07 Maio 2025 | Redação
Além da disputa pela Palma de Ouro, Brasil também marca presença em premiações paralelas e como parte do júri em Cannes 2025
Produções com relação com o Brasil também disputam prêmios do "Olho de Ouro", "Semana Crítica", e "Un Certain Regard"
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O cinema brasileiro, sem sombras de dúvidas, será um dos grandes protagonistas da 78ª edição do Festival de Cannes. Além de O Agente Secreto (Vitrine Filmes), de Kleber Mendonça Filho, que disputará a Palma de Ouro, e de ser o país de honra no Marché Du Film, o país estará representado em premiações paralelas do festival, como Olho de Ouro, Semana Crítica, e Un Certain Regard, e também terá representante na composição de júris.
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O momento, aliás, é super favorável às produções nacionais após o Oscar vencido por Ainda Estou Aqui (Sony) e a confirmação de uma produção brasileira disputando o principal prêmio de Cannes pelo segundo ano consecutivo.
O destaque do Brasil, entretanto, não para por aí. No dia 23 de abril a coprodução brasileira O Riso e a Faca, dirigida pelo português Pedro Pinho, e coproduzido por Tatiana Leite, da Bubbles Project, foi selecionada para a competição oficial do Festival de Cannes na mostra Un Certain Regard. O filme ainda conta com brasileiros no roteiro, fotografia, montagem e som, além do ator Jonathan Guilherme como um dos protagonistas da história.
O longa que terá sua estreia mundial durante o festival foi batizado a partir de uma música homônima do músico, cantor e compositor baiano Tom Zé e foi rodado na Guiné-Bissau e no deserto da Mauritânia entre fevereiro de 2022 e janeiro de 2024. No Brasil a distribuição da obra, que é fruto de uma parceria entre Portugal, Brasil, Romênia e França, e conta com 31 profissionais brasileiros na equipe, será feita pela Vitrine Filmes.
Além de integrar a segunda mostra mais importante de Cannes, com O Riso e a Faca, o Brasil também estará na disputa pelo Olho de Ouro com Para Vigo Me Voy!, que será exibido na seção Cannes Classics. O filme, que é dirigido por Lírio Ferreira e Karen Harley, com produção de Diogo Dahl, é uma homenagem a um dos cineastas brasileiros mais queridos em Cannes, Carlos Diegues.
O documentário, como dito anteriormente, é produzido por Diogo Dahl, da Coqueirão Pictures, em coprodução com Globo Filmes, GloboNews, Raccord, Sinédoque e Dualto Produções. A produção que disputará o prêmio de Melhor Documentário do evento é uma viagem cinematográfica pela trajetória do cineasta, revelando a capacidade única de capturar o espírito do tempo presente em suas narrativas. O filme que será distribuído pela Gullane+ ainda explora como as obras de Diegues refletem os traços da história brasileira nas últimas seis décadas, além de abordar aspectos íntimos de sua vida pessoal.
O protagonismo brasileiro em Cannes, entretanto, não para por aí. O curta Samba Infinito, de Leonardo Martinelli, foi anunciado como um dos escolhidos para a competição oficial da tradicional Semana da Crítica. O curta é uma produção entre Brasil e França, além de única produção brasileira selecionada entre 2.340 obras. Além disso, ela integra um grupo de apenas 10 produções que disputarão o prêmio principal do evento. A trama, que estreará durante o evento, é ambientada durante o Carnaval no Rio de Janeiro e conta com a atriz Camila Pitanga, e o ator e cantor, Gilberto Gil, que interpreta um bibliotecário.
A Semana da Crítica, aliás, foi criada pelo Sindicato Francês da Crítica de Cinema e é uma vitrine de novos talentos do Festival de Cannes, com foco exclusivo em primeiras e segundas obras de cineastas ao redor do mundo.
Mas, além da presença em competições, o Brasil também estará representado em um dos júris do festival. Depois de disputar o Queer Palm em 2024 com o filme Baby (Vitrine Filmes), o diretor Marcelo Caetano retorna ao Festival de Cannes como jurado do mesmo prêmio dedicado ao cinema LGBTQIA+. Criada há 15 anos, a premiação contempla produções de todas as mostras do festival e se destaca como uma das principais distinções do cinema queer no cenário internacional. O júri será presidido pelo cineasta francês Christophe Honoré e também contará com a jornalista Timé Zoppé, a compositora Leonie Pernet e a curadora Faridah Gbadamosi.
O Brasil tem mantido uma presença relevante na premiação: Bacurau (Vitrine Filmes) concorreu em 2019, Levante (Vitrine Filmes) em 2023 e o próprio Baby integrou a seleção em 2024. No ano passado, a diretora paulista Juliana Rojas compôs o júri da Queer Palm, reforçando o protagonismo brasileiro nas discussões sobre diversidade e representatividade no cinema.
Também comprovando o protagonismo do Brasil em Cannes, a Quinzena de Cineastas, considerada a principal mostra paralela ao festival, terá ampla participação do nosso país, mais especificamente do estado do Ceará. Quatro curtas-metragens produzidos no projeto Directors’ Factory Ceará Brasil, patrocinado pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura, serão exibidos na abertura da Quinzena, no dia 14 de maio. O diretor cearense Karim Aïnouz, que disputou a Palma de Ouro em 2024 com Motel Destino (Pandora Filmes), será o padrinho da edição deste ano do programa Directors’ Factory.
O programa tem como objetivo enfatizar a formação profissional de jovens realizadores, em uma perspectiva de internacionalização da produção audiovisual regional, e irá exibir os quatro curtas de jovens duplas de diretores que integram o Norte e Nordeste do Brasil com Cuba, Portugal, França e Israel.
Os curtas são A Fera do Mangue, de Wara (Ceará) e Sivan Noam Shimon (Israel); A Vaqueira, a Dançarina e o Porco, de Stella Carneiro (Alagoas) e Ary Zara (Portugal); Ponto Cego, de Luciana Vieira (Ceará) e Marcel Beltrán (Cuba); e Como Ler o Vento, de Bernardo Ale Abinader (Amazonas) e Sharon Hakim (França). Vale destacar que todos os filmes foram realizados em Fortaleza e envolveram diretamente mais de 100 profissionais cearenses de audiovisual, entre roteiristas, diretores, diretores de arte, produtores, fotógrafos, montadores, técnicos, motoristas, diversos fornecedores, além de grande elenco.
Ainda como País de Honra oficial do Marché Du Film, maior mercdo internacional da indústria cinematográfica, o Brasil terá 10 produtores representando o país durante a edição que visa destacar a vitalidade da indústria audiovisual brasileira, seus talentos criativos e seu compromisso com a cooperação internacional. A participação dos 10 profissionais foi organizada pelo Ministério da Cultura, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores, por meio do Instituto Guimarães Rosa (IGR) e da Embaixada do Brasil em Paris, além da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Os selecionados que farão parte de uma programação voltada à internacionalização e conexão com o mercado global são eles: Antônio Gonçalves Júnior (Grafo Audiovisual), Camilo CavalCanti (Clariô FIlmes), Diogo Dahl (Coqueirão Pictures), Ivan Carlos de Melo (CUP Filmes), Rafaella Costa (Manjericão Filmes), Gustavo Gontijo (O2 Filmes), Adrien Muselet (Paris Entretenimento), Dora Amorin (Zebra Filmes), Fernanda Thurann (Brisa Filmes) e Juliana Capelini (Conspiração).
Também nos programas do Marché Du Film, o Brasil estará presente com a exibição do documentário indígena Eu Ouvi o Chamado: O Retorno dos Mantos Tupinambá, dirigido por Robson Dias, Myrza Muniz e a líder indígena Célia Tupinambá, que narra a jornada da própria Célia, uma artista visual indígena, antropóloga e liderança reconhecida internacionalmente, em sua missão espiritual pelos museus europeus.
Ainda durante o Marché Du Film, o longa de realismo fantástico com temática antirracista Clarice Vê Estrelas aumentará ainda mais a participação e protagonismo brasileiro em Cannes. O longa que acompanha a jornada de autodescoberta de uma menina de oito anos que encontra um livro mágico, é fruto de uma parceria entre o atacante da seleção brasileira e do Real Madrid, Vinícius Júnior, e o ator Bruno Gagliasso, que são os responsáveis pela produção.
Por fim, para coroar a participação brasileira em Cannes, a diretora brasileira Marianna Brennand foi escolhida como vencedora do Women In Motion Emerging Talent Award 2025, iniciativa da Kering em parceria com o Festival de Cannes. O anúncio será celebrado durante o tradicional jantar oficial do programa em Cannes. A cineasta foi indicada pela malaia Amanda Nell Eu, premiada na edição anterior, seguindo a tradição do prêmio, em que cada laureada escolhe sua sucessora. Além do reconhecimento, Brennand receberá uma bolsa de €50.000 para o desenvolvimento de seu segundo longa-metragem de ficção.
Em 2025, quando o programa Women In Motion celebra 10 anos de reconhecimento às mulheres na sétima arte, a Kering reafirma seu compromisso com a promoção de novos talentos femininos, expondo desigualdades persistentes na indústria cinematográfica e além, e contribuindo para a mudança de mentalidades e práticas, oferecendo um impulso adicional às carreiras de mulheres cineastas. Refletindo uma evolução real, porém lenta e desigual, a participação de diretoras entre os 100 filmes de maior bilheteria nos Estados Unidos aumentou de 7,5% em 2015 para 13,6% em 2024.
Brennand receberá o prêmio por ter dirigido o filme Manas (Downtown/Paris), seu primeiro longa, que chega aos cinemas brasileiros em 15 de maio. "Manas existe porque, para mim, é imperativo dar voz a mulheres e meninas que, de outra forma, não seriam ouvidas. O reconhecimento que este prêmio traz não só amplifica nossas vozes, mas também nos lembra da importância de mulheres dirigirem filmes sobre mulheres. Receber este prêmio das mãos da diretora Amanda Nell Eu, cujo trabalho é tão singular e corajoso, me emociona profundamente", destacou a diretora brasileira.
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