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29 Maio 2025 | Yuri Codogno

Brasil tem chance de ouro para exportar produções à China, maior parque exibidor do mundo: "Muito abertos ao nosso cinema"

Nova política chinesa coloca Brasil, como membro do BRICS, dentro da cota de produções cinematográficas locais na China

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(Foto: Divulgação)

Neste ano, mais do que nunca, o mercado asiático está se mostrando uma grande potência audiovisual e grande prova dessa força é a animação chinesa Ne Zha 2 que, com uma arrecadação global de mais de US$ 2 bilhões, se tornou a maior bilheteria de 2025 até o momento. Para debater sobre as possibilidades de exploração desse potencial, o Rio2C 2025 promoveu o painel "Oriente Criativo: Revelando o Potencial Audiovisual Asiático" sob mediação de Dani Tolomei, CEO da plataforma Transforma, e com participação de Nelson Sato, CEO da Sato Company, João Amorim, sócio-diretor da Amorim Filmes, e Isabel Chung, Gerente de Projetos da Kocca Brasil.

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O cenário mundial atual, aliás, oferece ao Brasil uma grande oportunidade de explorar esse mercado, sobretudo na China. Com quase 90 mil salas de cinema, o parque exibidor chinês é o maior do mundo e uma mudança na política local abre espaço para o Brasil se aproveitar - e muito - desse mercado. Assim como no Brasil, na China também existe uma espécie de "Cota de Tela", mas o percentual é de 90% para produções locais e apenas 10% para produções estrangeiras. Para se ter uma ideia, em 2023, por exemplo, foram lançados 971 filmes no país, dos quais 901 eram produções chinesas e apenas 70 eram estrangeiras.

"Estive na China em 2024 junto com o Ministério da Cultura e, nessa oportunidade, o governo chinês nos respondeu e tive acesso a algumas informações. Mesmo com quase 90 mil salas de cinema, enquanto o Brasil tem apenas 3.600 telas, eles têm uma meta de abrir mais 4 mil telas por ano porque o governo quer levar cultura para a população através do cinema", destacou Nelson Sato.

A oportunidade de mercado que se apresenta ao Brasil, como dito anteriormente, é o fato de a nova política chinesa incluir no percentual de 90% de obras locais as obras de todos os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã). Sendo assim, o Brasil ganharia muito espaço para suas produções no maior parque exibidor do mundo sem a necessidade competir por apenas 10% das telas do país com todos os outros países do mundo.

"Os chineses têm interesse em diminuir a presença do cinema norte-americano no mercado interno e o Brasil, como um país amigo e que faz parte dos BRICS, pode se aproveitar. Os chineses estão muito abertos para produções brasileiras e gostariam de conhecer mais nossa cultura, então existe essa oportunidade", completou Sato.

João Amorim, que além de sócio da Amorim Filmes também é diretor de documentários e animações, já está explorando essa oportunidade. Desde 2021 ele começou a trabalhar com coproduções com foco no mercado chinês em parceria com a China Media Group e, há um ano e meio, com uma equipe no Brasil e outra na China, está desenvolvendo a animação Amazonika, A Origem, um filme que fala sobre a Amazônia pré-histórica. Os chineses quiseram a inclusão do panda HoHo entre os personagens da animação e isso, inclusive, deu origem a um outro projeto que é uma série animada de quatro temporadas chamada HoHo e o Som do Brasil, que além do simpático panda conta com animais brasileiros, como a capivara e o mico-leão-dourado.

"O HoHo faz parte de uma franquia chinesa que tem mais de dez coproduções internacionais. Para esse trabalho de coprodução com foco no mercado chinês, a gente também precisa entender as diferenças culturais e o que temos em comum para contarmos juntos a história e fazer ela funcionar no mercado chinês, que é enorme. Nós precisamos entender esse mercado e temos que explorar diferenças e coisas em comum para as histórias funcionarem em ambos os países", pontuou o cineasta.

Mas, para além do mercado chinês, Coréia do Sul e Japão são locais com muito potencial a ser explorado e, nesse contexto, a Kocca iniciou sua atuação no Brasil. A Kocca (Korea Creative Content Agency) é uma agência do governo sul-coreano subordinada ao Ministério da Cultura, Esportes e Turismo. Com 20 filiais espalhadas pelo mundo, a Kocca chegou ao Brasil em 2024 para gerenciar, apoiar, fomentar e nutrir conteúdos da indústria coreana. O audiovisual, especificamente, representa 20% do orçamento total da agência estatal. O conteúdo coreano tem força para viajar por todo o mundo, com apoio do governo junto à iniciativa privada, e isso se traduz em ganhos econômicos para diversos setores através do soft power, que é o poder de influência.

"Hoje todo mundo experimenta comida coreana e existe um fomento geral na economia. Função não é só audiovisual, mas é soft power e o audiovisual é um meio de conseguir expansão da cultura. Pequenos produtores independentes brasileiros podem utilizar a Kocca como uma ponte para produtores coreanos e também para eventos. Lá temos o BCWW, que é um evento gigantesco que reúne produtores do audiovisual e podemos fazer contatos até para levar uma delegação brasileira para negociar diretamente. A Kocca foca em produtoras pequenas porque grandes players, por si só, encontram seus mercados. Nós temos uma rede muito bem estruturada para fazer a ponte com produtoras da Coréia", explicou Chung.

Por fim, em relação ao mercado japonês, Nelson Sato anunciou que a Sato Company adquiriu o IP Jaspion para produzir um longa-metragem do herói japonês no Brasil com previsão de concluir o projeto em dois anos. A Sato Company, aliás, é referência na distribuição de animes e tokusatsu no Brasil e, com uma série de lançamentos asiáticos para chegarem ao Brasil neste ano, também afirmou que 22 obras do Studio Ghibli, muitas delas exibidas pela primeira vez no Brasil, estarão presentes no Ghibli Fest, que acontece neste ano.

"O Brasil pode ser protagonista para contar histórias que dialogam com o Oriente e co-criar mundos. O mercado asiático, e principalmente o chinês, são gigantescos. Atender pedidos dos chineses é inteligente e basta saber adaptar para virar comercial", encerrou Sato.

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