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07 Junho 2024 | Yuri Codogno

Soft Power e o poder da influência: "Transforma todos os produtos intangíveis em produtos tangíveis"

Especialistas debateram o assunto no Rio2C 2024

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(Foto: Portal Exibidor)

Se no ano passado o Soft Power foi o tema norteador do Rio2C, para a edição 2024 do evento o assunto continuou ganhando espaço, especialmente com o painel “Soft Power: O Patrimônio Cultural como Vetor de Promoção e o Desenvolvimento”. A mesa foi moderada por Fabio Cesnik, sócio do CQS/FV Advogados, e contou com a participação de Adriana Rouanet, diretora-executiva e co-fundadora do Instituto Rouanet; Leonardo Edde, vice-presidente da Firjan e sócio-fundador da Urca Filmes; Natale Onofre, presidente e gestora do Instituto Cultural Cidade Viva; e Christiano Braga, supervisor de audiovisual e economia criativa da Embratur.



Leonardo Edde abriu o painel com uma contextualização sobre o tema, definindo o soft power como o “poder da influência": “É uma forma de influenciar a vida, os seres humanos e as nações através principalmente da cultura, que é uma mistura de hábitos e costumes. Influenciar outras culturas com a nossa através do século, vai conquistando territórios a partir daí. Transforma todos os produtos intangíveis em produtos tangíveis”.

Na definição, o soft power é uma antítese ao chamado hard power, que é uma influência mais agressiva através da coerção e da indução, muitas vezes com imagens militarizadas. O soft power, por sua vez, suaviza essa influência através do desejo cultural.

Alguns exemplos mundiais foram citados, como a França e suas marcas que, só por serem francesas, são consideradas de luxo, como Chanel, Dior, Yves Saint Laurent, entre outras. Aliás, Luís XIV, monarca do país durante parte dos séculos XVII e XVIII, já havia antecipado essa tendência, como foi mostrado na apresentação: “Música, dança, arte, essas coisas podem mudar uma nação por dentro, podem afetar o coração e a mente das pessoas. Não podemos invadir o mundo, mas podemos ser o centro dele".

Medellín, antes conhecida por ser uma cidade extremamente violenta, hoje é exemplo de cidade criativa pela ONU, sendo que o município é um dos principais destinos do mundo para filmagens. A Coreia do Sul é outro país que, no final da década de 1990, começou seu movimento de exportar sua cultura. Inclusive, o movimento foi apelidado de Política Jurassic Park, pois o blockbuster tomou conta da imensa maioria das salas de cinema do país, fazendo o governo vigente perceber que, na época, estavam entrando mais produtos gringos do que saindo produtos coreanos para outros países. Hoje, a Coreia do Sul exporta de tudo: filmes, séries, tecnologias, maquiagens, músicas, etc.

E falando em blockbuster, não tem como não citar a maior potência de soft power no mundo: o “American Way of Life” dos Estados Unidos. O país trabalha o conceito com eficiência desde a segunda guerra mundial (1939-1945), especialmente através de Hollywood, com uma famosa frase servindo de exemplo: "as marcas vão onde os filmes vão". Por essa razão, o cinema é a quarta maior indústria dos EUA e podemos ver suas consequências em qualquer esquina, com produtos e propriedades intelectuais espalhadas pelo globo.

No Brasil, em um levantamento de 2020, o PIB criativo foi de R$ 217,4 bilhões, representando 2,9% de todo PIB daquele ano. Nesse ponto, vale lembrar que, apesar da indústria audiovisual ser a principal da economia criativa, que é uma base do soft power, ela pode ser divida em quatro vertentes: 

  • - Cultura: expressões culturais, música, artes cênicas, patrimônio & artes;
  • - Mídia: audiovisual e editorial;
  • - Tecnologia: pesquisa & desenvolvimento, biotecnologia, tecnologia da informação & comunicação;
  • - Consumo: arquitetura, design, moda, publicidade & marketing.

Um bom exemplo disso é o Instituto Cultural Cidade Viva, que tem 27 anos de atuação, com mais de 100 projetos realizados. "No ano passado, fomos convidados para abrir o fórum do patrimônio cultural do Vale do Café. Quando a gente fala em patrimônio cultural, a gente fala com o coração, vamos para nossa memória afetiva. E é algo que desperta esse olhar mais carinhoso", disse Natal Onofre, lembrando que é esse patrimônio cultural que costuma ser exportado no soft power.

E pensando no que o Brasil tem e que pode ser utilizado nessa expansão do soft power, podemos destacar o seu patrimônio (cultura, natureza e história), a vocação criativa (presença da indústria criativa em todo território nacional e tendência de crescimento do PIB criativo) e imagem e reputação (o resultado anual do índice de interesse internacional de 2023 aponta uma melhora da imagem internacional do Brasil). 

No ranking do soft power mundial, inclusive, o Brasil ficou em 31º lugar no ano passado, sendo o melhor país da América Latina, mas ainda com enorme potencial de crescimento. “O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo, a maior reserva de água doce não congelada, é o terceiro país mais competitivo em ecoturismo, o décimo em termo de turismo cultural, tem uma floresta que influencia no clima mundial. O meio ambiente é uma dimensão extremamente importante para o desenvolvimento do soft power internacionalmente".

E isso também se conecta com o audiovisual. Ano passado, o Brasil teve 5,9 milhões de turistas estrangeiros, 23% a mais do que em 2019 e quase 2% a mais que em 2014, ano da Copa do Mundo. E a maioria vem pelo turismo de lazer, que é o ambiental e o cultural. Christiano lembra que fortalecer a indústria cultural brasileira, especialmente o audiovisual, é uma das prioridades da Embratur: “Temos favorecido o audiovisual. São 100 mil turistas que viajam internacionalmente por causa dos filmes e séries, o turismo audiovisual é top dez de tendência no pós-pandemia. O Brasil tem potencial, desde que se pense em uma indústria audiovisual”.

Mas para que o audiovisual brasileiro possa ter ainda mais força em nosso soft power, são necessários investimentos. E aqui também entram leis de incentivo, como a Lei Rouanet, e o próprio Instituto Rouanet. Filha de Sérgio Paulo Rouanet, intelectual brasileiro que criou a legislação, que recebeu o seu nome como homenagem, Adriana é produtora cultural que promove a cultura brasileira na Europa, com exibição de entre 300 e 400 filmes fora do Brasil.

“Quando a gente fala em retorno, às vezes são projetos que não atraem interesse de grandes empresas. Mas pensa que aquilo vira um ativo, que está investindo no brasil, que está capacitando novos talentos que não teriam oportunidade sem projeto social, essas pessoas acabam devolvendo [o investimento] para a sociedade. E os projetos geram cidadania através da cultura, além de gerar a sensação de pertencimento”, explicou Adriana.

Aliás, ela ainda citou que a cada R$ 1 investido, o retorno através da Lei Rouanet é de R$ 1,59. Mas existem outros projetos sociais que podem potencializar esse retorno em até R$ 6,53.

Em uma dimensão mais ampla, para finalizar, outro dado importante foi apresentado por Leonardo Edde: para cada aumento de 15% na confiança da população, o crescimento econômico do país é de 1%, as exportações sobem 0,6% e o investimento estrangeiro aumenta em 3%.

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