28 Julho 2025 | Redação
Através de novo projeto social, cineasta neurodivergente transforma o cinema em território de resistência e inclusão
Ator e cineasta criou o MOVA (Movimento Nacional do Audiovisual) e comenta seus projetos dentro do setor, que incluem três longas nacionais
Compartilhe:

O cineasta, roteirista e ator Tico Barreto há duas décadas rompe barreiras no audiovisual brasileiro e, neurodivergente e pessoa com deficiência (PCD), sua trajetória é marcada pela inclusão, pela experimentação estética e por uma militância que atravessa as telas e os bastidores. Mas, visando melhorar a representatividade do setor e democratizar o acesso ao cinema, Tico fundou o MOVA (Movimento Nacional do Audiovisual), rede apartidária que ele mesmo lidera e que objetiva conectar profissionais da cultura e melhor a inclusão no mercado.
Publicidade fechar X

Pensado como um hub criativo, o MOVA atua como ponte entre talentos de diferentes regiões do país. A proposta inclui oficinas, formações e metodologias colaborativas que buscam transformar cidades em polos “film friendly”, onde a produção audiovisual é parte ativa da vida urbana. Essa lógica se reflete na obra do próprio cineasta, que está desenvolvendo três longas-metragens voltados a temas sociais e sensíveis, como Fuzileiro em Alta Voltagem, uma ficção afrofuturista ambientada em 2050, A Vida é uma Pessoa Difícil, que trata de saúde mental, sexualidade e exclusão e Aeroponto, baseado em fatos reais ocorridos em Guarulhos.
“Nosso propósito é transformar editais, estimular inovação e dar voz a pessoas que normalmente estão fora do circuito tradicional do cinema”, explicou o fundador da MOVA, em nota enviada à imprensa.
Formado em teatro pelo TUSP (Teatro da Universidade de São Paulo) e com passagens por cursos de Fátima Toledo e Sérgio Pena, Tico Barreto também atuou nos bastidores do cinema como assistente de produção e direção. Ao longo da carreira, passou a questionar os métodos tradicionais da indústria, especialmente os testes de elenco, que considera despreparados para lidar com a sensibilidade e a diversidade de artistas neurodivergentes. Como resposta, desenvolveu processos próprios, mais acolhedores, que valorizam a subjetividade dos participantes.
“Os testes costumam ser ambientes hostis, pouco preparados para lidar com a diversidade emocional e comportamental dos atores. Como pessoa autista, muitas vezes fui visto como inábil ou inadequado, mesmo tendo preparo técnico. Isso me levou a desenvolver meus próprios métodos, mais respeitosos e orgânicos”, explicou o cineasta.
A crítica também se estende aos editais de fomento, cuja linguagem técnica e rígida tende a excluir projetos inteiros por falhas mínimas ou por formatos pouco acessíveis a quem tem outra forma de processar informações, como observou: “A linguagem dos editais é confusa e excludente. Para quem tem um modo diferente de processar informações, isso vira uma barreira quase intransponível. E basta um erro de digitação ou uma expressão fora do padrão para você ser descartado”.
Em paralelo ao avanço de iniciativas como a Pesquisa Nacional de Acessibilidade nos Cinemas, Barreto defende que a verdadeira inclusão começa antes da exibição e passa por mais diversidade na autoria, na produção e na tomada de decisão. Para Tico, o cinema do futuro será mais plural, mais sensível e mais real.
Compartilhe:
- 0 medalha