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07 Junho 2024 | Yuri Codogno

Viviane Ferreira: "O 'novo' pode ser questionável porque pode nos colocar eternamente no lugar de quem precisa aprender"

Cineastas debateram no Rio2C 2024 os novos olhares para o cinema independente

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(Foto: Divulgação: Rio2C/Martins)

"Fazer cinema é assumir uma escolha de vida, é sobretudo entender o país que vivemos, o que significa no nosso contexto escolher fazer cinema. Teve um tempo em que o ‘novo’, pelo nosso mercado, significava a forma mais colhida para dialogar com os audiovisuais afirmativos. Para nos manter afastados a possibilidade de acessar o recurso, nos põe o impulso de ‘novo’ e nos colocam no final da fila". 



Foi com essa frase que a cineasta Viviane Ferreira, diretora de Ó Paí Ó 2 (H2O Films) e ex-presidente da Spcine, abriu sua participação no painel “Novos Olhares para o Cinema Independente” no Rio2C 2024. Apesar do debate propor, em um primeiro momento, novidades para abordagem na criação de filmes, a profissional questionou o “novo” como uma questão dúbia. E não tem como dizer que ela está errada. 

Além de Viviane Ferreira, participaram do debate: Nara Normande, diretora do recém-lançado Sem Coração (Vitrine Filmes); Luciano Vidigal, diretor de 5x Favela - Agora é Por Nós Mesmos; e teve moderação de Galba Gogóia, diretora do curta-metragem Jessika

Viviane complementou: "O ‘novo’ pode ser questionável porque esse novo pode nos colocar eternamente no lugar de quem precisa aprender o que faz. Agora pensando hoje, com a mentalidade que espero que todos nós compartilhemos, venho refletindo novos olhares sobre as novas formas de fazer, inclusive sobre os novos desafios da linguagem. Penso em como nós estamos nos dedicando a ouvir aquilo que nossa audiência tem pedido e sinto que a audiência tem pedido mais a nossa presença em todos os elos, sejam as produções independentes ou não".

Moldando o debate a partir desse ponto, os participantes concordaram sobre como são colocados “dentro de uma caixa”, como se soubessem fazer somente conteúdos voltados à temática sobre questões afirmativas que os permeiam. Enquanto isso, o que esperam é receberem propostas para trabalhar em projetos gerais, como qualquer profissional merece. 

“Hoje consigo entender onde me colocam como diretor preto. Tem uma questão de afirmação muito forte, mas ao mesmo tempo é uma linha tênue. Mas eu não quero ser tratado especificamente como ‘diretor negro’”, ressaltou Luciano. Nara, por sua vez, seguiu uma linha parecida: “Não olham para meu olhar, apenas me chamam para falar de [filme de] lésbica”.

Além disso, os cineastas lembraram de um movimento comum que tem acontecido, que é serem convidados para integrarem editais apenas para cumprir uma cota social e a produtora envolvida ficar melhor quista, mediante tal situação. 

Galba e Viviane relataram como não aceitam esse tipo de proposta, mas a cineasta de Salvador apresentou um ponto para ser considerado, quando o assunto é serem identificados com um certo rótulo: “Hoje me sinto confortável de me identificar como uma integrante do cinema negro brasileiros, extamente porque entendo que isso é necessario para que eu continue fazendo [filmes] e outras pessoas parecidas comigo consigam fazer”.

Os palestrantes também abordaram sobre o que pode ser novidade - e potenciais tendências - no mercado, através de um olho mais técnico. Mas algumas dessas mudanças, de tentar narrativas mais brasileiras (e até mesmo afirmativas), são barradas pela indústria, dificultando o processo de experimentação. No final das contas, acaba sendo um dilema: emplacar algo novo vs. vender um projeto que não representa totalmente o autor, que no fim das contas é o que garante o cachê.

Em relação às estratégias, a mesa destacou a importância com diversas alianças, como ser diretor para uma produtora gigante, de um filme que não é de autoria própria. A regulação, nesse caso, é vista como algo importante, porque ajuda a garantir o direito à autoria da obra, que muitas vezes fica totalmente com a produtora. Independente disso, os palestrantes entendem que, mesmo sem os direitos, participar de projetos de outros é um bom jeito de ocupar mais lugares com suas vozes.

Mas quando se trata de uma produção autoral, mesmo que produzida por outra empresa, há outras dificuldades: a financeira e o tempo que leva para conseguir colocar um filme em exibição. “A gente passa mais tempo tentando vender [do que gravando]. Quando faz um filme, dá um certo desânimo, passa três ou quatro anos escrevendo o roteiro e depois lança. Aí meu filme [Sem Coração] lançou e fez 6.600 espectadores e é muito pouco. E então entra na Netflix, dá um bom retorno e nos levanta. Mas são muito altos e baixos. Acho que a indústria é muito tóxica, então preciso sempre encontrar pessoas que são interessantes e buscar essas parcerias", complementou Nara.

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