30 Maio 2025 | Gabryella Garcia
Diferentes modelos de streaming disputam mesmo espaço na briga por audiência: "Olham para o mesmo pote de dinheiro"
Modelos TVOD, SVOD e AVOD entram em "guerra" para reproduzir estratégias de sucesso de monetização de outros modelos
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O streaming é um dos temas mais pertinentes do setor audiovisual na atualidade, inclusive pela falta de uma legislação específica no Brasil. Movimentando bilhões de reais em todo o mundo, a força econômica desse modelo de negócio foi tema do painel "A Economia do Streaming" durante o Rio2C 2025. O bate-papo contou com importantes insights de Fábio Lima, CEO da Sofa Digital, Adriana Neves, Diretora de Distribuição de Conteúdo LATAM da Roku Inc., e Maurício Fittipaldi, advogado e sócio da CQS/FV Advogados.
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Um ponto importante a ser ressaltado é que a economia do streaming é muito ligada a teoria da cauda longa, que traz três pontos principais:
- - A cabeça, que se refere a quantidade de produtos a serem monetizados
- - A cauda espessa, representada por conteúdos independentes ou aqueles que são blockbuster regionais e locais
- - A cauda longa, com conteúdos de nichos e catálogos
A teoria da cauda longa ainda divide os modelos de negócios dos streamings em quatro diferentes segmentos, de acordo com a forma de monetização:
- - TVOD: modelo de streaming onde o usuário paga por cada conteúdo individual, como filmes ou episódios, ao invés de uma assinatura mensal. Ex: iTunes, alguns eventos pay-per-view e determinados conteúdos da Apple TV e Amazon Prime Video.
- - SVOD: modelo onde os usuários pagam uma taxa de assinatura recorrente para ter acesso ilimitado a um catálogo de conteúdo. Ex: Netflix, Disney+, Max, e Amazon Prime Video.
- - AVOD: acesso ao conteúdo é gratuito ou de baixo custo, sendo suportado por publicidade. Ex: YouTube.
- - FAST: uma alternativa à TV paga tradicional e serviços de streaming por assinatura, oferece canais ao vivo com uma grade fixa sustentada por anúncios e publicidade. Ex: TV linear com canais que exibem conteúdo continuamente.
De acordo com Fábio Lima, a teoria da cauda longa ainda apresenta três forças que são perenes: o barateamento da produção, com câmeras digitais, softwares e ferramentas de automação, além de inteligência artificial; barateamento da distribuição, através de serviços e plataformas como YouTube, iTunes Movies, Netflix, Prime Video, Roku, e redes sociais; e curadoria, que faz esse trabalho através de plataformas como Filmelier, MUBI, Letterbox, JustWatch, e também influencers.
"Essa etapa da curadoria é também responsável pelo que chamamos de paradoxo da escolha, porque à medida que muito conteúdo é ofertado, as pessoas 'paralisam' para escolher. Se há muitas ofertas, o usuário paralisa, desiste ou acaba optando por um conteúdo confortável. Na falta de saber o que escolher, acaba escolhendo o que todo mundo assiste. Prova disso é o top 10 das plataformas, que significam uma espécie de aprovação social para aquele conteúdo. Mais opções não significam necessariamente mais liberdade porque isso causa uma dificuldade em escolher o conteúdo. O excesso de oferta limita a atenção e gera frustração e abandono para o consumidor", explicou o CEO da Sofa Digital.
Lima também destacou que a produção desenfreada de conteúdo por parte das plataformas e serviços de streaming "esticam ainda mais a cauda que já é longa" e, por isso, é necessário baratear a distribuição. Esse processo começou nos anos 2000 com o YouTube e, posteriormente, a Roku.
"O valor de entretenimento desses conteúdos é a soma do valor social e da relevância social. Relevância social e valor social são as coisas que mais fazem as pessoas engajarem um conteúdo e altos níveis dessas métricas costumam possuir um valor de produção menor, como Instagram e TikTok. O chamado Big 6, que são os cinco grandes estúdios de Hollywood mais a Netflix, têm menos relevância social e um valor de produção muito maior", completou.
Nesse cenário com uma ampla oferta de opções ao usuário, Maurício Fittipaldi apontou que o próprio conceito de TV e o que é streaming começam a se confundir e entram em disputa porque as plataformas com menor monetização buscam a todo instante avançar para o espaço do outro.
"A medida que todo o ecossistema se interessou pela receita de publicidade, surge o interesse do YouTube ocupar o espaço da TV, que tem um valor agregado maior, ao mesmo tempo que outros serviços querem utilizar talentos, linguagem e a cara de plataformas como YouTube para se manterem relevantes. O YouTube, por sua vez, está cada vez querendo ser mais TV e Netflix, usando cada vez mais criadores. Embora a 'cauda' tenha mais conteúdo e menor valor agregado hoje, todo mundo olha para o mesmo pote de dinheiro, que são os anunciantes, e um quer virar um pouco do outro. Isso embaralha as cartas do jogo", disse Fittipaldi.
Além dessa guerra por espaço, hoje é consenso que as plataformas ganham mais valor não pelo seu conteúdo, mas por poderem controlar a interface com o usuário e, quem agrega demanda, acaba controlando quem produz conteúdo com as plataformas definindo o que vai ganhar mais exposição. Ao contrário do passado recente, a quantidade de assinantes ou o watching time da plataforma deixaram de ser a métrica mais importante e deram espaço à chamada monetização por hora onde, na prática, cada hora de conteúdo consumido gera um valor.
No Brasil, entre 20 e 30 milhões de pessoas pagam por conteúdo hoje em dia, seja em cinemas, streaming ou outros produtos e serviços. E, dentro do mercado de streaming, o modelo TVOD é o que tem maior monetização por hora, conforme é possível conferir abaixo:
- - TVOD: gera R$ 10,00 para cada hora de conteúdo consumido
- - SVOD: gera R$ 10,00 para cada 100 horas de conteúdo consumido
- - AVOD/FAST: gera R$ 10,00 para cada 1.000 horas de conteúdo consumido
Fittipaldi também destacou que hoje os conteúdos de formatos longos possuem maior valor agregado e, no YouTube, por exemplo, esse formato já representa grande parcela dos conteúdos. Esse formato também tende a ser cada vez mais artístico, enquanto formatos curtos e de creators tendem a ser cada vez mais sintéticos e se utilizarem cada vez mais da inteligência artificial. Além disso, atualmente há uma forte tendência de modelos SVOD entrarem na disputa por direitos de transmissão de conteúdos e eventos esportivos, pois isso gera muita receita de publicidade.
Diretora de Distribuição da Roku, Adriana Neves destacou que a plataforma que já é o serviço de streaming número 1 nos Estados Unidos, México e Canadá, se propõe a ser uma agregadora de conteúdo acessível e, visando um processo de expansão no Brasil para gerar maior monetização, também passa a trabalhar na área de Fast Channels.
"No mês passado, lançamos nossa área FAST e temos hoje 30 canais com a pretensão de crescer ao longo do tempo. Depois de chegar aqui em 2020, hoje o Brasil é o mercado foco da Roku e estamos em uma fase interessante de entrada na monetização. O canal Adrenalina Pura TV também será levado ao exterior pela Roku e isso cria uma exposição maior e abre mais oportunidades de monetização para o parceiro. Quando aumentamos a penetração, começamos a trabalhar a parte da monetização. Temos todos os tipos de assinatura SVOD e AVOD e agora, com a entrada do modelo FAST, também teremos a parte da publicidade. A Roku é expert em trabalhar formatos diferenciados e a tendência agora para o Brasil é trazer muitas novidades até o final do ano, mas continuamos com o foco de ser um agregador e gerar resultados para nossos parceiros. O Brasil tem muita demanda e uma sede de inovação muito legal", explicou.
Ao final do painel, Fábio Lima ainda destacou que o Brasil em breve se tornará o terceiro maior mercado de FAST do mundo em termos econômicos e que, hoje, a Sofa Digital possui mais audiências em canais de filmes do que todos os canais do segmento da TV paga somados como Telecine e HBO. "Existe o desafio de conseguir monetizar na mesma intensidade da audiência e isso leva um tempo. Nos Estados Unidos, por exemplo, já existe a produção de conteúdos originais e exclusivos para canais FAST e é um caminho interessante para monetização, se tornando até uma possível terceira janela para uma produção de um produto premium, além de um espaço para conteúdos originais, frescos e inéditos", finalizou.
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