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23 Julho 2025 | Gabryella Garcia

Produtora Estricnina vê mercado de animações "amadurecido" no Brasil: "Queremos ser uma referência global"

Estricnina tem expectativa de levar o universo de "Gigablaster" para os cinemas

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(Foto: Divulgação)

Com praticamente duas décadas de atuação, a Estricnina é uma das mais importantes produtoras de animação do Brasil e, com produções no currículo que a ajudaram a se estabelecer no mercado, agora pretende levar a série Gigablaster, um de seus maiores sucessos, para os cinemas. Em entrevista exclusiva ao Portal Exibidor, Cazé Pecini, sócio-fundador da produtora, destacou que o mercado interno brasileiro já está amadurecido.

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O momento para produções brasileiras ganharem o mundo, aliás, é bastante propício. Além das vitórias de Ainda Estou Aqui (Sony) no Oscar, de O Último Azul (Vitrine Filmes) em Berlim, e O Agente Secreto (Vitrine Filmes) em Cannes, animações brasileiras também estão ganhando o mundo. Em 2025, no Festival de Annecy, o curta Sappho, de Rosana Urbes, conquistou o Prêmio Alexeïeff–Parker. Além disso, no mês de maio, a série Irmão do Jorel venceu o Prêmio Quirino de Melhor Série de Animação Ibero-Americana, nas Ilhas Canárias.

"É um momento muito favorável para a internacionalização da animação brasileira. Os recentes destaques do Brasil em premiações reforçaram a percepção de que temos uma linguagem própria, criativa e tecnicamente sólida. Isso desperta o interesse de players internacionais, que estão abertos e curiosos para conhecer novas histórias e estéticas. Tudo isso mostra que o Brasil não está para brincadeira. Temos histórias potentes e um mercado interno amadurecido, o que abre caminho para expandir nossas produções para o mundo, com força e identidade", destaca Pecini.

O mercado brasileiro, na visão de Pecini, está mais amadurecido e conta com maiores investimentos, estúdios estruturados e demanda crescente por conteúdo original. Porém, apesar do momento mais favorável do que outrora, a captação de financiamento e a questão da monetização podem se colocar como entraves para um crescimento maior.

"A dependência de leis de incentivo continua alta, e a previsibilidade de receita é um desafio que impacta a sustentabilidade dos estúdios no longo prazo. Além disso, o fim da publicidade direta para crianças, uma medida essencial para proteger a infância, deixou um vácuo sem alternativas tão eficientes de financiamento para produções infantis. Encontrar modelos de negócios que equilibrem qualidade, sustentabilidade e impacto positivo é hoje um dos grandes desafios do setor. Apesar disso, o potencial da animação brasileira é enorme, e cada projeto que consegue atravessar essas barreiras ajuda a abrir caminho para o mercado como um todo", avaliou o sócio da Estricnina.

Em relação a internacionalização de animações brasileiras, ele destaca que a principal dificuldade está em tornar nossa cultura e humor locais acessíveis e compreensíveis para diferentes públicos, mas sem perder a originalidade. Nesse cenário, construir histórias que consigam atravessar barreiras culturais se torna um grande desafio, além do tratamento dado pelas próprias distribuidoras para esse tipo de conteúdo.

"Um ponto de atenção é convencer as distribuidoras a priorizarem a venda de animações brasileiras no exterior. Muitas operam com equipes e verbas enxutas e acabam concentrando esforços em conteúdos já consolidados lá fora, como novelas. A animação, no entanto, tem potencial de viajar com mais facilidade quando conta com estratégia própria e planejamento de mercado", disse Pecini.

Diante do amadurecimento alcançado pela indústria e do momento favorável, a Estricnina, aliás, pretende levar um de seus maiores sucessos para os cinemas. A série Gigablaster, atualmente exibida pelo Gloob, já conta com 104 episódios e, além do Brasil, também já tem exibição confirmada em Portugal, Israel, Itália e Singapura. Com as quinta e sexta temporadas chegando à TV neste segundo semestre, Pecini também revelou os planos de levar esse sucesso para as telonas.

"A cada temporada, buscamos renovar a linguagem, atualizar elementos visuais, ampliar o universo e inserir novas situações e personagens para continuar surpreendendo. Queremos expandir o universo de 'Gigablaster' para o cinema", disse.

Essa expansão para o cinema, inclusive, exige um olhar diferente para as animações. Pecini pontuou que o cinema requer uma estrutura de investimento e retorno mais arriscada, enquanto séries animadas para TV e streaming oferecem mais estabilidade e previsibilidade, principalmente para quem trabalha com continuidade e construção de público. Além disso, os editais de fomento voltados para o cinema, na visão do executivo, costumam ter valores defasados, enquanto editais voltados para séries têm orçamentos mais alinhados à realidade de produção.

"O cinema é mais arriscado, mas, quando dá certo, traz uma visibilidade única e um prestígio que podem impulsionar o estúdio e os profissionais envolvidos. Uma série bem-sucedida, por sua vez, cria uma base de fãs que, no futuro, pode sustentar o salto para o cinema de forma mais sólida. Por isso, muitos estúdios acabam priorizando séries como um caminho de formação de público, geração de receita recorrente e consolidação de marca, antes de partirem para o cinema, que, apesar de mais desafiador, é um passo importante na expansão e internacionalização do conteúdo", refletiu Pecini.

Além da expansão do universo Gigablaster para os cinemas, também fazem parte dos planos futuros da produtora o lançamento de novas séries originais voltadas ao público infantojuvenil e jovem adulto, explorando gêneros como aventura e ficção científica, um revival de Fudêncio e Seus Amigos, que completará 20 anos, e alguns novos projetos para streaming e TV, além de formatos experimentais como curtas e híbridos com live action.

"Nosso objetivo é transformar a Estricnina em uma referência global de animação, reconhecida pela ousadia e pela qualidade técnica e artística, mantendo o humor, o afeto e o olhar curioso que marcam nosso trabalho. O futuro da Estricnina passa por colaborações com parceiros regionais, sobretudo, fora do eixo Rio-São Paulo, e pela coragem de transformar boas ideias em animações memoráveis, levando a animação brasileira cada vez mais longe", finalizou.

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