no mercado com esse objetivo.

"É essencial que a gente consiga espaço para distribuir nossos filmes e, sobretudo, que a gente tenha financiamento para fazer as obras que a gente está pensando e construindo. Ainda somos poucas produtoras pretas que conseguem fazer coisas para esse grande mercado. Existem muitas, mas poucas conseguem fazer coisas para um grande mercado e colocar um filme no cinema ou em um streaming grande. A luta nesse momento é para ocupar melhor esses espaços e em uma posição de decisão também. O desafio é a gente conseguir fazer a obra do começo ao fim, que é produzir e distribuir, e tentar encontrar esses espaços. É um desafio, mas estamos prontos para ele", finalizou.

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