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14 Maio 2024 | Redação

Grandes nomes, ameaça de greve e volta do cinema brasileiro: 77º Festival de Cannes começa cercado de expectativas

Brasil volta a disputar a “Palma de Ouro”, principal premiação do evento, pela primeira vez desde 2019

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(Foto: Divulgação)

A 77ª edição do Festival de Cannes, um dos mais importantes eventos do cinema mundial, começou hoje (14) cercada de expectativas. Entre ameaça de greve por parte dos trabalhadores, aposta em grandes nomes como Francis Ford Coppola, Yorgos Lanthimos e David Cronenberg, e a volta de uma produção brasileira na disputa da Palma de Ouro, premiação mais importante do festival, foi dada a largada ao evento em que diversos filmes passam pelo crivo de profissionais do mundo inteiro e assim ganham a chance de ser distribuídos para diversos países, não apenas àqueles de suas origens. As informações são dos portais Indie Wire, The Hollywood Reporter, Celluloid Junkie, Estadão e O Globo.



O evento vai até o dia 25 de maio e, pela primeira vez desde 2019, o Brasil irá disputar a Palma de Ouro. A última vez havia sido com Bacurau (Vitrine Filmes), de Kleber Mendonça Filho e, neste ano, o diretor cearense Karim Aïnouz levará Motel Destino, seu oitavo longa de ficção, para a competição. O filme é um retrato íntimo de uma juventude que teve seu futuro roubado por uma elite tóxica e esmagadora, contra a qual a insurreição e a violência são, não raramente, a saída possível, e o estabelecimento de beira de estrada é, segundo o próprio diretor, "o principal personagem do enredo".

A disputa, entretanto, não será fácil, uma vez que Aïnouz terá concorrentes de peso como Francis Coppola, que levará Megalopolis para a competição. Para a produção do filme, inclusive, o diretor vendeu parte de uma vinícola na Califórnia e investiu aproximadamente R$ 600 milhões no projeto que narra a luta de dois homens para reconstruir uma metrópole em ruínas e estrelado pelo ator Adam Driver. Aïnouz, por sua vez, vale destacar que disputou a Palma de Ouro com Firebrand no ano passado, mas a produção não era brasileira.

A volta do Brasil ao festival, inclusive, foi celebrada por Thierry Frémaux, delegado-geral da premiação. Ontem (13), em coletiva de imprensa em que comentou a volta do cinema brasileiro a um lugar de destaque no festival francês, Frémaux fez críticas aos cortes de subsídios no cinema argentino promovidos pelo presidente Javier Milei e afirmou que o Brasil se movimenta na direção contrária. Para exemplificar, ele citou o filme Motel Destino, de Karim Aïnouz.

"No cinema brasileiro, algo está se movendo. Estou feliz em ver que [o presidente] Lula e a chegada de seu governo permitem que o cinema brasileiro esteja de volta", declarou.

Mas, além das grandes expectativas pela volta do Brasil a Cannes, o festival também começa cercado de tensões. O evento enfrenta a possibilidade de uma greve de centenas de trabalhadores autônomos durante sua 77ª edição, além da divulgação de um relatório acusando membros importantes da indústria cinematográfica do país de má conduta sexual.

O coletivo trabalhista, conhecido como Collectif Des Précaires des Festivals de Cinéma (Coletivo de Trabalhadores Precários em Festivais de Cinema), é formado por projecionistas, motoristas, fornecedores e demais funcionários do festival. Em uma campanha que chamaram de "Sous Les Écrans la Dèche", o grupo ameaçou sair em protesto contra as reformas trabalhistas propostas pelo governo francês que reduziriam significativamente os seus subsídios de desemprego. A principal reivindicação do grupo é contra as alterações no seguro-desemprego que o governo francês colocará em prática a partir de 1º de julho. O novo decreto deverá aumentar o número de horas que trabalhadores independentes devem acumular para se qualificarem para os subsídios de desemprego. Vale destacar que a maioria dos trabalhadores de Cannes são freelancers que dependem de empregos de curta duração durante eventos realizados em Cannes e em outros lugares da França.

Na coletiva realizada ontem, Frémaux afirmou que preferiria "ter um festival livre de polêmicas". Ele também expressou otimismo de que um acordo ocorrerá em junho. "Todo mundo quer evitar uma greve", disse ele. "Não queremos greve e eles não querem greve. Estamos conversando e trabalhando com eles e esperamos que as negociações sejam bem-sucedidas", completou.

Mas, além disso, como se as disputas trabalhistas não bastassem para dar dor de cabeça aos organizadores de Cannes, o festival se prepara para a publicação do que foi classificado como uma denúncia "bombástica" nomeando dez proeminentes atores, diretores e produtores franceses que enfrentam acusações de abuso sexual. Há rumores de que o meio de notícias investigativas Mediapart lançará o documento durante o festival. Em meio às tensões, o festival tem considerado várias medidas para lidar com possíveis acusações daqueles programados para participar do evento, incluindo a desqualificação de filmes da competição ou a proibição de indivíduos acusados ​​de comparecerem às estreias no tapete vermelho.

Entretanto, para além das polêmicas e ameaças de greve, neste ano Cannes apostará no prestígio de nomes como Coppola, Cronenberg e Yorgos Lanthimos. Prova da força do festival francês é que, no último ano, após vencerem respectivamente a Palma de Ouro e o Prêmio do Júri, Anatomia de Uma Queda (Diamond Films) e Zona de Interesse (Diamond Films) disputaram (e venceram) algumas das principais categorias do Oscar.

Nesse sentido, apesar de as greves em Hollywood no último ano terem atrasado o lançamento de diversas produções, Cannes é visto como um excelente lar de descobertas para diversas distribuidoras. Após a crise que atingiu o mercado cinematográfico em 2023, agora a busca do mercado tem sido pela qualidade, e não apenas pela quantidade. E, com Cannes cada vez mais no radar das premiações de Hollywood, além de Megalópolis na disputa pela Palma de Ouro, muitos olhos estarão voltados para Kinds of Kindness, do diretor de Pobres Criaturas (Disney), Yorgos Lanthimos, que também estará na disputa principal, e The Shrouds, do diretor canadense David Cronenberg.

Ao fim do evento, conheceremos os filmes do festival que receberão prêmios individuais e os 22 filmes que estão concorrendo à Palma de Ouro, maior honraria entre as mostras competitivas são: All We Imagine As Light (Payal Kapadia), Anora (Sean Baker), Bird (Andrea Arnold), Caught By The Tides (Jia Zhang-ke), Emilia Perez (Jacques Audiard), Grand Tour (Miguel Gomes), Kinds of Kindness (Yorgos Lanthimos), L'amour Ouf (Gilles Lellouche), Limonov - The Ballad (Kirill Serebrennikov), Marcello Mio (Christophe Honoré), Megalopolis (Francis Ford Coppola), Motel Destino (Karim Aïnouz), Oh Canada (Paul Schrader), Parthenope (Paolo Sorrentino), The Apprentice (Ali Abbasi), The Girl With The Needle (Magnus Von Horn), The Shrouds (David Cronenberg), The Substance (Coralie Fargeat), e Wild Diamond (Agathe Riedinger).

Também tem a seleção dos selecionados  na mostra Un Certain Regard, considerada a segunda mais importante de Cannes: Armand (Halfdan Ullmann Tøndel), Black Dog (Guan Hu), L’histoire De Souleymane (Boris Lojkine), Norah (Tawfik Alzaidi), Le Royaume (Julien Colonna), My Sunshine (Hiroshi Okuyama), On Becoming a Guinea Fowl (Rungano Nyoni), Santosh (Sandhya Suri), September Says (Ariane Labed), The Damned (Roberto Minervini), The Shameless (Konstantin Bojanov), The Village Next to Paradise (Mo Harawe), Viet And Nam (Truong Minh Quý), Vingt Dieux! (Louise Courvoisier), e Who Let The Dog Bite (Lætitia Dosch).

Você pode conferir a seleção completa de filmes e o cronograma no site oficial do Festival Cannes.

Brasil em Cannes

O Brasil não vence a Palma de Ouro desde 1962, quando O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, levou a honraria para casa. Mas, além de Motel Destino, o Brasil estará representado em Cannes por outras três produções. O documentário A Queda do Céu, sobre o povo Yanomami participa da Quinzena dos Realizadores, o filme Baby,de Marcelo Caetano, da Semana Crítica de Cannes, e Amarelo, Amarela, do diretor André Hayato Saito, foi selecionado para a competição de curtas. Mas, além da exibição das produções, outros nomes, através de diversas empresas e organizações também participarão do evento.

O Governo de São Paulo, por exemplo, levará uma comitiva com 12 empresas para o Festival de Cinema de Cannes. A missão empresarial é fruto dos esforços do CreativeSP, um programa da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado e da InvestSP, a agência de promoção de investimentos vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico. O CreativeSP selecionou dez empresas, são elas: Claraluz Filmes, Paranoid, Capuri, O Par Produções, More Than Filmes, Conspiração Filmes, Sam Ka Pur Filmes, Sincrônica Áudio e Comunicação, Poétika e Manjericão Filmes. Além disso, o CreativeSP apoia, em caráter especial, duas empresas que terão filmes exibidos no evento: a Gullane, uma das produtoras de Motel Destino, e Cup Filmes, uma das produtoras de Baby.

A Diamond Films, por sua vez, estará no festival com dois filmes selecionados e já adquiridos pela distribuidora. The Apprentice, compete pelo prêmio principal do festival e conta a história de como o jovem Donald Trump iniciou seu negócio imobiliário em Nova York durante as décadas de 1970 e 1980, e a distribuidora também trará para o Brasil The Surfer, que será exibido nas Sessões de Meia-Noite. Na trama, quando um homem retorna à sua cidade natal, na Austrália, para surfar com seu filho, ele é confrontado por um grupo de surfistas locais que reivindicam a posse da praia isolada onde ele costumava passar a infância.

A Spcine também marcará presença em Cannes com uma delegação que participará de agendas de encontros com produtores internacionais e realizará ações especiais com África, Ásia, América Latina e Europa. A delegação que é composta por cinco profissionais audiovisuais paulistanos, incluindo diretores, produtores e roteiristas, participa das atividades do Marché du Film, e a Spcine também realizou uma parceria com o Cinema do Brasil para essa participação em Cannes, que está levando 60 empresas brasileiras para o evento.

O Cinema do Brasil, que é um programa de promoção e internacionalização do cinema brasileiro que conta com 94 empresas associadas, entre produtoras, distribuidoras e festivais, também participará de Cannes apoiando o cinema nacional com três títulos nas mostras oficiais, além da participação no mercado de filmes. Para o evento, a equipe do Cinema do Brasil organiza uma agenda de eventos durante o Marché du Film com o objetivo de estimular a conexão entre a delegação brasileira e os atores internacionais. Essa agenda inclui encontros de coprodução, conversas com Fundos e festivais internacionais.

Por fim, a CEO e diretora executiva de Entretenimento da Barry Company, Juliana Funaro, também estará presente no Marché du Film levando três três projetos em busca de coprodução internacional, além do longa-metragem Uma Família Feliz, dirigido por José Eduardo Belmonte. Os projetos que visam à coprodução são Capão Pecado, Minha Sombra Usa Maquiagem e O Beijo Não Vem da Boca.

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