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27 Maio 2024 | Redação

Sean Baker leva a Palma de Ouro em Cannes com "Anora" em premiação que priorizou histórias de mulheres

Festival de Cannes encerrou no último sábado (25) e júri oficial premiou principais produções

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(Foto: Divulgação)

Depois de 13 anos de espera, um cineasta estadunidense voltou a vencer o troféu Palma de Ouro, principal prêmio do Festival de Cannes. Em sua 77ª edição, o evento consagrou Anora, de Sean Baker, como o melhor filme do evento. Apesar da vitória de um cineasta homem no prêmio mais importante, o evento deu destaque para histórias centradas e protagonizadas por mulheres. A diretora Greta Gerwig, inclusive, presidiu o júri do festival. As informações são do Variety, IndieWire, Deadline e Estadão.



Terrence Malick, com A Árvore da Vida, em 2011, havia sido o último cineasta estadunidense a vencer a Palma de Ouro. Baker, por sua vez, notabilizou-se por retratar trabalhadores sexuais em alguns de seus filmes mais recentes, como The Florida Project, de 2017, e Red Rocket, de 2021. Anora não é diferente e a história acompanha uma jovem trabalhadora do sexo do Brooklyn que tem a chance de mudar de vida ao se casar - impulsivalmente - com o filho de um oligarca. Seu conto de fadas, entretanto, corre o risco de se tornar um pesadelo quando a notícia chega à Rússia e seus sogros vão a Nova York para anular o casamento.

Baker recebeu o prêmio das mãos de Francis Ford Coppola e, em seu discurso, destacou a importância de fazer filmes destinados ao cinema e também dedicou a Palma de Ouro a todas as trabalhadoras do sexo, do passado, do presente e do futuro. "O mundo precisa ser lembrado de que assistir a um filme em casa, navegar pelo telefone, verificar e-mails e prestar pouca atenção simplesmente não é o caminho, embora algumas empresas de tecnologia gostariam que pensássemos assim. Assistir a um filme com outras pessoas no cinema é uma das grandes experiências comunitárias. Compartilhamos risos, tristeza, raiva, medo e esperamos ter uma catarse com nossos amigos e estranhos. Por isso digo que o futuro do cinema está onde começou: numa sala de cinema", disse.

O júri composto por Greta Gerwig, Ebru Ceylan, Lily Gladstone, Eva Green, Nadine Labaki, Juan Antonio Bayona, Perfrancisco Favino, Hirokazu Kore-eda e Omar Sy também contemplou All We Imagine As Light, da diretora Payal Kapadia, com o prêmio Grand Prix, o segundo mais importante da noite. O filme, inclusive, foi a primeira produção indiana selecionada para competição em 30 anos, desde Swaham, de Shaji Karun, em 1994. All We Imagine As Light também traz mulheres como protagonistas de sua história ao mostrar as conexões entre três mulheres de diferentes idades e classes com a cidade de Mumbai, onde vivem suas vidas diariamente.

O Prêmio do Júri, outro entre os mais importantes de Cannes, premiou - novamente - uma história sobre uma mulher e também protagonizou algo raro no festival: um mesmo filme recebeu mais de um prêmio. Emilia Pérez, de Jacques Audiard, e que foi adquirido pela Netflix, além do Prêmio do Júri, também levou para casa o prêmio de melhor interpretação feminina.

O musical ambientado no México é sobre a história de um chefe de cartel que desaparece misteriosamente para depois ressurgir como uma mulher trans e criar uma ONG para encontrar os corpos de pessoas desaparecidas. A produção rendeu o prêmio de melhor atriz, de forma conjunta, para Adriana Paz, Zoe Saldaña, Selena Gomez e Karla Sofía Gascón, que foi a primeira mulher trans na história de Cannes a ser premiada na categoria e dedicou a estatueta "a todas as pessoas trans, que sofrem todos os dias".

Outro destaque da premiação foi o Prêmio de Melhor Roteiro, que ficou com Coralie Fargeat, por The Substance. O filme, que nas palavras da jurada Eva Green é "ousado e lindamente maluco", é protagonizado por Demi Moore e fala sobre a obsessão juvenil e a imagem corporal sendo levadas ao limite através de cirurgias estéticas.

Antes do evento havia uma expectativa por um tom político nas premiações, uma vez que Cannes enfrentava uma possível greve trabalhista e possíveis revelações de assédio sexual. Mas o júri optou por um tom menos político na premiação com exceção do diretor iraniano Mohammad Rasoulof, que venceu o prêmio especial do júri com The Seed of the Sacred Fig, um filme sobre as mulheres e a liberdade em seu país, que mostra um regime opressivo e uma crise de família, onde as filhas se levantam para protestar contra esse regime contra a vontade do próprio pai, um juiz que aplica sentenças de morte para pessoas contrárias a esse regime.

O diretor, inclusive, foi condenado a oito anos de prisão e a receber chibatadas pelo filme, e então se viu obrigado a fugir e se refugiar na Alemanha. Sua presença em Cannes era incerta, mas o diretor compareceu ao tapete vermelho e foi merecidamente recebido pelo público com sua história sobre os protestos que abalaram o Irã após a morte da jovem Mahsa Amini em 2022. "O regime iraniano tem pânico porque estamos contando nossas histórias. É absurdo", disse Rasoulof.

Os outros longas e profissionais que foram premiados em diferentes categorias foram: Miguel Gomes (Grand Tour), como Melhor Diretor; Jesse Plemons (Kinds of Kindness), como Melhor Ator; Halfdan Ullmann Tøndel (Armand), como Melhor Diretor Estreante; Nebojša Slijepčević (The Man Who Could Not Remain Silent), para Melhor Curta-metragem; e o diretor George Lucas recebeu a Palma de Ouro Honorária.

Por fim, vale também destacar a volta do Brasil à disputa pela Palma de Ouro pela primeira vez desde 2019 com Motel Destino, de Karim Aïnouz. Apesar de não levar o prêmio, o longa foi ovacionado e aplaudido por doze minutos pelo público presente. Fora da premiação principal, o filme Baby (Vitrine Filmes), de Marcelo Caetano, participou da Semana Crítica de Cannes e retornou para casa com o Prêmio Revelação de Melhor Ator por Ricardo Teodoro, protagonista do longa.

Confira todos os filmes premiados pelo júri:

  • Palma de Ouro: Anora, de Sean Baker
  • Grand Prix: All We Imagine As Light, de Payal Kapadia
  • Prêmio do Júri: Emilia Pérez, de Jacques Audiard
  • Melhor Diretor: Grand Tour, de Miguel Gomes
  • Melhor Roteiro: The Substance, de Coralie Fargeat
  • Melhor Atriz: Adriana Paz, Zoe Saldaña, Selena Gomez e Karla Sofía Gascón, por Emilia Pérez
  • Melhor Ator: Jesse Plemons, por Kinds of Kindness
  • Prêmio Especial do Júri: The Seed of the Sacred Fig, de Mohammad Rasoulof
  • Melhor Diretor Estreante: Armand, de Halfdan Ullmann Tøndel
  • Melhor Diretor Estreante (Menção Especial): Mongrel, de Wei Liang Chiang e You Qiao Yin
  • Melhor Curta-Metragem: The Man Who Could Not Remain Silent, de Nebojša Slijepčević
  • Melhor Curta-Metragem (Menção Especial): Bad For a Moment, de Daniel Soares
  • Palma de Ouro Honorária: George Lucas

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