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02 Julho 2025 | Redação | Entrevista: Yuri Codogno

CineEurope 2025 focou no atual momento do mercado, no cliente como centro do negócio e apresentou novas soluções em tecnologia

Mercado não mostrou preocupação em projetar o futuro e trouxe soluções que incluem até o uso de inteligência artificial

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(Foto: Divulgação)

O CineEurope 2025, um dos maiores eventos do mundo voltado para o mercado cinematográfico, aconteceu entre 16 e 19 de junho em Barcelona e, ao invés de se lamentar pelo passado ou projetar o futuro, focou suas discussões em soluções que podem impactar o atual momento da indústria. Colocando a experiência e fidelização do público como principal ponto norteador, o CineEurope apresentou novas soluções tecnológicas ao público presente, incluindo a utilização de inteligência artificial.



Kauê Ferraz, diretor de desenvolvimento de negócios do Grupo Consciência, esteve em Barcelona e destacou que, apesar dos cinemas europeus terem apresentado uma queda de 2,6% na venda de ingressos no ano de 2024, não houve um clima de lamentação. Tampouco houve projeções para o futuro, com o foco das discussões no presente e no que pode ser feito hoje para melhorar a situação do mercado.

"Diferente das discussões da CinemaCon, por exemplo, ou mesmo do mercado brasileiro, que se fala muito de perspectiva e expectativa, que se olha muito para o que vem por aí em dois ou três anos, o clima que senti na CineEurope foi de certa maneira oposto. A sensação que tive é que ninguém está preocupado em como vai ser daqui dois anos ou com os resultados que aconteceram, está todo mundo trabalhando para fazer o melhor hoje. Ficar discutindo perspectiva por perspectiva, sabemos que isso é muito dependente do conteúdo, que é algo que foge do controle principalmente no mercado de exibição. A distribuição ainda tem alguma ingerência sobre o conteúdo, mas sabemos que filmes levam alguns anos para serem produzidos. O clima lá era de realidade e vivência presente, e não de futuro ou passado. É um evento que traz muito mais pragmatismo, muito mais soluções aplicáveis e muito mais olhar para o negócio do cinema, e muito menos troca de farpas entre exibidores e distribuidores", destacou Ferraz.

Focando em soluções para o presente, sobretudo colocando o cliente como centro das discussões, algumas empresas fizeram anúncios e apresentaram soluções que, sem dúvidas, podem impactar na melhoria das vendas. A Cineville, por exemplo, uma empresa holandesa que funciona como uma espécie de serviço de bilheterias de filmes por assinatura, criou uma carteirinha de membro que é uma espécie de modelo de assinatura no qual o membro pode assistir de maneira ilimitada em todos os cinemas que são partes dessa assinatura, incluindo cinemas de diferentes redes. Hoje, por exemplo, a Cineville trabalha com mais de 80 cinemas espalhados pela Europa em pelo menos quatro países.

"Eles criaram essa carteirinha para estimular principalmente gerações mais novas a conhecer novos conteúdos e criar esse hábito de cinema. 80% dos associados dessa solução, por exemplo, são menores de 35 anos, então estão trabalhando naturalmente na construção de público e naturalmente eles entendem que isso trará um resultado não só no presente, mas também no futuro", disse o diretor do Grupo Consciência.

Outro exemplo apresentado foi de uma empresa chamada Cinematastic, onde basicamente criam games e focam a propaganda e a publicidade no cinema, muito com foco em atração da geração Z. A Cinematastic já opera há dez anos na Nordisk Cinemas, a maior rede de cinema norueguesa, e conta com o suporte de um patrocinador para custear a criação desse game. Em contrapartida, esse patrocinador tem a marca dele exposta e isso ajuda a construir uma relação com o consumidor.

"Hoje a geração Z já está muito acostumada a ser impactada por mídia em jogos como Roblox, Minecraft, Stumble Guys e muitos outros, e se já estão acostumados com essa forma, eles criaram uma espécie de gameficação da publicidade e isso já mostrou resultados. Só no último ano eles tiveram um crescimento de mais de 27% desse público nas idas ao cinema", completou Ferraz.

Essa solução funciona com o espectador baixando o aplicativo da empresa ao chegar no cinema, e antes de o filme ser exibido aparece um código na tela do cinema. Basta a pessoa colocar esse código no aplicativo que baixou e seu avatar irá aparecer na tela do cinema, junto com todos os outros avatares e outras pessoas que estão naquele cinema. A partir daí todos acessarão o game para um jogo que leva entre 4 a 6 minutos e, ao final do jogo, onde a marca patrocinadora aparece algumas vezes, o vencedor pode ganhar uma pipoca, um ingresso ou algum benefício nesse sentido.

Um dos temas que mais gera discussão dentro da indústria atualmente também não ficou de fora, e obviamente o uso de inteligência artificial foi tema de discussões. Mas, ao invés de focar a discussão no uso da tecnologia para produções, a inteligência artificial foi colocada como uma possível aliada de exibidores. Uma empresa de tecnologia, por exemplo, apresentou uma solução na qual a inteligência artificial faz a pré-programação do cinema baseada no comportamento dos próprios consumidores e dos títulos disponíveis pelo cruzamento de dados, gerando um pré-mapa que ajudará o programador de cada cinema fazer os ajustes necessários de acordo com o que faça sentido para o seu negócio.

Por fim, a sensação que a CineEurope deixou no público foi sobre a necessidade de colocar o cliente no centro das discussões e, mais do que tudo, buscar soluções em conjunto no presente para que os resultados sejam satisfatórios para a cadeia cinematográfica como um todo.

"O CineEurope não é um evento criado em torno do line-up, é criado em torno do negócio e as discussões são muito menos sobre filmes e muito mais sobre o negócio do cinema e como construir soluções e evoluções. Para dizer algo específico da CineEurope que poderia ser importado para o Brasil visando melhorar a nossa indústria seria a visão do cliente no centro de tudo. Acho que esse é o principal conceito que deve ser importado e, apesar de termos redes exibidoras que colocam o cliente no centro, isso ainda não está no DNA do mundo de exibição no Brasil", finalizou o diretor do Grupo Consciência.

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